Por que Xabi Alonso precisa recusar o Bayern e aceitar ser o novo técnico do Liverpool

Talvez não tenha sido surpreendente, então, que Klopp não tenha somente dado os tradicionais socos no ar após o jogo - o alemão fez isso por todos os quatro cantos do campo.

“O estádio e a equipe”, disse ele à BBC Sport, “mudaram o jogo juntos”. Porém, foi ele quem os deu vida e é ele quem une o clube. Ele praticamente fez isso desde o dia em que chegou a Anfield em 2015 e prometeu transformar “céticos em crentes”.

Depois disso, seis grandes títulos foram conquistados, incluindo o primeiro título inglês desde 1990. Klopp pode até ficar com outro antes de partir no final da temporada. Se o fizer, na era de dominio do Manchester City, isso apenas reforçaria o seu título de um dos maiores gestores de elenco de todos os tempos.

Assim, há quem diga que suceder Klopp é um trabalho impossível - e é fácil entender o porquê, considerando todos seus troféus e relação construída com jogadores e torcedores. Bom, basta comparar com a forma do Manchester United desde a saída de Sir Alex Ferguson, há mais de uma década.

Nesse sentido, Alonso pode sentir que esta é a oportunidade certa, mas talvez na hora errada. Ele admitiu, quando começou sua carreira de treinador, que tinha "sonhado" em retornar ao Liverpool como técnico. Mas o espanhol é muito jovem, tem apenas 42 anos de idade. Não há motivos para ter pressa. A oportunidade de trabalhar no Liverpool surgirá novamente no futuro.

Afinal, seu trabalho no Bayer Leverkusen já deixa claro que a carreira de Alonso tende a ser longa e bem-sucedida. Em pouco mais de 18 meses, ele levou uma equipe que corria risco de rebaixamento à beira de um primeiro título da Bundesliga - e, aliado a tudo isso, ainda jogando um futebol para lá de empolgante.

Não há hoje, portanto, treinador tão promissor e tão cobiçado ao mesmo tempo. Na verdade, ele já até recebeu um endosso de Klopp...

"Xabi está fazendo um trabalho incrível", disse o técnico dos Reds, durante entrevista coletiva concedida a repórteres recente.

"Se você me perguntasse oito semanas atrás sobre Xabi Alonso, eu teria dito: ‘Meu Deus! Os dinossauros – [Carlo] Ancelotti, [José] Mourinho, [Pep] Guardiola, talvez eu – não estarão aqui pelos próximos 20 anos. A próxima geração já está batendo à porta. E eu diria que Xabi é quem se destaca", seguiu.

"É um ex-jogador do mais alto nível e que vem de uma família de treinadores, o que ajuda um pouco. Ele era praticamente um treinador quando estava jogando. Seu futebol, as equipes que ele monta, as transferências que ele fez... Tudo absolutamente excepcional".

"Joguei e trabalhei por muito tempo na Bundesliga, e é super impressionante [a campanha do Leverkusen]. Não apenas a pontuação, mas a forma como joga. Ele fez contratações super importantes para a equipe, exatamente o que precisavam. É realmente um trabalho muito especial".

No rival Manchester United, o apoio de Ferguson não conseguiu manter por uma temporada completa nem mesmo David Moyes em Old Trafford. Mas é impossível imaginar os torcedores do Liverpool perseguindo Alonso, uma pessoa que era - e ainda é - adorada em Anfield.

Quando Rafa Benítez tentou substituí-lo por Gareth Barry na pré-temporada 2008/09, os torcedores deixaram claro seus sentimentos durante o amistoso contra a Lazio, que Alonso ainda considera um dos "dias mais especiais" de sua carreira, sentindo-se tocado pelo apoio.

A inteligência, elegância e determinação com que Alonso jogava obviamente lhe ajudaram a conquistar o coração dos torcedores dos Reds, mas sua personalidade simples também desempenhou um papel crucial. Desde o momento em que chegou ao clube, ele abraçou a cultura da cidade. Ele até se referiu ao seu filho nascido em Liverpool como um "scouser".

"A mística de descer aquele túnel de Anfield, tocar na placa, ver a Kop cantando ‘You'll Never Walk Alone’... Tudo isso tornou mais fácil ter uma ligação e um compromisso muito forte com o clube e os torcedores", disse ele, em uma entrevista ao Liverpool Echo.

"Nunca fingi ser alguém que não sou. Sempre tentei ser alguém normal. E a personalidade das pessoas de Liverpool é muito particular: elas gostam que você seja um deles. Se você está no bar, querem te comprar uma cerveja. Eles querem que você se sinta bem-vindo. Senti isso desde o começo".

Portanto, Alonso certamente receberia boas-vindas mais do que calorosas se voltasse a Anfield, e todos teriam mais paciência com o espanhol durante seu início de trabalho pós-Klopp do que com praticamente qualquer outro treinador.

Mas, convenhamos, é bem possível que ele nem precise disso.

E, ao contrário do Bayern, o Liverpool não está um caos. Tuchel está deixando para trás uma bagunça absoluta na Allianz Arena, se desentendendo com líderes de elenco, como Joshua Kimmich. Melhorar os atuais péssimos resultados não seria provavelmente um problema para Alonso - é difícil ficar mais marcado negativamente do que o técnico que liderou o Bayern à temporada sem um troféu pela primeira vez em 12 anos -, mas, em Anfield, ele estaria herdando um elenco relativamente jovem e o qual ele poderia moldar à sua forma.

Fato, Virgil van Dijk e Mohamed Salah precisarão ser substituídos mais cedo ou mais tarde (talvez uma tarefa impossível), mas a reformulação do meio-campo do Liverpool tem ido melhor do que até mesmo Klopp poderia ter imaginado. No ataque, até dá para dizer que os Reds possuem a maior oferta de talentos no mundo, considerando que nenhum outro time nas principais ligas europeias tem cinco jogadores - Salah, Luis Díaz, Darwin Núñez, Diogo Jota e Cody Gakpo - com dez gols cada até aqui na temporada.

Além disso, o Liverpool tem uma infinidade de jovens promissores formados na base, alguns dos quais já até pedem passagem no time de cima, como Conor Bradley, Jarell Quansah e Bobby Clark. Na recente vitória por 4 a 1 sobre Luton Town, Klopp levou a campo seu time titular mais jovem em seis anos.

Independente do que acontecer até o final da temporada, Klopp realmente não poderia estar deixando o Liverpool em melhor forma para quem quer que seja seu sucessor.

Mas Alonso também tem uma ligação com o Bayern. Foram três temporadas na Baviera antes de encerrar sua carreira, além, claro, de um grande sucesso no Real Madrid - que provavelmente estará procurando um novo técnico em 2026, quando o contrato de Carlo Ancelotti terminar.

Alonso poderia, ainda, decidir ir contra todas as expectativas e permanecer na BayArena, construindo sobre as bases que ele mesmo estabeleceu em Leverkusen, até pensando nessa possibilidade de receber uma ligação de Florentino Pérez futuramente. No entanto, no mundo da gestão, sabemos que as coisas raramente correm exatamente como planejado. O fato é que duas vagas de emprego de altíssima procura estarão em aberto no meio do ano - e Alonso é, hoje, o principal candidato para ambas.

Na Allianz Arena, ele poderia levar o Bayern de volta ao topo. Anfield, o "melhor estádio do mundo", como ele mesmo já disse, oferece, contudo, uma chance única na vida de enfrentar o 'trabalho impossível'.

"A alma, as arquibancadas, as luzes... É diferente. É puro futebol", disse o espanhol, em entrevista no passado. "É por isso que você ama - seja jogador, seja torcedor".

Agora, terá a chance de amar também como técnico.