Por que o Manchester United não tem chance na Premier League com Solskjaer

Desde que Ole Gunnar Solskjaer se tornou o treinador do Manchester United, existe uma tendência para dramatizar todos os resultados das partidas; exagerar os defeitos do time após cada derrota e proclamá-los futuros campeões após cada vitória.

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Isso acontece devido à natureza das torcidas modernas, às redes oficiais e ao marketing da Premier League como um melodrama, sempre colocando os maiores clubes em modo de crise "semi-permanente".

É verdade que a derrota do United de 3 a 1 diante do Crystal Palace não foi um grande fracasso e, 90 minutos dentro de uma temporada de 5400 minutos, a explicação mais plausível - e sem graça - para o desempenho ruim foi o cansaço acumulado do time.

A campanha de 61 jogos dos Red Devils em 2019-20 só acabou cinco semanas atrás, os roubando de qualquer pré-temporada, enquanto lesões e outras disrupções (a esposa de Bruno Fernandes teve um bebê; Harry Maguire acabou de sair de uma prisão grega; Mason Greenwood foi manchete por razões erradas) também prejudicaram a preparação da equipe.

Não é nenhuma surpresa a lentidão do time no segundo tempo. Mas existe uma razão pela qual o Manchester United de Solskjaer é mais suscetível a análises pouco fundamentadas do que o Liverpool e o Manchester City, e é algo que, no final das contas, é o principal problema de boa parte dos times no mais alto nível do futebol atual: a estruturação dos ataques.

Assim como Frank Lampard no Chelsea e José Mourinho no Tottenham, Solskjaer não treina com modelos ofensivos específicos, isto é, jogadas e estruturas que os melhores treinadores da atualidade fundamentam nos treinamentos para organizar o desenho de seus times no momento ofensivo.

Treinar as particularidades do que fazer - onde se posicionar e como se posicionar - com e sem a bola tem se tornado fundamental para ter ataques produtivos na atualidade, permitindo que técnicos estrategistas consigam penetrar em defesas bem postadas com mais facilidade.

Pelo contrário, Solskjaer espera que seus jogadores sejam capazes de criar livremente e improvisar com a posse de bola, o que explica a razão de seu time, cansado, não ser capaz de produzir nada; incapazes de criarem espaços ou triangulações que permitam uma posse de bola mais produtiva.

É o equivalente de um jogador de xadrez só pensar em sua próxima jogada, ao invés de já calcular movimentos futuros. De Julian Nagelsmann, até o provável próximo treinador do Manchester United, Mauricio Pochettino, os melhores técnicos do planeta já estão trabalhando tendo isso em mente.

Victor Lindelof Harry Maguire Manchester UnitedGetty Images

Todos os últimos quatro títulos da Premier League foram conquistados com mais de 90 pontos e treinadores com movimentos ofensivos ultra-estruturados: Antonio Conte, Pep Guardiola e Jurgen Klopp. Para conquistarem tantos pontos, times não podem mais perder jogos fáceis, caírem psicologicamente ou deixarem pontos escaparem por cansaço. Uma posse de bola estruturada com mecanismos treinados no ataque trabalham contra esses fatores, dada as campanhas praticamente perfeitas dos últimos quatro campeões nacionais e sua habilidade em ganhar mesmo quando jogam mal

Após a derrota neste sábado diante do Crystal Palace, Donny van de Beek, recém-chegado no clube, admitiu que o United 'foi muito lento', afirmando que 'contra um oponente como o Palace, você precisa acelerar para criar oportunidades'.

O problema no United é que essa rapidez de pensamento e inteligência nos passes é algo que cai na responsabilidade dos jogadores, enquanto que um treinador mais inteligente aliviaria essa pressão criando (nos treinamentos) jogadas ofensivas que permitiriam que os jogadores criassem situações ofensivas sem nem precisarem pensar, apenas executando movimentações já treinadas.

O impacto de Bruno Fernandes após sua chegada de janeiro perfeitamente captura tal problema. Em um time mais organizado que o United, um jogador não mudaria tanto coisa. O português inspirou seus companheiros de clube a atuarem com mais velocidade, enquanto que sua criatividade mudou o ritmo da equipe dentro de campo.

No Liverpool, por exemplo, novas contratações se encaixam em modelos pré-determinados já criados pelo treinador. É só ver a movimentação do time de Klopp, como seus jogadores interagem de forma quase telepática, correndo em antecipação de receber a bola dois ou três passes após o início do pique.

Um Fernandes no Liverpool não mudaria o momento ofensivo tão radicalmente como em Old Trafford. O português aparentou estar muito cansado neste sábado, o que teve um impacto dramático nos outros jogadores. Quando atletas do United estão exaustos, não conseguem pensar tão rapidamente e o ataque quase que para completamente. Um ou dois jogadores ficam sem se movimentar e o sistema inteiro colapsa.

É um problema que não vai deixar de acontecer até que o clube contrate um treinador que treine os detalhes, até que essas jogadas estejam guardadas na memória muscular, fazendo o time imune ao cansaço, físico ou mental.

Isso reflete na defesa, também, onde sua lentidão deu uma grande vantagem aos atacantes do Palace. Como sempre, as táticas de Roy Hodgson foram simples e óbvias, fazendo com que a incapacidade de Solskjaer em se defender ficasse ainda mais alarmante.

160820 Solskjaer Sevilla 2-1 UnitedMichael Meissner/Getty

Ambos os laterais do United iam para o ataque desenfreadamente, deixando Harry Maguire e Victor Lindelof no mano a mano contra Wilfried Zaha, Jeffrey Schlupp ou Jordan Ayew. O trio repetidamente isolou os zagueiros lentos do time, os levando para o lado de campo e passando fácil com dribles, algo que não seria possível se Solsjkaer tivesse mantido seus alas mais próximos à defesa.

Assumindo que Solskjaer não está indo embora tão cedo, o United precisa de novas contratações, especialmente na dupla de zaga.

Lindelof claramente não é bom o suficiente e precisa ser substituído por um atleta mais veloz e capaz de trabalhar com passes verticais, pois Solskjaer claramente precisa de jogadores tão bons e criativos como Bruno Fernandes em todos os setores do campo.

Defender não foi o problema do clube na última temporada: o United só concedeu 36 gols na Premier League em 2019-20, três a mais que o campeão Liverpool, e a derrota neste sábado pode ser deixada de lado devido ao cansaço sem muitas explicações mais preocupantes.

O maior problema é como Solskjaer, focando no improviso na era da estruturação ofensiva, pode levar o Manchester United a conquistar mais de 95 pontos para brigar pelo título.

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