Robert Lewandowski: o atacante perfeito e sua temporada perfeita

Foram 47 jogos. 55 gols. Dez assistências. Três troféus.

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E agora, para Robert Lewandowski, um prêmio da Goal 50, após o que só pode ser descrito como uma temporada perfeita pelo atacante do Bayern do Munique.

Tido como o camisa 9 mais completo do mundo, Lewandowski deixou todos os outros jogadores do planeta para trás na última temporada na qual quase nenhuma defesa conseguiu segurá-lo, tanto na Alemanha quanto em outros adversários espalhados pela Europa.

Mesmo assim, o atleta de 32 anos ainda acredita que pode evoluir.

"Meu maior sonho se realizou," conta Lewandowski para a Goal em uma entrevista exclusiva após ter sido votado o melhor jogador do mundo na temporada 2019-20 pelo time global de jornalistas do maior portal de futebol do planeta.

"O sentimento neste momento é incrível. Eu nunca senti algo assim antes. Você percebe que o todo trabalho que vem fazendo nos últimos 20 anos está sendo recompensado."

"Eu me sinto muito bem, prêmios como este são muito importantes para mim. É claro, futebol é um esporte coletivo, mas prêmios individuais mostram que todo o trabalho que você faz no dia a dia vale a pena."

"Para mim o mais importante é os títulos que nós conquistamos. É isso que eu busco. Sem títulos, todos esses gols não valem tanta coisa."

"Se meus gols nos ajudarem a ganhar títulos, o ideal aconteceu. Neste caso, eu preciso dizer que não só os gols são importantes, mas também as assistências. Isso promove o espírito coletivo."

Goal 50 Lewandowski GFXGoal

"Sempre existe espaço para melhorar," acrescenta. "Enquanto você estiver jogando futebol, precisa continuar faminto. Chegar ao topo é difícil, mas permanecer nele é ainda mais desafiador."

"Quando você estiver no final da carreira, aí sim pode olhar para trás e curtir os títulos que conquistou."

Neste momento, em que Lewandowski estiver nos dias finais de sua carreira, ele poderá refletir sabendo que teve uma rota pouco convencional até o topo.

Um jovem magrelo, gostava de jogar futebol mais do que tudo, até tentando convencer seus pais para o deixarem focar só no esporte, enquanto eles o encorajaram a procurar outras opções para o futuro.

"Meu primeiro campo de treinamento não tem nada a ver com os gramados que estou acostumado a jogar hoje." relembra. "O campo era escuro e só crescia grama em alguns lugares. Era o suficiente para nós."

"Quando chovia, nós nos divertíamos ainda mais. Não nós importávamos que o gramado não era coberto e que teríamos que voltar para casa com as roupas molhadas por duas horas."

"Depois disso, eu normalmente jogava por mais duas horas no quintal de casa, quando já estava escuro."

"Eu só queria ficar fora de casa e fazer o que me divertia. Vinha do coração. O futebol sempre foi minha maior paixão, e essa paixão é o que me move."

Robert Lewandowski Bayern 2Goal Brasil

Os pais de Lewandowski eram ambos atletas, com seu pai Krzysztof não só jogando futebol na segunda divisão polonesa, mas também se tornando campeão de judô no país. Sua mãe, Iwona, foi jogadora de vôlei em um dos melhores times da Polônia, o AZS Warszawa.

"Eu tentei muitos outros esportes que não o futebol e eu até era talentoso em alguns." Lewandowski conta de seu crescimento. "Mas eu não sentia a mesma paixão por eles que sentia pelo futebol."

"Às vezes, eu ficava estressado e nervoso, estava claro pra mim que eu nunca chegaria no topo nesses esportes. Eu perguntei para o meu pai, então, por que eu não poderia só jogar futebol?"

"Ele explicou pra mim que não entenderia por que outros esportes eram importantes. Ele disse: 'Um dia você vai entender que é para seu bem.' Ele estava certo."

"Eu fiz muita ginástica para trabalhar minha flexibilidade. Isso me ajuda hoje em dia. Por isso que eu sou totalmente grato ao meu pai por me mostrar isso."

Ainda que aquele garoto estivesse destinado a seguir seus sonhos, até mesmo receber um contrato profissional foi difícil para Lewandowski.

Com 15 anos, foi rejeitado por um técnico da seleção nacional por ser muito magro, antes do Legia Warsaw decidir o dispensar - mesmo que ele tivesse menos de 18 anos.

"Isso me machucou muito. Eu tinha 17 anos, e aconteceu pouco depois de eu perder meu pai," relembra. "Até hoje eu tenho calafrios e lembro de me machucar e esperar para saber a decisão que iriam tomar comigo."

"Do nada, uma semana ou duas antes do final do meu contrato, recebi a informação do Legia que o clube não iria renovar meu contrato para a próxima temporada."

"Eu realmente queria mostrar para todo mundo do que eu era capaz. Você não liga para o que as outras pessoas dizem se tem muita força de vontade. Então eu olhei para frente e continuei trabalhando para melhorar."

"Quando tinha 18 anos, comecei a trabalhar mais na academia para construir músculo. Isso ajudou muito."

Young Robert Lewandowski Lech PoznanGetty Images

Ser dispensado do Legia afetou bastante Lewandowski, que decidiu ir fazer as coisas do seu jeito.

Decidiu, então, descer para a terceira divisão polonesa para se provar, assinando com o Znicz Pruszkow e os ajudando a serem promovidos para a segunda divisão, em sua primeira temporada, e sendo o artilheiro da competição no ano seguinte.

Os gols de Lewandowski não passaram despercebidos: o Lech Poznan o levou para a primeira divisão e lhe deu um gostinho de jogar a Copa da Uefa.

No Poznan, foi o artilheiro da Ekstraklasa - primeira divisão polonesa - em 2009-10, com 18 gols, o que atraiu a atenção de vários clubes, como o Blackburn Rovers e Borussia Dortmund.

"Eu sabia que o próximo passo seria fora da Polônia. Eu queria ir para uma equipe que tivesse, no mínimo, ambições de Liga Europa," continua o atacante.

"O Borussia Dortmund já tinha me feito uma proposta um ano antes, mas naquele momento acreditei que era muito cedo para ir embora. Após dois anos, me senti pronto."

"Dortmund tinha um técnico promissor em Jurgen Klopp, um time jovem e atuava num sistema em que eu poderia ser útil."

Um gol no Revierderby contra o Schalke 04 fez com que o recém-chegado rapidamente caísse nas graças da torcida do Dortmund, mas Lewandowski não ficou satisfeito com suas primeiras performances na Alemanha.

"Os três primeiros meses no Dortmund foram difíceis. Mas eu sei exatamente a situação melhorou." admite.

"Nós perdemos um jogo fora de casa na Liga dos Campeões em Marselha. Naquele tempo, eu realmente não sabia como o treinador me via."

"Depois do jogo eu conversei com Jurgen Klopp e lhe perguntei abertamente o que ele esperava de mim. Nós conversamos por quase duas horas. Eu falei para ele o que estava na minha cabeça e ele explicou o que esperava do meu futebol."

"Após a conversa, tudo melhorou. Nós vencemos o próximo jogo por 4 a 0 contra o Augsburg. Eu marquei um hat-trick e dei uma assistência."

Robert Lewandowski Bayern 1Goal Brasil

Lewandowski continuou crescendo após o encontro, marcando 20 ou mais gols em cada uma das próximas três temporadas na Bundesliga, vencendo dois Campeonatos Alemães e uma Copa em 2011-12.

O Dortmund chegou até a final da Liga dos Campeões em 2013, mas uma final alemã viu o Bayern levantar o troféu e bater seus rivais.

Assim, após conquistar quase tudo no Westfalenstadion, o polonês trocou Dortmund por Munique em 2014.

Ele venceu a Bundesliga em todos os anos desde a mudança, tendo conquistado quatro artilharias da Alemanha além daquela que levou em sua última temporada no Dortmund.

Depois de passar perto várias vezes de conquistar a Champions, parecia que Lewandowski e o Bayern não iriam retornar tão cedo para uma final europeia, especialmente em 2019-20, quando o time tropeçava e perdia pontos sob o comando de Niko Kovac.

Uma derrota por 5 a 1 para o Eintracht Frankfurt fez a diretoria do Bayern desistir de Kovac e o substituir por Hansi Flick.

O resto é história.

"Nós percebemos que não estava dando liga. Ficou evidente no jogo contra o Frankfurt," revela.

"Obviamente, precisávamos de um pouco de tempo para nos recuperarmos. Depois de duas ou três semanas com Flick, as coisas começaram a mudar. Os jogadores sabiam o que esperar do técnico e a confiança voltou."

"Nós crescemos juntos como um time e fomos melhorando, especialmente no nosso estilo de jogo. Conseguimos responder melhor a problemas."

A vitória por 8 a 2 sobre o Barcelona nas quartas de final na Liga dos Campeões provou para todos que o Bayern estava no mais alto nível, incluindo nos vestiários: Flick introduziu uma mentalidade praticamente cruel na equipe, em relação aos adversários, que no final, os levaram a conquistar a tríplice coroa.

"O primeiro tempo foi quase perfeito. Nós marcamos muito gols e os pressionamos perfeitamente." fala sobre o jogo histórico em Lisboa. "Nós rapidamente percebemos que seria uma grande vitória e que não perderíamos aquele nunca de jeito nenhum."

"Hansi falou que nós devíamos continuar pressionando com intensidade total. Isso funcionou contra o Barcelona. Nós sempre queremos mais, sempre queremos jogar no ataque."

"Nós tivemos um primeiro tempo quase perfeito, mas queríamos melhorar. Esse é o nosso DNA. Você percebe isso em qualquer treino."

No maior time da Alemanha, vencer é o DNA do Bayern de Munique. Agora, após a conquista da Liga dos Campeões e da Goal 50, também se transformou em parte do DNA de Lewandowski.

Mas ele não pretende parar. O atacante perfeito quer mais, mesmo depois da temporada perfeita.

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