Botafogo ainda sonha com Brasileirão, mas já (re)conquistou o respeito. É obrigação.

Isso porque as últimas décadas não foram nada fáceis para o Botafogo e seu torcedor, que alimentou sua paixão com vitórias específicas, contadas, e alguns títulos cariocas. Os resultados ruins, que vinham em coleção, refletiam um clube deficitário, sem estrutura e que se mostrava basicamente inviável para competir em alto nível.

O Botafogo de anos atrás parecia não respeitar sua própria história, o que por consequência fez com que muitos (torcedores de outros clubes ou até imprensa em geral) também passassem a achar que não era preciso respeitar muito o Botafogo. Um erro, evidentemente. Mas como recuperar o respeito? No futebol, só há uma linguagem: a dos resultados. A versão 2023 do Alvinegro soma bons resultados, mas também vai melhorando sua estrutura desde que passou a ter sua SAF administrada pela Eagle Holding de John Textor. É uma construção, que vai do fora de campo até a chuteira do artilheiro Tiquinho Soares – melhor jogador do Brasileirão até aqui.

No Campeonato Brasileiro de pontos corridos, nestes 20 anos apenas dois clubes tinham uma campanha melhor que os 30 pontos botafoguenses após 12 rodadas: o Atlético-MG de 2012 (31 pontos) e o Corinthians de 2017 (32 pontos). Os mineiros foram vice-campeões, lutando até a última jornada pela taça, enquanto os paulistas conseguiram o título.

A diferença de pontos deste Botafogo de 2023 para o segundo colocado conversa mais com a vantagem que o Timão tinha após a primeira dúzia de jogos em 2017 -- na ocasião, nove pontos do vice-líder. Mas o importante é destacar o óbvio: o Glorioso é um candidato ao título. Por direito e por capacidade.

A dupla de zaga composta por Victor Cuesta e Adryelson já se estabeleceu como uma das melhores do país nesta temporada, o que explica, junto das grandes atuações do goleiro Lucas Perri, a estatística de defesa menos vazada. No “manual de como se ganhar títulos”, este é um tópico importante. O Botafogo tem isso.

Mas o Botafogo também tem um Tiquinho Soares em uma das melhores fases de sua carreira, constantemente decidindo jogos. Um meio-campista da qualidade de Eduardo, além de boas opções para as pontas. Luís Castro tem alternado nas extremidades Luis Henrique com Victor Sá, os carismáticos Júnior Santos e Matías Segovia (vulgo Segovinha) e a qualidade não despenca. Se mantém, e acaba aumentando a competitividade interna. É uma boa notícia para os alvinegros, que talvez nunca tenham visto um elenco tão bem equilibrado assim. Lógico que tudo sempre pode melhorar, mas na comparação consigo mesmo o Botafogo evoluiu muito.

É claro que todo este encaixe também é mérito de Luís Castro, que sobreviveu a tormentas até enfim fazer o Botafogo atingir o grau competitivo que se esperava. A permanência do clube como um candidato aos títulos que disputa (além do Brasileirão, também tem a Copa Sul-Americana) passa muito pela permanência do português, que vem sendo assediado pelo futebol da Arábia Saudita.

Somados, todos estes fatores explicam como o Botafogo chegou à liderança isolada do Brasileirão. Não é por acaso. Quem porventura pudesse desdenhar, a campanha fala por si só. Os alvinegros somaram vitórias contra todos os times que vinham sendo apontados como favoritos às principais taças em 2023: venceu Fluminense e Atlético-MG, além de ter batido, como visitante, Flamengo e Palmeiras. Na estrada dos louros, ainda não há faixo de luz em uma 12ª rodada de Campeonato Brasileiro. O caminho ainda é muito longo, mas o Botafogo obriga qualquer um que fala sério sobre futebol a respeitá-lo dentro de seu sonho.