Palmeiras x Santos na final celebra Crias da Academia e Meninos da Vila

Terminado o último jogo do Santos antes da final da Copa Libertadores, uma derrota por 2 a 0 para o Atlético-MG com time inteiramente reserva em Belo Horizonte, uma das primeiras perguntas para o técnico Cuca foi a respeito de Marcos Leonardo, atacante de 17 anos que ganhou uma oportunidade como titular. Quando ele saiu, na segunda etapa, deu lugar a Renyer, da mesma idade.

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"Quanto vale para nós estarmos com 21 jogadores aqui e 17 serem formados na base, pegando corpo no Mineirão contra o Galo candidato a título?", perguntou o treinador.

Praticamente ao mesmo tempo, mas em São Paulo, Abel Ferreira também conversava com a imprensa. E o assunto, para além da preparação do Palmeiras rumo à decisão de sábado no Maracanã, era detalhar o uso dos jovens jogadores.

"Agora parece fácil [subir jogador da base], mas para chegar aqui em cima precisa competir. O moleque que não competir está fora. É muito agradável, por exemplo, ver o Vanderlan, que entrou 10, 15 minutos para competir", comentou o português após o empate por 1 a 1 diante do Vasco.

O lateral-esquerdo de 18 anos se tornou o 13º jogador das categorias de base do Palmeiras a estrear nesta temporada, número sem precedentes na história recente do clube. No duelo diante dos cariocas, três titulares e todos os dez reservas eram formados dentro do Alviverde.

No sábado, o encontro valendo a taça mais desejada do futebol das Américas coloca frente a frente esses dois ambientes. De um lado, a já consolidada ideia dos Meninos da Vila, em que os times de sucesso sempre têm protagonismo de jogadores formados desde cedo na Baixada. De outro, o surgimento das Crias da Academia, depois de anos renegadas nos milionários elencos de cima.

O Palmeiras dos altos investimentos chegou a colocar uma meta para 2018. A ideia era que a partir dali o time tivesse pelo menos quatro garotos atuando no mínimo 45 minutos em dez partidas da temporada. Mas não chegou nem perto disso. Foram apenas três utilizados, e quem mais jogou esteve em sete partidas. Luiz Felipe Scolari, técnico mais longevo no período, não se aproximou muito das revelações, ainda que os títulos se acumulassem entre os garotos.

Depois, em 2019, as participações também foram pontuais, até o surgimento de Gabriel Verón no fim do ano, após brilhar no título mundial sub-17 pela seleção brasileira. Aí, a chave virou, alcançando esta temporada de 13 estreias – e ainda podem ser mais na reta final do Brasileirão.

Entre elas, Gabriel Menino já chegou até na seleção principal, Danilo e Patrick de Paula também se tornaram fundamentais, e Verón completou 18 anos sendo bem utilizado e deixando seus gols. Pelo menos dois deles devem ser titulares na final, e a tendência é que todos joguem ao menos alguns minutos. Wesley, machucado, está fora, mas poderia ser o quinto da lista.

"Eu falava para o Gustavo Goméz. Todo jogo via o Menino, o Patrick, o Danilo e o Verón muito tranquilos. Parece que os caras vinham jogando há muito tempo já. O cara tem personalidade dentro de campo. Eles são diferentes", comentou o lateral-esquerdo uruguaio Viña em entrevista ao podcast da Conmebol Libertadores, admitindo que, aos 23 anos, sempre fica nervoso antes das partidas, mas não vê isso nos meninos palmeirenses.

Primeiro, a molecada foi a marca do título paulista de 2020, quando Vanderlei Luxemburgo não só os promoveu, como viu Patrick bater o pênalti decisivo diante do Corinthians. Eles seguiram se firmando e ganhando mais espaço principalmente com as saídas de Bruno Henrique e Ramires, além da lesão de Felipe Melo. No grande jogo do Palmeiras na campanha continental, a vitória por 3 a 0 sobre o River Plate na Argentina, o trio do meio-campo era inteiro feito em casa.

Do lado santista, essa marca sempre foi nitidamente maior. A Vila Belmiro é o lugar onde tradicionalmente não se espera a maioridade para colocar os boleiros em campo. Neste século, Gabigol, Victor Andrade, Rodrygo e Diego são alguns dos que estrearam ainda aos 16 anos. Em outubro, Ângelo pisou no Maracanã com 15 anos e 10 meses, mais precoce até que Pelé, e atrás só de outro grande artilheiro histórico, Coutinho, que debutou aos 14.

"É uma sensação inexplicável subir tão cedo. O professor deixou a gente à vontade e foi muito tranquilo para chegar no ambiente e se comunicar com a rapaziada. Tudo na amizade", contou Ângelo em sua apresentação na TV oficial do clube, há três meses, com uma naturalidade muitas vezes vista ali, no CT santista.

Para a finalíssima, Kaio Jorge, 19, tem presença certa no ataque, e Sandry, 18, titular nos duelos contra o Grêmio, mas reserva nos jogos contra o Boca Juniors, disputa um lugar na equipe que começa o jogo. Outros com longa estrada no clube já nem são mais tão garotos assim, mas carregam também o carimbo de Meninos da Vila no onze principal: o goleiro John, 24, que neste ano tem se firmado; o zagueiro Lucas Veríssimo, 25, que chegou ao Santos em 2013 para integrar o elenco sub-20 e acaba de ser vendido para o Benfica; e o volante Alison, 27, desde os 11 no clube.

No banco, Cuca ainda tem várias opções de pouca idade e muita história com a camisa alvinegra. Vinicius Balieiro e Bruno Marques, ambos de 21 anos, chegaram para atuar na equipe sub-20, enquanto Wagner Leonardo, 21, Guilherme Nunes, 22, Lucas Lourenço, 19, e Marcos Leonardo, 17, estão há anos no clube. Os outros dois goleiros do elenco, João Paulo e Vladimir, também são da casa. 

Eles mantêm uma tradição de forte presença da base nas últimas grandes campanhas santistas na história da Copa Libertadores. O mais recente título, em 2011, veio com a geração de Neymar e Ganso, e em 2003, na outra final que disputou no século, acabou vice com o time de Diego e Robinho.

Já o Palmeiras tinha elencos muito mais experientes nas finais de 1999 e 2000, e entre os principais jogadores só Marcos e Galeano, ambos já na casa dos 28 anos, tinham começado a carreira no clube. A Era Parmalat, tanto quanto esses anos do investimento da Crefisa, era muito mais voltada às contratações que à revelação de atletas.

Agora, se a final no Maracanã pode ser palco da consagração de Weverton, momento do tricampeonato de Pará e palco de um gol de título de Luiz Adriano ou Marinho, haverá um espaço especial para os jovens talentos na memória do clássico. O lado verde e branco segue com força no mercado, é verdade, mas finalmente permitiu que a base pudesse participar da identidade do time principal, renascendo a ideia das Crias da Academia. O quadro alvinegro, por sua vez, e como sempre, tem um tempero feito em casa na formação de uma nova equipe marcante, carregando a marca dos Meninos da Vila em mais um jogo para a história.

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