O desligamento de Itair Machado do Cruzeiro é mais um capítulo do atribulado ano de 2019 da Raposa. Os torcedores do clube mineiro foram do céu ao inferno várias vezes e, agora, veem a equipe correr sério risco de rebaixamento no Brasileirão Série A. Nem o mais pessimista dos celestes poderia esperar estar em 18º lugar da tabela nesta altura da temporada, que começou com o rescaldo de título nacional e presença em mais uma Copa Libertadores.
Diante da crise financeira e administrativa do clube, uma reunião está marcada para discutir o afastamento do atual presidente Wagner Pires de Sá. Como é que um ano que começou tão bem pode terminar com o Cruzeiro à beira do abismo?
Relembre os episódios da crise na linha do tempo a seguir:
Preliminares: sonhando alto

O ano de 2018 foi de muitas alegrias para os torcedores cruzeirenses. Com um elenco que já era estrelado, a Raposa investiu ainda mais dinheiro para dar muitas opções para o então treinador Mano Menezes. David, Mancuello e Bruno Silva chegaram com pompa, mas a principal contratação do ano foi Fred, chegando ao clube após litígio com o rival Atlético Mineiro - embora jogando pouco em função de uma grave lesão sofrida. Neste ano, o Cruzeiro conquistou tanto o Campeonato Mineiro quanto a Copa do Brasil, esta última pela segunda vez consecutiva.
Para 2019, a diretoria do clube tinha um objetivo maior: queriam a América.
08 de janeiro: A 'guerra' por Arrascaeta

O uruguaio Giorgian de Arrascaeta foi uma das peças mais importantes dos títulos do Cruzeiro sob a gestão Mano Menezes, chegando até a marcar um gol na final da Copa do Brasil. No dia que o elenco foi se reapresentar no CT Toca da Raposa, Arrascaeta e seu empresário chegaram com uma proposta milionária da nova diretoria do Flamengo, que queria realizar contratações de impacto.
O interesse do Flamengo levou a mídia um caso que já estava abafado: a dívida do Cruzeiro com o ex-clube do uruguaio, o Defensor, evidenciando problemas financeiros da equipe mineira. Os dirigentes da Raposa fizeram pouco caso desta situação e Arrascaeta acabou indo para o clube carioca por mais de 60 milhões de reais. Parte desse dinheiro foi direcionado ao Defensor, como pagamento da pendência.
23 de abril: O bom começo
Os problemas financeiros do Cruzeiro não afetaram o desempenho da equipe dentro de campo. Em 23 de abril de 2019, a Raposa fez sua última partida antes do começo do Brasileirão: uma vitória de 2 a 0 sobre o Deportivo Lara. Com mais esse bom jogo, o time mineiro completava 21 jogos invictos, com 16 vitórias, cinco empates, um título estadual e uma campanha perfeita na Copa Libertadores, o que lhe garantia classificação antecipada para as oitavas-de-final.
Fora de campo, o Cruzeiro era notícia por aprovar no conselho um empréstimo de R$ 300 milhões para o pagamento de dívidas e para fluxo de caixa. O dirigente Itair Machado, que comanda o futebol do clube e era o homem-forte do presidente Wagner Pires de Sá, comentou a medida, dizendo que: “quem é contra o empréstimo é anti-Cruzeiro".
Com o clube em grande fase e Mano Menezes sendo exaltado pela mídia por causa da mudança no seu estilo de jogo, poucas eram as vozes dissonantes, que criticavam as irresponsabilidades fiscais dentre a torcida da Raposa.
27 de abril: Cai a invencibilidade
Em confronto que trazia dois dos favoritos ao título do Campeonato Brasileiro, o Flamengo bate o Cruzeiro por 3 a 1 na primeira rodada da competição e quebra a invencibilidade da Raposa. Arrascaeta atuou naquele jogo, já com as cores rubro-negras.
26 de maio: Denúncias e desempenho fraco
No dia 26 de maio, o Fantástico, da TV Globo, apresenta uma matéria que apontava irregularidades na administração do clube, principalmente contra Itair Machado, então vice presidente de futebol da equipe. Naquele dia, dentro de campo, o Cruzeiro perde em casa de 2 a 1 da Chapecoense e fica à beira do Z4 no Brasileirão, no 16º lugar.
Enquanto isso, mais e mais denúncias recaem sobre a diretoria cruzeirense. Ex-presidentes e torcidas organizadas (aquelas que não estavam sendo pagas pela equipe) começam a defender o afastamento de Itair Machado da diretoria de futebol do clube. O que era um ano cheio de esperança está cada vez mais se tornando um pesadelo.
Intermissão: pausa para a Copa América

A pausa para a Copa América não poderia vir em um momento melhor para o Cruzeiro. Com o clube cheio de instabilidades e o desempenho em campo não escondendo mais essa situação, esses dias livres sem jogos eram a chance do comando da equipe arrumar a casinha e dar uma resposta aos torcedores, que continuavam protestando contra a diretoria do clube e até contra o trabalho de Mano Menezes, de volta a suas tendências defensivas.
As Copas eram a esperança dos torcedores para salvar o ano, já que, na nona rodada, o Cruzeiro era o 18º colocado do Brasileirão. Na Copa do Brasil, o clube tinha se classificado nos pênaltis contra o Fluminense, em partida que ficou marcada pelo belo gol de João Pedro que forçou as cobranças alternadas. Na Libertadores, a Raposa tinha uma tarefa mais dura: o River Plate, atual campeão continental. Mesmo assim, a perspectiva de melhora ainda existia.
10 de julho: Afastamento de Itair Machado
No dia 10 de julho, uma bomba caiu sobre o clube: o afastamento de seu vice presidente de futebol, Itair Machado. Às vésperas da reestreia do clube após a parada para a Copa, no clássico contra o Atlético-MG, pela Copa do Brasil, a Justiça determinou a saída do dirigente.
30 de julho: Eliminação na Libertadores
O dia 30 de julho reservou o triste fim das esperanças do Cruzeiro na Copa Libertadores. Nos pênaltis, o River eliminou a Raposa dentro de um Mineirão lotado, ampliando a crise do clube mineiro. Se Mano Menezes já estava sendo questionado no cargo, agora a pressão estava ainda maior, e já era possível dizer que o trabalho poderia ser interrompido com qualquer resultado negativo.
Fora de campo, a epopeia cruzeirense para pagar salários estava cada vez mais documentada. Atrasando várias remunerações, dirigentes ainda tentavam relegar a crise e tirar o foco das finanças. Além disso, havia sido convocada uma reunião para discutir um possível afastamento do presidente Wagner Pires de Sá. A única esperança do Cruzeiro era nas semi-finais da Copa do Brasil, contra o Internacional.
7 de agosto: Errar é o “Mano”
Após derrota em casa contra o Inter, caiu Mano Menezes, recém tendo completado três anos à frente da equipe mineira. Mano conquistou quatro títulos com a Raposa, mas foi muito criticado por seu estilo conservador, para muitos, em excesso. A demissão do treinador coroava um ano onde “tudo deu errado”, e os planos da diretoria foram por água abaixo.
Quatro dias depois o Cruzeiro anunciou Rogério Ceni, representando uma mudança na ideia de pensar futebol, que só poderia ser feita com tempo e confiança no novo treinador da equipe.
26 de setembro: Rogério Ceni demitido
Rogério Ceni durou pouco mais de um mês no comando do Cruzeiro. O ex-goleiro entrou em atrito com o grupo, criando mais um problema na equipe: um vestiário insatisfeito. Com veteranos como Thiago Neves, Dedé e Edilson entrando em rota de colisão com o então treinador, Itair Machado, de volta ao clube, resolveu dar razão aos jogadores e demitir o técnico.
Neste momento, o Cruzeiro estava fora do Z-4, em 16º lugar, com 19 pontos. Fora de campo, Zezé Perrella, ex-presidente do clube, convocou outra reunião para tentar o afastamento da diretoria.
Os próximos capítulos
Cruzeiro ECDesde a demissão de Rogério Ceni, o Cruzeiro não tem paz, seja dentro ou fora dos gramados. Itair Machado decidiu pelo veterano Abel Braga para ser o novo comandante da equipe, para tentar acalmar o vestiário e os ânimos de atletas como Thiago Neves.
A torcida tomou as dores de Ceni e não concordou com a demissão. O CT Toca da Raposa foi invadido por organizadas. Hoje, dia 10 de outubro, o clube é o 18º colocado no Campeonato Brasileiro, quatro atrás do CSA, o primeiro fora do Z-4.
Sob pressão da torcida e da diretoria, Itair Machado renuncia ao cargo de vice-presidente de futebol do Cruzeiro que, por enquanto, dá poucos sinais de que verá a luz ao fim do túnel tão cedo.
