Morata Allegri Dybala Juventus GFXGetty/GOAL

Cristiano fora, treinador questionado, fim de era... Juventus é "novo Barcelona" na Europa?

Enquanto o desempenho na Serie A era fraco, a Juventus ainda tinha tudo sob controle na Liga dos Campeões. Com apenas um empate na quinta rodada, o time italiano já se classifica para as oitavas de final em primeiro lugar no Grupo H. No entanto, o duro momento do campeonato nacional se repetiu no grande torneio europeu.

O objetivo era a vitória contra o Chelsea na Inglaterra, mas consciente do desafio, o CEO bianconeri, Maurizio Arrivabene, admitiu que sair de cabeça erguida já era o suficiente. "Acho que usar uma calculadora nestas situações não é útil", disse ele à Sky Sport Itália antes do jogo em Stamford Bridge. "Só temos que entrar em todos os jogos com o objetivo de ganhar. Mas acho que a melhor coisa que podemos apontar é sair deste estádio de cabeça erguida".

Futebol ao vivo ou quando quiser? Clique aqui e teste o DAZN grátis por um mês!

No entanto, nem isso a Juve conseguiu. A maioria dos jogadores sequer conseguiu dar as caras à torcida após a derrota por 4 a 0 em Londres, e muito menos sair de cabeça erguida.

O Tuttosport rotulou a Juventus de "sem vergonha" depois do que o goleiro Wojciech Szczesny descreveu como uma "performance trágica". Já na Sky Sport Itália, Alessandro Del Piero admitiu que a mais pesada derrota da Juve na Liga dos Campeões - e sua pior em todas as competições desde 2004 - sacudiria o clube por inteiro.

"É um retrocesso significativo", disse o ex-Bianconeri. "Honestamente, há muito pouco o que se salvar de uma noite como esta. É um golpe duro para o clube inteiro do ponto de vista psicológico".

E, de fato, este foi um choque de realidade, principalmente após alguns resultados positivos que indicavam que, talvez, a equipe estivesse se recuperando após a saída de Cristiano Ronaldo, seu grande artilheiro. Parecia que, finalmente, a Juve estava voltando a se encontrar sob o comando de Massimiliano Allegri.

O alemão explicou que eles tinham percebido que "controle" não seria suficiente para vencer os Bianconeri; eles precisavam jogar diretamente e em ritmo. 

No entanto, como opinou Fabio Capello à Sky, os times da Série A não são mais capazes de competir com os melhores times ingleses, e que os técnicos italianos têm muito a aprender com treinadores como Tuchel e Jurgen Klopp, chefe do Liverpool.

Os resultados recentes da Liga dos Campeões falam por si mesmos. A Itália não teve um vencedor do torneio desde a Inter de Milão em 2010, enquanto duas das últimas três finais foram disputadas por times ingleses. 

Um dos poucos times italianos que apresentam algo no cenário europeu é a Atalanta, que tem uma filosofia de futebol clara e abrangente, um elenco jovem e produtivo, um excelente programa de recrutamento e um treinador ousado e progressista, que tira o melhor dos jogadores.

A Juve, porém, vai no caminho oposto. Os Bianconeri estão sofrendo uma crise de identidade, em um momento envolto em incertezas. É difícil saber o que eles estão tentando fazer ou para onde querem ir.

Há uma possibilidade muito real de que as coisas piorem antes de melhorar para os Bianconeri. E, inclusive, já é possível imaginar que a Juve está enfrentando uma reconstrução parecida com a de Barcelona, após anos de má gestão.

O retorno de Allegri buscava restaurar a estabilidade, pelo menos no campo, principalmente depois das tentativas falhas de ir numa direção mais progressiva sob comando de Sarri e Andrea Pirlo - o que, mais uma vez, ilustra o pensamento confuso da Juve nos últimos anos.

No entanto, o jogo contra o Chelsea foi uma lição de futebol a Allegri, que não conseguiu sequer montar uma equipe que fizesse sentido

A Juventus, há muito tempo, tem um meio de campo ruim  e ainda assim Allegri optou por jogar quatro com meio-campistas centrais contra o Chelsea, Enquanto isso, Chiesa, um dos melhores alas do jogo, foi colocado na frente, e Dejan Kulusevski, um jovem promissor jogador em quem Allegri parece ter perdido toda a confiança, começou no banco.

Federico Chiesa Juventus GFXGetty/GOAL

É claro que a culpa não é só de Allegri, não foi ele quem montou o elenco da Juve, que vem contratando pessimamente desde a saída de Beppe Marotta. O projeto com Cristiano Ronaldo não deu frutos e, apesar do contínuo apoio da holding Exor, os Bianconeri estão financeiramente prejudicados em comparação com seus rivais ingleses

Há, portanto, questões institucionais na Juve, que vão muito além da influência de Allegri, e é exatamente por isso que Capello aconselhou o hexacampeão a não voltar ao time de Turim.

Capello temia que Allegri fosse um bode expiatório para os problemas profundamente enraizados da Velha Senhora ou, como ele disse, "o guarda-chuva" em que todas as críticas cairiam sobre se as coisas começassem a dar errado. No entanto, o treinador Bianconeri não está fazendo nenhum favor aos olhos dos torcedores, com um plano de jogo conservador e catenático que está apagando o talento de Chiesa. 

Allegri é conhecido há muito tempo - e muitas vezes elogiado - por seu pragmatismo. Afinal de contas, ele levou a Juve a duas finais da Liga dos Campeões, em 2015 e 2017. Sua tática, porém, não parece ter evoluído durante seu ano sabático. Se alguma coisa, ela regrediu, tornando-se ainda mais defensiva e reativa, para desgosto dos torcedores.

Uma coisa é recuar na esperança de bater os mais ricos e fortes da Liga dos Campeões, como o Chelsea. Outra, porém, é ter menos posse e iniciativa do que os adversários da Serie A, que trabalham com uma fração do orçamento da Juve. 

De fato, sob comando de Allegri, a "pequena Juve", como o Corriere dello Sport os chamou na quarta-feira, parece ter adaptado uma mentalidade de clube pequeno, portanto, não se surpreenda ao ver a posse de bola da Atalanta no jogo de sábado (27) no Allianz Stadium.

De certa forma, poderia ser um reflexo ainda mais "trágico" de como Allegri e Juve têm caído nos últimos quatro anos.

Publicidade