Brenner, FC Cincinnati, MLSReprodução/Instagram

Brenner é só o começo: como a MLS atrai os talentos da América do Sul?

A MLS quer se desgarrar da imagem construída por ela mesmo anos atrás de uma liga para jogadores veteranos se aposentarem. Com o passar dos anos, a estratégia das franquias mudou e mais jovens talentos foram contratados para atuar nos Estados Unidos, em especial joias sul-americanas.

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Esse garimpo dos estadunidenses no futebol da América do Sul fica evidente quando se olha para as contratações mais caras da história da MLS. Cinco entre as dez transferências de maior valor foram de jovens sul-americanos, incluindo as três primeiras.

O último a se juntar nessa lista foi o atacante brasileiro Brenner, destaque com a camisa do São Paulo em 2020. A transferência para o FC Cincinnati foi a terceira maior da história da liga, custando 13 milhões de dólares ao time de Ohio.

Visto com potencial para atuar em grandes clubes europeus, Brenner optou pelo "soccer", uma realidade que aos poucos vai se espalhando pela América do Sul. Antes dele, outros jovens talentos fizeram o mesmo caminho, como Ezequiel Barco, que trocou o Independiente pelo Atlanta, em 2018, mesmo destino que Pity Martínez rumou ao deixar o River Plate um ano depois.

"O jogador sul-americano encontra fatores muito favoráveis aqui", Luiz Muzzi, VP de futebol do Orlando City, disse à Goal. "A cultura favorece. Tem muito latino, sul-americano. E você tem tranquilidade para poder trabalhar e viver. Depois de perder dois jogos, a torcida não vai colocar fogo no seu carro, como foi com o Pity Martínez no River Plate, e não vai ter emboscada com ônibus, como foi o caso do Brenner".

Artur, volante do atual campeão Columbus Crew, viveu agora parecido antes de trocar o São Paulo pelo clube americano em 2017, aos 20 anos. Em entrevista exclusiva à Goal, o jogador relembrou um episódio de cobrança excessiva dos são-paulinos.

"A gente gosta do calor da torcida, empurrando e cobrando a gente, mas tudo tem um limite. [Sai do São Paulo] Logo na época que a torcida tinha invadido o CT da Barra Funda e eu estava no campo junto com outros companheiros da base como Luiz Araújo e Lyanco", disse.

Artur em ação pelo Columbus Crew, na MLSDivulgação/Columbus Crew SCArtur em ação pelo Columbus Crew. Foto: Divulgação/Columbus Crew SC

A cultura latina, citada pelo diretor do Orlando City, se une a um fator único dos Estados Unidos que favorece as franquias da MLS na busca de novos talentos: o "American Way of Life". A referência do estilo de vida dos americanos, de certa forma, influencia em negociações com jogadores sul-americanos.

"Mensurar isso é difícil, mas é levado em consideração por vários jogadores", analisa Muzzi. "Você tem um estilo de vida muito bom [nos EUA]. Você tem tranquilidade para sua família e seus filhos crescem em um ambiente mais seguro. É uma pena falar isso do nosso país e até dos vizinhos, mas é uma realidade e influencia sim".

Mesmo com a contratação de jovens talentos, ainda há um pré-julgamento de que a MLS é uma liga para veteranos se aposentarem, impulsionado pelas especulações de jogadores como Messi ou Cristiano Ronaldo atuarem nos Estados Unidos. Muzzi discorda dessa imagem vinculada à liga e cita que os novos talentos recebem muita visibilidade dos grandes clubes da Europa.

"Essa visão de que a liga é para veteranos é de bastante tempo atrás. De quando a liga estava iniciando e precisava de marketing, de nomes. Já deixou de ser assim há algum tempo", disse. "Tem muitos jogadores jovens que ficam aqui um pouco e vão para o Chelsea, para o Real Madrid, que são vendidos diretamente para a Juventus, Bayern de Munique, Roma. Ou seja, não é uma liga 'cemitério de elefantes'. Um jogador jovem como o Brenner, por exemplo, pode ver que é uma liga que vai dar visibilidade para ele. Se ele for bem, vai ter muito clube grande olhando", concluiu.

Miguel Almiron Atlanta United 05202018Brett DavisParaguaio Almirón trocou o Atlanta United pelo Newcastle, da Inglaterra. Foto: Brett Davis

Tanto para Artur quanto para Muzzi, ainda há um preconceito com a liga americana. Ambos comentaram que o desconhecimento da MLS no Brasil resulta em comentários equivocados sobre o futebol nos Estados Unidos e que, havendo mais visibilidade, a tendência é que mais talentos brasileiros vejam com bons olhos uma mudança para os Estados Unidos.

"Tem uma parte de preconceito de não conhecer a liga", disse o jogador. "Eu, pra ser sincero, antes de vir para cá, não conhecia direito a MLS e não passava muitos jogos ai no Brasil. É mais desconhecimento e querer julgar sem saber realmente o que acontece. Antes de eu vir, algumas pessoas que falavam que ninguém conhecia aqui, mas eu queria pegar um ano de experiência, vim para cá e acabei vendo que era uma coisa totalmente diferente".

"O Brasil sempre foi menos representado aqui. Tem muito mais argentino, colombiano, uruguaio... A América do Sul e Central sempre foram fontes fortes de jogadores para a MLS. O Brasil menos, por diversas razões. Faltava um pouco de exposição da liga. Na Argentina, você tem jogo da MLS toda semana", completou Muzzi.

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