Quem é Juanma Lillo, inspiração e novo auxiliar de Guardiola no Manchester City

Com 37 anos de carreira como treinador de futebol, Juanma Lillo nunca foi campeão. Nunca teve uma temporada completa na primeira divisão espanhola, e sua maior proeza talvez seja ter tirado o Tenerife de um rebaixamento certo em 1997-98. Mesmo sem ter um currículo tão impressionante, trata-se de um dos técnicos mais importantes da história do esporte.

Agora novo auxiliar do Manchester City, o espanhol de 54 anos é considerado o "pai" do 4-2-3-1: criou o esquema durante a temporada de 1991-92, quando treinava o Cultural Leonesa, na terceira divisão do país. Além disso, também influenciou no jogo de posição e deixou alguns pupilos importantes: Jorge Sampaoli e seu novo chefe no clube inglês, Pep Guardiola.

Assim, preparamos um texto para você conhecer um pouco sobre uma figura que, mesmo passando praticamente toda a sua carreira na "periferia" do mundo da bola, conseguiu marcar a história do futebol.

A trajetória de Juanma Lillo

Com 17 anos, idade em que a maioria do técnicos de futebol ainda estava sonhando com uma carreira como jogador, Juanma já dava os seus primeiros como treinador, em equipes amadoras de sua região. Assim, três anos depois, recebeu sua primeira oportunidade no Mirandés, e promoveu o time da quarta para a terceira divisão espanhola.

Depois de ficar um ano afastado e não ter o mesmo sucesso em sua segunda temporada, foi para o Cultural Leonesa, também da terceirona. Lá, começaria a influenciar o futuro do futebol mundial.

Procurando uma maneira simétrica de jogar com quatro atacantes, a fim de montar um sistema ofensivo na equipe, Lillo resolveu posicionar um atacante central no comando, musicionado por três meia-atacantes, dois pelos lados e um mais encostado no centroavante. Dois volantes davam consistência ao meio de campo. Era o primeiro 4-2-3-1.

"Minha intenção era pressionar e roubar a bola no campo de ataque. Ter mais atacantes significava poder subir com o meio de campo e a defesa. Todos ganham." declarou Lillo em entrevista ao The Guardian, em 2008. "Os jogadores reagiram incrédulos, pareciam surpresos ao se posicionarem."

No ano seguinte, já no Salamanca, montou um dos trabalhos mais impressionantes da história do futebol espanhol, sempre seguindo suas convicções. Em 1992-93, ficou a poucos jogos de subir para a segunda divisão. No ano seguinte, conseguiu a promoção. Estando cotado ao rebaixamento, já que tinha acabado de subir, conseguiu levar o clube para a primeira divisão espanhola, ficando na quarta colocação na segundona.

Foi demitido na segunda metade do ano, já que não conseguiu fazer um bom trabalho no Salamanca. Foi sua criptonita: nunca conseguiu alcançar o mesmo nível de jogo nas primeiras divisões, seja de qual for o país. Foi medíocre no Oviedo - mas deixou uma sementinha em um volante catalão -, no ano seguinte, salvou o Tenerife do rebaixamento em 1997/98, passou quatro jogos no Zaragoza...e voltaria à segundona em 2003/04.

Rodou pela segunda divisão em clubes como o Terrassa e o Ciudad de Murcia. Se juntou a Pep Guardiola - e Loco Abreu - no Dorados de Sinaloa, no México. Recebeu uma grande oportunidade no Real Sociedad, mas não conseguiu levar a equipe para a La Liga. Foi esquecível no Almería. Não conseguiu ganhar títulos no Millonarios, da Colômbia, e nem substituindo Reinaldo Rueda no Atlético Nacional, favoritaço ao título do país.

Assim, passou mais de uma década sem fazer um grande trabalho. Recebeu oportunidades e acompanhou Jorge Sampaoli no Sevilla e na seleção chilena: o argentino é outro de seus grandes fãs.

Nestes últimos dois anos, estava na Ásia, onde treinou Andrés Iniesta no Vissel Kobe, e se mandou para o Qingdao Huanghai, da segundona chinesa. Isso, antes de aparecer a proposta de Guardiola, é claro.

A relação de Lillo e Guardiola

Foi durante sua curta passagem pelo Real Oviedo, depois de uma vitória do Barcelona por 4 a 2, nas Astúrias. Ao chegar em seu vestiário, Lillo encontrou o meia, que havia se impressionado com o desempenho do rival.

Lá, Juanma Lillo e Pep Guardiola trocaram sua primeira conversa sobre futebol. "Ele me pediu um minuto, queria falar sobre futebol. Como se eu não tivesse tempo para falar com um dos melhores do mundo." relembrou o agora auxiliar do Manchester City. "Me disse que adorou meu time e queria manter contato. Começou como algo profissional, mas se tornou muito, muito mais do que isso."

A amizade dos dois fez com que, quando o treinador foi para o México, treinar o Dorados, Guardiola foi seu primeiro telefonema. O catalão ficou por seis meses no pequeno clube de Sinaloa aprendendo com seu "mentor". "No dia em que Pep chegou, observou nossos treinos e correu para o vestiário para procurar papel e caneta. Depois, sentou com Lillo e foram conversar." lembrou Loco Abreu, que fazia parte daquela equipe.

Pep Guardiola Juanma Lillo Manchester City GFXGetty/Goal

"Acontecia todos os dias. Então, eu comecei a falar: 'posso ir junto?' Queria saber o que eles estavam conversando. Sentei com eles e não falei nada. Pep falava: 'então, Juanma, nós treinamos três contra três em espaço reduzido hoje, com um coringa. Por quê?' Ele queria saber a razão de todos os treinos, se era para moldar o time ou descobrir fraquezas do adversário."

"Um dia, Juanma me puxou de lado e falou: 'Não existe um limite para o potencial de Pep'. Lembre-se disso."

Agora, os dois vão se reunir novamente, em papéis opostos. E esse talvez seja o maior reconhecimento que Lillo terá em toda a sua carreira: a admiração de um dos maiores da história.

O perfil tático de Juanma Lillo

Em 2010, quando estava no Almería, Lillo quebrou uma de suas principais idiossincrasias. O treinador assiste a todos os jogos do banco de reservas, sem nunca se levantar, para não tirar o protagonismo dos jogadores. Contra o Barcelona de Pep Guardiola, no auge do tiki-taka, perdeu por 8 a 0 e se levantou, para mostrar que fazia parte, sim, da derrota.

Lillo viu seu grande amigo e "sucessor" utilizar parte daquilo que ele havia inovado, nos primeiros passos de sua carreira, para lhe dar uma verdadeira surra. Claro, o catalão aperfeiçoou - ou "acroyfeiçoou" - os modelos de jogo criados pelo espanhol, mas tudo estava ali.

Assim, para entender o perfil tático de Lillo, é fundamental perceber que, mesmo que suas ideias pareçam convencionais hoje, não eram naquela época. 

O esquema do espanhol, é focado, sempre, no ataque, e foi criado para possibilitar o maior número de jogadas perigosas que seja possível. Os jogadores são divididos em blocos, que se aproximam, criando a possibilidade de um toque rápido de bola. Os atletas, ao mesmo tempo, tem que saber a hora de manter suas posições e de se movimentar para cobrir espaços abertos: tudo para quebrar a marcação do rival e ir progredindo com a posse de bola, conforme os organizadores vão tendo espaço para avançar com a bola dominada.

Do mesmo jeito, para abrir buracos no sistema defensivo adversário, é comum termos jogadores muito abertos dos dois lados, trabalhando o campo inteiro de jogo. A saída de bola tende a ser trabalhada, sempre abrindo linhas de passe para quem está no início da jogada. Mesmo assim, os times de Lillo não abrem mão do lançamento para saírem de situações perigosas. Lançamento, e não chutão.

Assim, enquanto o time inverte a bola de lado, trabalhando com amplitude, os jogadores vão se movimentando, para sempre criar opções de passe para os jogadores, ou se fixam mais avançado, dando a possibilidade que quem estiver conduzindo a bola tenha mais espaço e force a defesa a sair de posição.

Quando perde a bola, marcação pressão, para logo a recuperar, pegar defesas desprevenidas ou possibilitar uma nova oportunidade de construir uma jogada. Assim, o encaixe é quebrar as linhas de passe, forçar com que o defensor adversárias tome decisões rápidas, que pode ser um erro técnico ou um chutão.

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