German Cano, Tiquinho, Calleri: um bom centroavante faz muito time sorrir na temporada 2023 do futebol brasileiro

A começar por ser a temporada que marca a passagem de Luis Suárez pelo Brasil. Um dos maiores atacantes de sua geração, o uruguaio subiu consideravelmente o nível da qualidade do Grêmio. Ter sido protagonista de título gaúcho já era esperado, mas a forma como segue atuando com intensidade e raça, mesmo aos 36 anos e já sentindo dores no joelho, só não impressiona mais que sua qualidade e inteligência com a bola nos pés.

A velocidade das pernas diminuiu? A do cérebro faz com que o jogo siga em altíssima dinâmica. É lógico que o nível do futebol brasileiro não é, hoje, o mesmo da primeira prateleira europeia. Mas é um jogo de elite e de extrema competitividade. E dentro deste cenário Luisito faz sua melhor temporada desde que, entre 2020/21, conduziu o Atlético de Madrid ao título espanhol.

No episódio gremista de sua existência, o uruguaio já fez os mesmos 21 gols vistos naquele que pode ser considerado o seu principal feito individual – após ter sido expulso do Barcelona, o motivando a encarar toda uma jornada de provação e de protagonismo longe da sombra do melhor amigo Messi. Quando Suárez joga, a expectativa de um Grêmio que briga na parte de cima da tabela do Brasileirão é uma; sem ele, é outra.

O campeão inédito da Copa do Brasil também teve um grande camisa 9 para pavimentar o caminho rumo ao título, o único que faltava na longa galeria do São Paulo e o que faltava para Jonathan Calleri sacramentar, definitivamente, o seu lugar entre os ídolos de destaque na história do Tricolor.

O argentino já teve temporadas mais prolíficas em relação a gols marcados, é verdade, mas foi em 2023 que acabou fazendo o tento mais importante pelo clube que aprendeu a amar. A cabeçada que encontrou as redes do Flamengo, na vitória por 1 a 0 em pleno Maracanã, teve enorme importância para a taça ficar no Morumbi após o 1 a 1 na partida de volta.

Mas quando o assunto é atacante argentino jogando no Brasil, o grande nome é Germán Cano. O goleador da camisa 14 conseguiu fazer de 2023 uma temporada ainda maior que a sua anterior. Um ano já marcado por título, um Carioca que viu sua atual tímida importância ser elevada pela virada tricolor na decisão contra um favorito Flamengo. Os rubro-negros tinham a vantagem no jogo decisivo, tendo vencido por 2 a 0 na ida, mas a equipe treinada por Fernando Diniz conseguiu uma virada espetacular. A goleada por 4 a 1 teve a participação de dois gols de Cano.

Se o título menos valioso de uma temporada já teve grande importância, imagine o maior deles: o Fluminense chegou, pela segunda vez em sua história, na final da Libertadores. E fez isso graças a Germán Cano, ao menos no que tange os atletas envolvidos.

O argentino, talvez o centroavante mais fixo dentre os exemplificados nesta matéria, participou diretamente de todos os quatro gols na semifinal contra o Internacional: o primeiro no jogo de ida e também o segundo, quando tudo levava a crer que o Flu sairia de sua casa com derrota frente aos colorados; na volta, dentro do Beira-Rio, usou os minutos finais para dar o passe para o gol de empate e fez, ele mesmo, o da virada que deixa o time a apenas um jogo de sua taça mais sonhada.

O título da Libertadores ganhou, nos últimos anos, a alcunha de “Glória Eterna”. Cano, já o maior artilheiro do Flu na história da competição, pode se orgulhar de ter alcançado tal status perante os torcedores do Fluminense.

Quem também sonha em levantar um grande título é o Botafogo. Os alvinegros fizeram campanha recorde no primeiro turno, e têm ofavoritismopara levantarem, pela terceira vez em sua história, o Brasileirão. A última vez foi em 1995, há 28 anos. O grande herói da campanha botafoguense é, inegavelmente, Tiquinho Soares.

Craque do campeonato até aqui, Tiquinho esbanja inteligência e perícia paraestufar as redes. É artilheiro da competição, 15 gols marcados, além de quatro assistências. Segundo estatísticas da Opta Sports, é quem mais converte chances claras de gol em toda a Série A: 93% de sucesso. Ou seja, raramente desperdiça lances fáceis, mas também tem a mágica de estufar as redes em posições difíceis – afinal de contas, seus 15 tentos vêm em um contexto de 9.5 gols esperados (xG).

Com desempenho e protagonismo, Tiquinho faz valer a música entoada nas arquibancadas alvinegras: “Ai, ai, ai, ai... tá chegando a hora...”. Um grande candidato a entrar em um incrível grupo de grandes ídolos da história alvinegra.

Curioso é que, justamente no tal do “ano dos centroavantes”, Gabriel Barbosa esteja vivendo sua temporada de maior instabilidade no Flamengo. Os rubro-negros seguem na parte de cima da tabela do Brasileirão, e ainda foram vice na Copa do Brasil. Mas o 2023 flamenguista foi ganhando contornos de grande crise ao mesmo tempo em que Gabriel passou a ser questionado. Se a temporada terminasse agora, daria para cravar, sem dúvidas, que foi a pior de Gabigol desde sua chegada ao Fla, em 2019.

E em meio a tantas disputas em uma temporada, no Brasileirão a esperança dos desesperados também passa por gols de artilheiros que, rodada após rodada, vão ganhando destaque. No Vasco, Pablo Vegetti mal chegou e já conseguiu mudar a cara do time.

A esperança do Santos para também se livrar do rebaixamento é o jovem Marcos Leonardo. Até o argelino Slimani já deu algum momento de felicidade a um Coritiba cuja queda é praticamente impossível de se reverter. Tivesse chegado mais cedo ao Couto Pereira, o destino do Coxa poderia ser diferente.

Decisivos em praticamente todos os contextos, a grande verdade é que a letra da música “Uma Partida de Futebol”, da banda mineira Skank, reflete à perfeição como tem sido o ano até aqui: o centroavante, o mais importante. Que emocionante é uma partida de futebol!