Linda Caicedo: como a estrela do Real Madrid chegou ao topo do NXGN 2024

É bacana termos chegado nesse nível de expectativa com o futebol de Caicedo, tendo em vista que há muito hype em torno de seu futuro desde seus 14 anos, quando estreou no profissional pelo América de Cali, da Colômbia. Logo em sua estreia, ainda uma pré-adolescente, marcou um gol e acabou a temporada como artilheira e campeã da liga nacional

Além de tudo, ela se tornou a mais jovem jogadora a atuar no campeonato colombiano, a mais jovem artilheira, e a mais jovem indicada ao prêmio de jogadora do ano. Só faltou participar da Copa Libertadores, mas teve que assistir das arquibancadas por ainda não ter idade suficiente para jogar.

Após sua revelação, Caicedo polemizou ao trocar seu clube pelo rival da cidade, o Deportivo Cali. Daí em diante o hype em torno dela só cresceu, e alcançou níveis altíssimos quando o presidente do clube declarou seu futuro: “Linda Caicedo é uma estrela do futebol e conseguimos assinar com ela por um ano”, anunciou. “O contrato foi feito dessa forma porque, mais tarde, ela irá jogar pelo Barcelona, na Espanha”.

Se Caicedo conseguiu suportar toda essa pressão ao seu redor, como podemos descrever a batalha que teve antes mesmo de iniciar no Deportivo Cali? Ela enfrentou diversas dificuldades, como por exemplo, aos 15 anos, a garota foi diagnosticada com câncer de ovário

"Na época, eu não achava que poderia jogar no profissional novamente por causa de todos os tratamentos e cirurgias que tive que passar", disse à FIFA. "Mentalmente, foi um momento muito difícil na minha vida. Sou eternamente grata por ter acontecido quando eu era muito jovem. Consegui me recuperar, também tive o apoio da minha família, e agora me sinto muito bem. O que aconteceu me fez crescer. Me sinto grata e feliz por estar aqui."

É uma maneira incrível dela refletir sobre o que deve ter sido um momento tão aterrorizante, e certamente torna sua ascensão ainda mais admirável e inspiradora.

Assim que Caicedo estava recuperada e pronta para voltar ao futebol, ela retornou o quanto antes ao CT do Deportivo Cali dias após sua última rodada de tratamento de quimioterapia, uma vez que foi declarada livre do câncer. A maneira como ela voltou à forma facilmente após esses seis meses afastada foi admirável.

Em sua primeira temporada completa com o clube, em 2021, ela marcou nove gols em 18 partidas, incluindo quatro em sua primeira experiência na Copa Libertadores. Isso foi o suficiente para torná-la artilheira da competição daquela temporada e garantir a ela um lugar no time do torneio, enquanto na liga ajudou o Deportivo a conquistar o título.

Até aí, já parecia que Caicedo tinha ultrapassado o nível do futebol local. Além disso, ela começou a se destacar também pela seleção nacional. Em 2022, aos 17 anos, ajudou a Colômbia a chegar em três finais - na Copa do Mundo Sub-17, no Campeonato Sul-Americano Sub-17 e na Copa América, esta em nível profissional.

Neste último torneio, ficou claro que ela estava pronta para se juntar às principais ligas do mundo. A ponta recebeu a Bola de Ouro do torneio e até foi nomeada jogadora da partida na final, apesar da Colômbia perder por 1 a 0 para o Brasil.

Uma mudança tão esperada para a Europa ocorreria apenas alguns meses depois, logo após completar 18 anos. No entanto, não foi para o Barcelona, como Marco Caicedo, presidente do Cali, havia dito. Em vez disso, ela se juntaria aos maiores rivais do clube, o Real Madrid, cujo time feminino foi lançado em 2020.

Na capital espanhola, a adolescente está se desenvolvendo em um ritmo bem acelerado. Por muito tempo sendo ‘apenas’ uma atacante goleadora, ela está começando a entender como impactar o ritmo da partida de outras formas. Caicedo está aprendendo que não se trata apenas de correr em direção aos defensores para chegar no gol, e vem reconhecendo o caos que pode causar quando se movimenta de outras formas.

A jovem ainda está aprimorando seu jogo, quando sem a bola, mas o tempo está certamente a seu favor e os avanços que ela está dando são evidentes.

A Copa do Mundo do ano passado exemplificou perfeitamente o que está por vir com seu talento. Assim como as diversas adaptações que teve em sua curta carreira, Caicedo não teve dificuldade para superar o peso da expectativa colocada em seu futebol.

Sendo assim, ela apenas prosperou nesse ambiente de pressão, aproveitando o torneio para mostrar ao mundo seu brilho diante de milhares de torcedores colombianos. A química entre sua bola jogada e os fãs fizeram Sydney, Perth e Melbourne se tornarem Bogotá, Medellín e Cali. "Tem sido realmente incrível", disse ela ao Optus Sport sobre esse apoio. "Não esperávamos que fosse assim. Em cada cidade australiana, eles nos apoiavam em nossos hotéis, aeroportos e estádios."

Se alguém tinha dúvidas de seu poder de decisão, as performances da jogadora acabaram com qualquer questionamento logo em sua estreia. Foram dois prêmios de melhor jogadora da partida, dois gols (sendo um deles o Gol do Torneio) e uma assistência. Contudo, a Colômbia teve sua melhor campanha na história da Copa do Mundo feminina.

Porém, a Copa do Mundo também foi um aviso. Dois dias antes da Colômbia enfrentar a Alemanha, Caicedo desmaiou durante o treinamento. "Linda está muito cansada", disse um membro da equipe médica da Federação Colombiana. "O que aconteceu foi apenas um sintoma de todo o estresse e exigências físicas. Ela está bem e tudo voltou ao normal."

No final daquela partida, ela parecia estar cansada novamente, mas Angelo Marsiglia, o treinador assistente da Colômbia, não estava preocupado ao falar com repórteres após o jogo. "Sabemos que Linda teve alguns problemas no passado, mas nada com que se preocupar", disse ele.

"Ela estava muito cansada, é claro. Ela teve uma aceleração no coração, mas isso não foi um problema e ela decidiu continuar e terminar o jogo." Muitas críticas foram dirigidas à equipe colombiana na época por acreditarem numa gestão irresponsável que não colocou a saúde da jogadora em primeiro lugar.

Caicedo foi muito utilizada por sua seleção nos 12 meses que antecederam a Copa do Mundo. Ela disputou cinco grandes torneios neste período, por três equipes diferentes, tudo enquanto era exposta a uma liga mais competitiva e exigente do que jamais havia conhecido, com o Real Madrid na Espanha.

É improvável que ela continue sendo utilizada pelas seleções de base da Colômbia daqui para frente, mas isso ainda foi um aviso a ser considerado. A saúde do jogador deve sempre vir em primeiro lugar.

Não são apenas a Colômbia e o Real Madrid que esperam que sua chama não se apague. Caicedo tem o potencial para ser uma verdadeira superestrela que inspira todo o esporte, não apenas as equipes que representa. Seu jogo poderia ajudar a impulsionar o futebol feminino colombiano para frente, tendo em vista que ela parece transcender o esporte em seu país de origem.

Mesmo com apenas 19 anos, já é um prazer poder assistir Linda Caicedo dentro das quatro linhas, é o tipo de jogadora de futebol cujas partidas você procura apenas para poder ver momentos de seu destaque em campo. Que continue assim por muito tempo.