A ascensão meteórica de Vivianne Miedema, a 'faz-tudo' do Arsenal

Ainda bem que Vivianne Miedeme é uma jogadora fantástica. Caso contrário, ela seria "uma grande decepção", conta rindo, em entrevista exclusiva concedida à Goal, celebrando sua segunda posição nesta edição da Goal 50.

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Maior artilheira da história da seleção holandesa e da Superliga Inglesa, Miedema cresceu cercada pela esporte que eventualmente a iria consumir, e, com o tempo, passou a dominar.

De seu avô, para seu pai, e até o seu irmão mais novo, todos que rodearam a estrela do Arsenal quando ela era criança eram fanáticos por futebol.

"Eu realmente não tive uma chance, para ser honesta. Era o futebol ou nada." ri a jogadora de 24 anos.

Falar que ela alcançou as expectativas seria a subestimar, dado tudo que conseguiu fazer até agora.

A jogadora não só se tornou uma das maiores artilheiras do futebol atual, mas uns dos talentos mais únicos do jogo, também.

"Na nossa família, nós sempre fomos camisas 10, camisas 9, meio a meio." conta para a Goal, se descrevendo na atualidade como "uma camisa nove e meio."

"Eu comecei como 10. Chegou um momento, porém, que a seleção não tinha uma camisa 9, então me falaram, 'Jogue no comando do ataque e veja no que dá'. Desde então, eu nunca saí de lá."

"Eu acho que você sempre quer ser igual a seu pai, a seu irmão ou irmã mais velha. Eles definitivamente me influenciaram a ser a artilheira que eu sou hoje."

Vivianne Miedema Arsenal Women 2020Getty

Tendo marcado um hat-trick em 16 minutos em seu segundo jogo pela seleção holandesa, a habilidade de Miedema para balançar as redes foram influenciadas pelos heróis que idolatrou quando criança, Robin van Persie e Ruud van Nistelrooy.

Mas a jogadora que ela é hoje é bem diferente desses dois. Atuando como camisa 9, mas tendo o papel de uma camisa 10, a camisa 11 do Arsenal não foi só a artilheira da WSL na última temporada, mas também foi a líder em assistências.

Desde sua saída do Bayern de Munique a três anos, o trabalho que vem fazendo junto com o treinador dos Gunners, Joe Montemurro, lhe deu essa liberdade - que lhe ajudou a se transformar numa das melhores do mundo.

"No Bayern, especialmente, no nosso sistema de jogo, eu atuava como centroavante, mais focada em contra-atacar." explica Miedema.

"Muitas vezes, eu recebia bolas longas e me falavam, 'Viv, corra atrás dela.' Esse realmente não é meu estilo de jogo."

"No começo, eu tive dificuldades em perceber o que o time precisvava de mim. Nas últimas temporadas, eu aceitei o desafio e o fiz do meu jeito."

"Mas então, três anos depois, eu percebi que precisava ir embora, curtir o futebol e ser feliz. O Arsenal foi a escolha certa."

"Nós jogamos em um estilo que vai de encontro com o que faço de melhor. Ele me dá liberdade."

Joe Montemurro Vivianne Miedema Arsenal Women 2020 quote PSGetty/Goal

"Não sou só eu, eu acho que isso acontece com muitas jogadoras. Nós temos atletas inteligentes, técnicas, que precisavam de um pouco de liberdade para se movimentarem e fazerem o que tem de melhor."

"Me faz ter mais prazer em jogar futebol, participar bastante do jogo e fazer o que eu preciso para ajudar meu time."

As ideias de Montemurro e Miedeme se completaram, sim, ajudando o Arsenal a conquistar o seu primeiro título nacional em sete anos, em 2019, mas as personalidades da dupla também.

"Ele provavelmente está sem paciência para mim," ri a atacante, com sua personalidade inquistiva sendo desgastante até para um dos treinadores mais dedicados do esporte.

"Nós conversamos muito sobre o nosso modo de jogo, sobre outras equipes. Não é como se eu entrasse e falasse, 'é isso que precisamos fazer.' Se eu fizesse isso, ele só responderia, 'obrigado pela opinião, até mais'. Mas eu acho muito positivo ter essas discussões.

"Eu acho que é muito importante debater com as jogadores, para ele nos perguntar como estamos vendo o jogo, se nós, como um grupo, acreditamos no trabalho que está sendo feito. Eu acho que isso é o mais importante no futebol: se comunicar e ter certeza de que sua mensagem está sendo transmitida."

"Eu vejo muito futebol. Não importa se é a liga italiana ou a liga sul-coreana, eu não me importo, sempre estou assistindo."

"É muito bom ter alguém que gosta tanto de futebol também, como nosso assistente técnico, Aaron D'Antino. Ele também ama futebol e nós conversamos muito sobre o jogo."

"Eu amo falar sobre futebol com ele porque nós temos ideias parecidas de jogo."

Vivianne Miedema Arsenal Women 2020Getty

Essa química vem sendo muito importante em tirar o melhor de Miedema.

Trajando as cores tradicionais do Arsenal, a jogadora tem 82 gols em 82 jogos, além de ter conquistado títulos da WSL e da Copa Continental. O desafio agora é continuar evoluindo enquanto os oponentes tentam alcançar os Gunners.

"Isso é algo positivo, porque significa que eu tenho que continuar melhorando, sempre evoluindo, o que eu gosto. No final das contas, é por isso que você joga futebol." explica.

"Muitos times tentam me marcar individualmente, então eu sempre tenho que encontrar uma nova maneira de me desmarcar, em todo jogo. É uma boa oportunidade pra eu ir me desenvolvendo."

Esse foco é parte integral do modo de como Miedema vê o futebol. Não importa o que alcançar, sempre está procurando mais e mais. Faz parte de sua incrível ética de trabalho, além de sua personalidade humilde.

Mesmo com todo o seu sucesso, ela é uma jogadora que não gosta de ser o centro das atenções.

É algo fácil de ser observado toda a semana, em sua comemoração icônica - ela simplesmente não celebra os gols. Simplesmente recebe os parabéns de suas companheiras. As vezes, dá um sorriso curto, em uma ocasião especial."

"É sobre respeitar meu oponente: é meu trabalho marcar gols. Nunca perder o foco no jogo e continuar trabalhando para fazer mais." explica.

"Eu sou de uma cidade pequena na Holanda, não tem tanto espaço para fazer loucuras."

Vivianne Miedema Goal 50Goal

A humildade de Miedema vem junto de um grande problema, porém: ela provavelmente não recebe o crédito que merece.

Com 24 anos, já ser a maior artilheira da história de seu país e do campeonato inglês, ter vencido uma competição continental e alcançado a final da Copa do Mundo são feitos inacreditáveis.

"Durante a quarentena, acho que foi a primeira vez que eu refleti de verdade sobre isso." comenta.

"Eu refleti sobre tudo que nós conseguimos fazer na Holanda, no Arsenal, e individualmente, nos últimos anos. As vezes, eu e outras jogadoras deveríamos ter mais orgulho de tudo que alcançamos."

"Eu não gosto muito de receber a atenção, de brilhar individualmente. Mas as vezes eu acho que eu precisa falar para mim mesma que estou indo bem e devo continuar seguindo assim."

"Eu já atuei em diferentes sistema de jogo em todos os times por onde passei. Já joguei em várias ligas. Atuo pela minha seleção, e me fez ser uma jogadora melhor."

"Acredito que sou mais completa, hoje, do que fui em qualquer outra fase de minha carreira."

Tendo o tempo como aliado, o céu é o limite para Miedema. Uma coisa já está certa, porém: ela não é uma decepção.

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