Cuidado, torcedores do Chelsea: o retorno de José Mourinho só traria mais problemas

Quando Mourinho chegou ao Chelsea em 2004, ele não apenas encontrou um lar espiritual, mas também físico naquele canto do oeste de Londres. Essa continua sendo a base de sua família desde que ele se mudou de Portugal para a Inglaterra, com sua esposa e filhos - que atualmente residem em uma mansão de £25 milhões (R$ 157,4 milhões) em Londres - permanecendo no Reino Unido, apesar de ele ter trabalho depois por Inter, Real Madrid e Roma.

Noticia-se que Mourinho aproveitaria a oportunidade para assumir o clube que ele chama de "meu Chelsea" pela terceira vez em sua vitoriosa carreira, talvez na crença de que voltar para "casa" poderia despertar algo profundo dentro dele. Isso poderia ajudá-lo a restaurar sua arranhada reputação.

Se este retorno for visto como uma vantagem para um Mourinho oprimido, o que dizer da propriedade do Chelsea? Dado que estão habituados a monitorar os mercados, o Boehly-Clearlake (consórcio que comanda o clube) ficará nervoso com a queda das suas ações desde a sua aquisição, há dois anos, e procurará desesperadamente uma vitória no seu próximo movimento estratégico, já que muitos torcedores estão convictos de que o clube foi definhado sobre seu comando.

Todd Boehly e companhia mostraram no passado que não estão acima de um golpe descarado de relações públicas. Ídolo do clube, Frank Lampard foi trazido como técnico interino após a demissão de Potter em abril de 2023, logo após ter sido demitido pelo Everton, que lutava contra o rebaixamento. Quase inevitavelmente, ele terminou a campanha de forma miserável, com péssimo desempenho e perda de confiança, contribuindo em grande parte para os problemas de Pochettino em 2023/24.

Há uma sensação de déjà vu quando, assim como Potter, o argentino trava uma batalha perdida para atrair a torcida. Tendo visto a sua contratação ter dado errada, a volta de Mourinho seria outra solução de curto prazo para Boehly e o co-proprietário Behdad Eghbali - uma saída que veria suas ações subirem entre a grande maioria dos torcedores. Quanto tempo essa tendência ascendente iria durar, porém, ainda não se sabe.

A relação entre Mourinho e Boehly-Clearlake é algo que você poderia imaginar funcionando, especialmente para o português. Ele gosta de fazer o que quer e não se importa em reclamar dos próprios chefes se seus desejos não forem atendidos.

Tem sido amplamente divulgado que Boehly está intrigado com a ideia de trazer Mourinho de volta ao Chelsea, presumivelmente encantado com a chance de contratar uma das personalidades mais famosas da história do futebol.

Dados os gastos alucinantes até o momento, o consórcio certamente abriria sua carteira e atenderia a todos os desejos de Mourinho na janela de transferências - um cenário de sonho para ele em clubes anteriores, onde sentiu que suas exigências não foram ouvidas.

Se lhe fosse dada tal influência ao mais alto nível, não é surpresa que o lendário técnico esteja aberto a um regresso ao Stamford Bridge.

Desde a errônea contratação de Graham Potter em 2022, uma atmosfera tóxica tomou conta do Chelsea – só se intensificando sob o comando do ex-técnico do Tottenham, Pochettino, que apresenta uma evolução tímida até agora.

Embora a grande maioria da culpa seja, sem dúvida, da cúpula do clube, algo precisa mudar - evidenciado pelos gritos de "vai se f****, Mauricio" - e parece cada vez mais provável que Pochettino perca seu emprego no fim da temporada.

Aconteça o que acontecer depois, aliviar o mal-estar em torno do clube tem de ser uma das maiores prioridades da hierarquia; trazer Mourinho de volta faria isso, embora possa ser apenas a curto prazo, com base no seu histórico recente. O português tem uma aptidão única para promover a união, construída sobre uma mentalidade de "nós contra eles", e nenhum dos seus clubes anteriores se beneficiou tanto disso como o Chelsea.

Pode nem sempre parecer positivo visto de fora, mas não há dúvida de que Mourinho tem a capacidade de unir os torcedores, os jogadores e diretoria, fazendo com que todos se voltem na mesma direção.

Independentemente da queda de nível atual, Mourinho, Chelsea e a base de torcedores do clube estão fortemente ligados. Afinal, ele é o cara que mudou tudo por lá (ficando somente atrás de Roman Abramovich) - definindo a era moderna do Blues e trazendo um sucesso sem precedentes, incomparável e impossível anteriomente.

Ele não apenas seria recebido de braços abertos em Stamford Bridge, mas provavelmente estenderiam um tapete vermelho só para ele.

No entanto, o retorno de Mourinho pode proporcionar uma solução temporária para os problemas do Chelsea fora de campo, mas não há garantia de que ele terá sucesso. A carreira do português de 61 anos seguiu uma trajetória descendente desde que foi dispensado de suas funções por Abramovich pela segunda vez em 2015, com suas passagens por Manchester United, Tottenham e Roma refletindo que ele perdeu a mão à medida que os títulos se tornavam cada vez mais difíceis de se conquistar. Na verdade, o seu último título de campeonato nacional veio com o Chelsea há quase nove anos.

Ele argumentaria que não existiam estruturas para lhe proporcionar sucesso no Manchester United (onde a forma, o estilo de jogo e a aversão a usar jogadores jovens assinaram sua sentença) ou no Tottenham (onde as táticas defensivas percebidas e suas críticas públicas aos jogadores foram o problema), e ele merece crédito por parte de seu trabalho na Roma, onde venceu a primeira Conference e chegou à final da Europa League, apesar de trabalhar com um orçamento relativamente apertado.

No entanto, pela primeira vez na sua carreira, o seu percentual de vitórias caiu para menos de 50% na capital italiana e ele nunca chegou perto de ficar entre os quatro primeiros nas suas duas temporadas e meia no Campeonato Italiano. Em termos de futebol em exibição, o ex-jogador dos Giallorossi e famoso crítico de Mourinho, Antonio Cassano, disse no ano passado: "Ele fez a Roma jogar de uma forma indigna e nojenta. É tudo voltado para ele. Não me importo com os resultados que ele alcançou".

As pessoas que tomam decisão no Chelsea devem se perguntar o que realmente querem desta próxima escolha e equilibrar isso com o que o clube realmente precisa no momento mais nebuloso de sua história moderna.

Os torcedores ficarão apaziguados a curto prazo e o mal-estar será aliviado por enquanto, mas Mourinho tem se afastado cada vez mais do grande treinador e personalidade que já foi - e, com ele no comando, o clima pesado que atualmente assola o Blues poderá retornar mais cedo ou mais tarde.

Mesmo quando os resultados foram positivos, a sua passagem pela Roma foi caracterizada por descontroles, repreensões de árbitros, suspensões, conflitos com seus próprios jogadores e queixas incessantes. Tirando o título conquistado desta equação, o cenário era tão tóxico quanto aquele em que o Chelsea se encontra hoje, se não mais.

Na verdade, responder à questão do que o Chelsea precisa do seu próximo técnico é onde a lógica de renomear Mourinho pela terceira vez cai por terra. O Chelsea está atolado numa transição aparentemente interminável e o português tem a fama de ser incapaz de conduzir um trabalho depois de dois anos. Além disso, é conhecido por lidar mal com jovens promessas e jogadores formados em casa e o time atual do Chelsea está cheio deles.

É plausível que voltar à “casa”, ao oeste de Londres, o possa revigorar, e ele seria certamente apoiado financeiramente por um grupo de proprietários imprudentes e influenciados por torcedores exigentes, mas mesmo assim é difícil ver um caminho para o sucesso.

Posto isto, a mediocridade sob o comando de Mourinho seria muito mais apropriada para alguns do que a obscuridade no meio da tabela sob o comando de Mauricio Pochettino. Mas a demissão do português em 2015 demonstrou que a paciência da inconstante torcida tem limite, mesmo para o técnico mais bem-sucedido da história do clube.

A menos que os torcedores do Chelsea aprendam a tolerar a mediocridade de longo prazo e a realidade intermediária de que Pochettino falou, a terceira passagem de Mourinho provavelmente terminará da mesma forma que as duas anteriores.