Por que a Roma demitiu José Mourinho para deixar o "fundo do poço"

Quando chegou à Roma, ‘The Special One’ foi recebido como um salvador da pátria, e ainda conquistou um título europeu logo de cara - a Conference League. Cada ato e palavra do português eram aceitos e até duplicados pela torcida. Se ele reclamava com o árbitro, o mesmo se fazia, e por aí vai.

Até havia algumas críticas ao seu estilo de jogo - ou à falta dele, e a reprovação de jogadores como o ex-atacante Antonio Cassano. No entanto, os problemas eram jogados para debaixo do tapete.

Com o tempo, alguns torcedores foram desmistificando Mourinho, conforme as más performances e resultados negativos apareciam. E, mais uma vez, em sua terceira temporada por um clube, o trabalho começou a declinar.

A derrota de domingo no San Siro deixou a Roma na nona colocação da Série A, sendo que venceu apenas uma de suas últimas seis partidas na liga. Para piorar, foram eliminados pela Lazio na semana passada pela Coppa Italia. Consequentemente, o Gazzetta dello Sport apontou que a equipe está em uma “profunda crise”, aumentando as dúvidas sobre o trabalho atual do bicampeão da Champions League.

Antes mesmo da partida, já haviam relatos de que os proprietários da Roma, The Friedkin Group, já consideravam trocar Mourinho por Daniele De Rossi. Após o jogo, surgiu o assunto de que ele mesmo estaria disposto a renunciar, alegando que os jogadores não aderiam mais ao estilo de jogo.

Antes da partida contra o Milan, Mourinho contou que teve uma reunião tensa com os jogadores, e realizou duras críticas a “alguns indivíduos”. Porém, mesmo com a insatisfação sobre o elenco, o português entendia o esforço e a sobrecarga da equipe e não nomeou nenhum culpado.

E esse era o ‘X’ da questão. Nem o próprio treinador acreditava que podia chegar longe na Série A. Ele destacou os problemas de lesões da equipe, especificamente os de Paulo Dybala, embora também tenha reconhecido que a Roma não é a mesma sem o argentino.

Nunca é a melhor opção para um treinador dedicar toda a produtividade de seu time a um único jogador, ainda mais com um histórico físico negativo. Mas, não ter reposições para o camisa 21 foi a gota d'água para Mourinho retomar um tema que sempre o incomodou em relação ao elenco.

“Estamos a quatro pontos de uma meta (Champions League) que, se não fosse por nós, todos diriam que seria algo impossível”, argumentou na semana passada. “Se você olhar para o potencial dos times que realmente deveriam estar nos quatro primeiros, não há comparação conosco.”

“Mas estes somos nós. Esta é a Roma, com os torcedores mais incríveis que já vi, e com um técnico que as pessoas acham que se chama José ‘Harry Potter’ Mourinho, e não José Mourinho Félix, cujo nome eleva as expectativas imediatamente.” afirmou.

Apesar de Mourinho ter reclamado das lesões a temporada inteira, seus adversários também conviveram com isso. Ele também ressaltou os requisitos do Fair Play Financeiro, que estão prejudicando os Giallorossi a não poderem gastar como Manchester City ou Chelsea. Porém, é fato que muitas equipes da Série A estão se saindo melhor com menos. Fiorentina, Lazio, Bologna e Atalanta são alguns exemplos disso.

Esta é a menor pontuação da Roma em 20 jogos na Série A desde a temporada 2002/03 (27 pontos), o que contraria a “superação” alegada. Além disso, é a pior média de pontos (1,61) de qualquer treinador da Giallorossi que comandou por mais de 50 jogos na era dos pontos corridos.

Sendo assim, o The Friedkin Group estava no seu direito de demiti-lo. A maior surpresa é que isso tenha sido agora, em uma péssima posição econômica. Entretanto, os empresários afirmaram que uma mudança imediata seria o melhor para o clube, a fim de ainda tentar uma vaga na Champions League. Vale lembrar que o português não levou a Roma ao G-4 em nenhuma temporada na Itália.

Mourinho fez um bom trabalho nas duas primeiras temporadas pela Roma, mesmo que em circunstâncias complicadas no Olímpico. Ele não deveria ser o único responsável pelos problemas do clube. Tanto é que, após três anos no cargo, o diretor esportivo Tiago Pinto deixará o clube no próximo mês. Acusado por uma gestão de fracasso, até as chegadas de Dybala e Romelu Lukaku foram alvos de críticas.

A diretoria ignorou os apelos do “The Special One” por um maior apoio do clube, especialmente para lidar com a imprensa. Deu a entender que ele ficou sobrecarregado, como se ocupasse funções além de um técnico. Contudo, os problemas são gerais agora, desde os resultados péssimos em campo até a conduta à beira do campo. “Não podemos afundar mais”, lamentou Belotti à DAZN no domingo à noite.

“Romanista para a vida toda”. Essa foi a faixa estendida pelos torcedores da Roma no Stadio Olímpico há pouco mais de um mês. É fato que, apesar de sua saída ter se tornado inevitável, ele sempre será bem-vindo no clube da capital.