Como Bruno Lage e Luís Castro mostram a transformação do Botafogo na escolha de técnicos

"Mantivemos o Chamusca no cargo devido ao profissionalismo dele, pelo fato dos atletas gostarem dele, mas também pela dificuldade que estamos em achar um novo técnico. Ninguém quer vir". As palavras teriam sido ditas pelo presidente Durcesio Mello, em julho de 2021, para botafoguenses revoltados que pediam a demissão do técnico Marcelo Chamusca. Na época, o Alvinegro estava mais perto da zona de rebaixamento para a terceira divisão do que do topo da tabela na Série B após 11 rodadas.

O destino ajudou o Botafogo – ao contrário da crença que põe a sorte como inimiga alvinegra. Vanderlei Luxemburgo, opção naquele julho de 2021, não veio. Quando o nome de Lisca surgiu na mesa, houve certa empolgação mas o técnico mudou de ideia, na última hora, e preferiu ir para o Vasco (onde não foi feliz). Enderson Moreira, que assim como o próprio Botafogo não vinha conseguindo bons resultados recentes, foi o contratado em 2021 e protagonizou uma histórica campanha de recuperação que culminou com o título e retorno à elite. Mas apesar do aproveitamento espetacular, Enderson não estava nos planos do novo dono do futebol alvinegro a partir de 2022.

John Textor tem um plano. E escolheu Luís Castro para fincar as bases de uma reformulação total no futebol botafoguense. Para contratar o português, no início de 2022, foi preciso vencer a concorrência com o Corinthians. Para a surpresa de muitos, acostumados a ver o Botafogo sendo constantemente superado em tais negociações nas últimas décadas, Luís Castro foi anunciado como técnico do Glorioso. Deixou o clube em julho de 2023 por escolha própria, após oferta do futebol da Arábia Saudita, mas ajudando a deixar o time na liderança do Brasileirão e com status de candidato real ao título.

Com o baque pela saída de Luís Castro, Textor fez de Bruno Lage a sua primeira opção para o cargo. Lage, também português, se encaixava no perfil buscado: seus times jogam um futebol ofensivo, mas também adaptativo e de rápidas transições, e Lage também teve sucesso para identificar e lapidar jovens talentos (João Félix sendo o maior exemplo). E teve uma boa experiência ao pegar um Benfica no meio de um campeonato, ajustando rotas para conduzir o xará Glorioso ao título português. Talvez, a melhor opção para herdar o trabalho deixado por Castro.

O problema é que Bruno Lage já havia recusado duas investidas anteriores de clubes brasileiros. No final de 2022 o Corinthians tentou, e recentemente a tentativa foi do Atlético-MG. Resumindo a ópera, Lage não queria trabalhar no Brasil. John Textor o convenceu do contrário. O salário, lógico, é bom, mas o projeto e a possibilidade de título nacional também mexeram com o luso.

Bruno Lage é o primeiro treinador estrangeiro com experiência de Premier League (onde comandou o tradicional Wolverhampton) a chegar ao futebol brasileiro. Se vai dar certo, com o Botafogo campeão brasileiro ou não, só o tempo pode responder. O futebol também é feito de encaixes específicos e aleatórios, ao contrário do mundo dos videogames. Mas o Botafogo trouxe o profissional que queria, e que escolheu com cuidado dentro de uma situação específica. Uma realidade muito diferente se comparada à época do “ninguém quer vir”.