Pep Guardiola Manchester City 2022Getty Images

Treinamos no Manchester City de Guardiola por um dia

Me lembro de, aos 10 anos de idade, estar aprendendo a arte do futebol e cometer um erro tático que fez o professor me chamar a atenção na frente de todos. O erro terrível foi dar um passe de meio de campo para o lateral, que tinha tempo e espaço para começar um ataque. “Nunca, nunca, dê um passe como aquele, avance com a bola", ouvi.

De vez em quando eu ainda penso na “sabedoria” daquele professor quando vejo jovens jogadores tecnicamente excelentes e corajosos, que surgem das bases dos times ingleses e chegam aos melhores times da Premier League, antes de chamarem atenção de olheiros da Alemanha e de toda a Europa mesmo sendo tão novos. E um bom exemplo disso são as joias do Manchester City.

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Mas quão diferente é o treinamento que eles recebem daquele que eu recebi quando criança? Será que eu poderia ter entrado no páreo se tivesse aprendido a jogar no estilo de Pep Guardiola desde muito cedo?

Jonathan Smith

A segunda pergunta é a mais fácil de responder: se você não tem a técnica, então nem o melhor treinador do mundo não vai ajudar. O que significa que eu, infelizmente, estava sempre destinado a estar assistindo das arquibancadas. O surpreendente, porém, foi descobrir que o meu professor de educação física não tinha um pensamento tão arcaico quanto eu imaginava.

Fui convidado pelo Manchester City, como parte do lançamento da parceria com a OKX, sua nova patrocinadora, a participar de um treinamento de Pep Guardiola no Campus Etihad, para observar e entender o que se passa durante as sessões comandadas por um dos melhores do mundo.

Jonathan Smith

As táticas, claro, são muito mais sofisticadas do que as que eu via nos meus tempos de colégio, mas a mensagem é um pouco semelhante: levar a bola para o ataque o mais rápido possível - mas sempre com qualidade.

Muitos podem ler isso e lembrar da máquina de passes que é o Manchester City de Pep Guardiola, que até chega a cansar os adversários - o próprio Erling Haaland, reforço do time, lembrou que não encostou na bola por 25 minutos em um jogo contra a nova equipe, quando ainda defendia o Borussia Dortmund. No entanto, o treinador não gosta do termo “tiki-taka”, que ficou muito ligado ao seu estilo de jogo.

"Tiki-taka significa passar a bola porque sim, sem intenção clara. E isso é inútil", disse Guardiola no livro de Marti Perenau, sobre sua primeira temporada no Bayern de Munique. Ele também disse que colocar a bola no fundo da rede é a coisa mais difícil no futebol, e é por isso que tanta atenção é atraída para o ataque.

O treinamento de duas horas começa com um jogo de quatro contra quatro, em que os jogadores podem marcar em qualquer um dos dois gols, para dar ainda mais ênfase à importância do chute. As bolas são lançadas da linha lateral e o primeiro pensamento é chutar ou encontrar um companheiro de equipe em uma posição melhor que possa fazer o mesmo rapidamente. O exercício aguça os instintos e tira o impulso dos jogadores de sempre passar a bola de lado.

Neste exercício a defesa, é claro, é importante, mas o ataque é muito mais, é fundamental para o jogo, enquanto os defensores não precisam de um treinador de alto nível para serem efetivos. Aqui, o mais importante é pressionar para recuperar a bola rapidamente, fechando os adversários e trabalhando em equipe.

O "bobinho” também faz parte do treinamento. É um exercício importante para melhorar a noção e a movimentação, assim como a técnica. Mostra ao atacante que é melhor um passe preciso do que um troca-troca ao redor do círculo - é tudo parte de um cenário de jogo em que os adversários podem colocar o City rapidamente na frente.

A primeira filosofia de Guardiola na defesa é simples: quanto mais longe a bola estiver do gol, mais difícil é para o adversário marcar. Ou seja, o ideal é levar a bola da defesa para o ataque o mais rápido possível - não importa se seja uma ligação direta de Ederson com o ataque, ou se a jogada vai passar por Rodri no meio de campo.

Também para enfatizar a importância da bola no ataque, Pep introduz uma regra nova no meio do treino: é proibido passar a bola para trás. Isso faz com que os jogadores pensem sempre em atacar.

E, além de todo o trabalho dentro de campo, o que acontece fora dele também é essencial. Os jogadores ganham entendimento total de seus papéis e dos de seus companheiros, dos posicionamentos e estilos de passe e jogo de todos dentro de campo e, principalmente, da movimentação de cada um.

Manchester City

Pep preza muito os triângulos, que sempre dão opções para os jogadores e para a bola em busca da melhor escolha em prol da movimentação do time. Os laterais e pontas são encorajados a formar os triângulos altos e largos para darem mais opções aos meio-campistas - os passes longos alongam as equipes e abrem espaços para os jogadores atacarem. No City, isso é natural, enquanto outros times ainda tentam implantar essa filosofia.

Também é muito importante que os jogadores, desde as categorias de base, se sintam muito confortáveis com a bola nos pés e aproveitem o jogo. E é por isso que jogadores como Phil Foden e Jadon Sancho, que passaram pelas bases do clube, se encaixam com naturalidade e obtém sucesso no time.

O futebol é um jogo simples, mas até mesmo Guardiola diz que ainda está aprendendo. Mesmo uma breve sessão de treinamento ofereceu uma visão incrível do que fez o City ter tanto sucesso nos últimos anos.

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