Giovana Queiroz BrazilGetty Images

Visibilidade do futebol feminino é plataforma para proteção das atletas

Toda vez que falo ou escrevo sobre os avanços do futebol feminino, lembro que ainda há um longo caminho a percorrer. E, enquanto viajo para cobrir o jogo que promete ter o maior público pagante da história da modalidade, é hora de não esquecer deste outro lado: ainda há muito a ser feito.

O Barcelona anunciou, ainda em janeiro, que os 85 mil ingressos para o clássico de volta contra o Real Madrid pelas quartas da Champions League haviam se esgotado. O atual campeão do torneio já é um dos mais importantes do cenário mundial e um exemplo para o rival, que só recentemente começou a investir no futebol feminino. Contei um pouquinho sobre isso no texto da semana passada.

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No entanto, nesta terça-feira (29), surgiram denúncias da jogadora Gio Queiroz, atualmente emprestada pelo Barça ao Levante, sobre o tratamento pelo clube catalão. Ela afirma que sofreu abusos psicológicos após escolher defender a seleção brasileira e que chegou a ser mantida em uma quarentena desnecessária para prejudicá-la. Gio, de 18 anos, fala que, apesar de ter participado de campanhas da Fundação Barça pela aprovação de uma lei de proteção a menores de idade contra a violência, estava desprotegida dentro da entidade.

O Barcelona, ao correspondente Marcelo Bechler da TNT Sports, nega as alegações e afirma que houve uma investigação por parte do clube e da Fifa e que a decisão foi favorável ao clube. Além disso, a entidade afirma que a jogadora viajou para defender a seleção brasileira, o que foi considerado uma falta grave.

A maior visibilidade do futebol feminino dá, às atletas, uma confiança maior para se pronunciar. Pode ser uma forma de divulgação do próprio trabalho, mas também uma forma de proteção, de desabafo ou de compartilhamento de dores e conquistas. É só lembrar das denúncias de Jana Queiroz, ex-Santos, Corinthians e Palmeiras, contra o time português Famalicão. Em um vídeo publicado nas redes sociais, ela acusou o clube de esconder detalhes de um diagnóstico de lesão que a impedia de jogar, o que a teria levado a um quadro de depressão. Ela entrou com um processo contra o clube por acidente de trabalho e abuso psicológico.

Além disso, o crescimento da cobertura jornalística da modalidade tem ajudado atletas a lutar por melhorias. A repórter Meg Linehan, do The Athletic dos Estados Unidos, publicou as acusações de abuso sexual e psicológico contra o técnico Paul Riley, que foi demitido do North Carolina Courage.

Molly Hensley-Clancy, do Washington Post, detalhou acusações de abuso emocional e verbal contra o ex-treinador do Washington Spirit Richie Burke. O resultado? Após uma investigação, Burke foi demitido e o Spirit foi punido pelo tratamento dado ao caso. Outro treinador, Rory Dames, deixou o cargo no Chicago Red Stars, durante uma investigação de Hensley-Clancy sobre casos de maus tratos a atletas desde a sua carreira como treinador de categorias de base.

O clube - como qualquer ambiente de trabalho - tem o dever de proteger os seus atletas e levar denúncias a sério. No entanto, no caso do futebol feminino, que já não tem tanto incentivo dentro da maior parte das entidades, como ser levadas a sério? Por isso, cada vez mais atletas levam suas denúncias a público. É uma maneira de receberem apoio externo para que, com dezenas ou centenas de vozes ecoando as suas palavras, elas sejam ouvidas.

Por isso, de novo, é sempre importante comemorar os avanços sem esquecer o quanto ainda precisa melhorar. Ao ver jogos das principais competições e clubes do mundo, é importante apontar o que é conquistado, mas também o que deve mudar. As conquistas atuais já foram resultado de décadas de lutas, mas a briga continua para garantir melhores condições para todas.

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