jorginho(C)Getty Images

Os argumentos e números que podem colocar Jorginho na briga pela Bola de Ouro

Nenhum jogador de futebol profissional foi tão vitorioso nesta temporada 2020-21 quanto o ítalo-brasileiro Jorginho. Pelo Chelsea, o meio-campista foi parte importante do time que conquistou a Champions League batendo o Manchester City na final, e na Euro 2020 também foi importantíssimo para a seleção italiana ficar com a taça após bater a Inglaterra nos pênaltis. E quando um personagem é tão vitorioso assim em uma única temporada, é impossível não tropeçar no debate/questionamento: será ele o eleito melhor do mundo na Bola de Ouro, da France Football, e no The Best, da Fifa?

Importante deixar claro aqui: este texto não é uma defesa da tese de que Jorginho tenha que ser o Bola de Ouro, assim como você não vai ler nestas linhas que será um absurdo se ele, de fato, acabar sendo premiado assim. Na verdade, a opinião do autor do texto é de que Bola de Ouro e The Best são exageradamente valorizados. O que vamos listar aqui é a forma como costuma funcionar este tipo de premiação, além de lembrarmos alguns dos predicados apresentados por um dos melhores meio-campistas desta temporada.

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Os títulos falam por si

Nos últimos anos, tradicionalmente – e com raríssimas exceções – o eleito melhor do mundo, seja por Fifa ou France Football (ou ambas), foi um jogador do time campeão da Champions League ou da Eurocopa ou Copa do Mundo. A temporada 2020-21 de clubes foi marcada por excelentes atuações de Kevin De Bruyne pelo Manchester City, por exemplo, mas o belga saiu lesionado da final europeia e ainda viu sua equipe sair de campo derrotada para o Chelsea – além de não ter chegado nem às semifinais da Euro.

Cristiano Ronaldo e Messi levantaram “somente” as copas nacionais de Itália e Espanha, respectivamente por Juventus e Barcelona (e aqui as aspas são usadas de forma irônica, não pela falta de importância das taças, mas por serem muito pouco dentro do gigantismo constante apresentado por ambos). N’Golo Kanté, por outro lado, foi exaltado como o coração e pulmão do Chelsea campeão da Champions League, mas aí veio o desempenho decepcionante da França na Euro 2020, com eliminação para a Suíça nas quartas de final.

Messi teve atuação exuberante até a semifinal da Copa América e enfim pôde conquistar um título por seu país. Mas neste ponto entraria o conceito de que a Eurocopa exige mais, é mais difícil de se ganhar e, portanto, hoje é um título maior do que o da Copa América. Sendo assim, aparece Jorginho, peça importante tanto no Chelsea campeão da Champions quanto para a Itália que levantou a Euro 2020.

Jorginho e o também ítalo-brasileiro Emerson Palmieri, outro atleta do Chelsea e da Azzurra, entraram em uma lista rara de jogadores que foram campeões da Champions e Euro na mesma temporada. Eles igualaram os seguintes nomes: Luis Suárez (Inter de Milão e Espanha em 1964), Hans van Breukelen, Ronald Koeman, Berry van Aerle e Gerald Vanenburg (PSV e Holanda em 1988), Fernando Torres e Juan Mata (Chelsea e Espanha, 2012) além de Cristiano Ronaldo e Pepe (Real Madrid e Portugal, 2016).

E vale sempre ressaltar: os títulos europeus, seja por clube ou seleção, costumaram contar muito nas premiações individuais dos últimos anos.

Por que não Emerson Palmieri?

Emerson Palmieri and Serge AurierGetty Images(Foto: Getty Images)

Mas se Jorginho seria candidato a melhor do mundo pelas conquistas, por que com Emerson Palmieri seria diferente? Porque o lateral foi reserva da Itália, entrando apenas nos últimos jogos da Euro após a lesão do titular Spinazzola, e foi titular em apenas sete jogos do Chelsea em toda a temporada – sendo duas vezes na Champions League. Jorginho foi titular em 12 dos 12 jogos da equipe inglesa na Champions e sempre foi peça vital no selecionado italiano treinado por Roberto Mancini. Emerson fez parte, Jorginho foi imensamente mais do que isso.

Estatísticas: a importância de Jorginho

Jorginho ChelseaGetty Images(Foto: Getty Images)

No futebol, o protagonismo costuma ser direcionado para atacantes e meias porque são eles os que aparecem nos momentos mais importantes de criação ou finalização de chances em gols. Jorginho obviamente não é um artilheiro, longe (muito longe!) disso. O ítalo-brasileiro é mais um maestro que toma decisões rápidas na construção de jogadas, faz trabalho defensivo, e busca manter suas equipes com bom domínio de posse de bola. E nesta temporada ele foi excelente nestes três pontos, tanto por Chelsea quanto pela Itália.

Vamos aos números defensivos de Jorginho pelo Chelsea, um time com DNA de contra-ataque, na vitoriosa campanha da última Champions League: ele foi o jogador de linha com mais recuperações de bola pelo clube (76), com mais interceptações (26, quase o dobro em relação ao seu companheiro Kanté), mais desarmes (os mesmos 26 do lateral Azpilicueta) além de ter sido o meio-campista com mais bloqueios feitos no time (5).

Dentre os números ofensivos pelo clube inglês na Champions, chama atenção apenas uma assistência e um gol. Mas no Chelsea ninguém ultrapassou a marca de duas assistências e não houve também um grande artilheiro – Giroud, com seis gols, e Timo Werner, com quatro, encabeçaram este ranking dentro de Stamford Bridge. Mas a participação nos passes, nas transições, foi vital: apenas o lateral Azpilicueta deu mais passes que terminaram no terço final do campo adversário (176 a 163 de Jorginho e Mason Mount).

Jorginho Italia Euro 2020Getty(Foto: Getty Images)

Pela seleção italiana na Euro 2020, Jorginho também foi o jogador de linha da Azzurra com mais recuperações de bola (48) e interceptações (25), mas na parte ofensiva não deu assistências ou marcou gols. Ainda assim, apenas o atacante Lorenzo Insigne levou mais bolas ao terço final do campo adversário (155 a 137) do que o ítalo-brasileiro.

Prêmios individuais: o está vale mais do que o é

Com Messi e Cristiano Ronaldo ainda jogando em alto nível é difícil apontar outros nomes que sejam melhores. Neymar talvez seja a outra opção, com Kylian Mbappé ainda correndo por fora. Mas cabe ressaltar que prêmios individuais, como Bola de Ouro e The Best, não tem sido direcionados aos que são apenas melhores, e sim aos que estiveram melhores e tiveram as melhores temporadas. Ou seja: é uma eleição que aponta quem está melhor, e não quem é o melhor. E o resultado de um único jogo, uma única final, não deixam de ser importantes para isso – quer você concorde ou não com isso.

Nenhum jogador que esteve tanto tempo em campo e foi vital para seu clube e seleção teve uma temporada tão vitoriosa quanto a de Jorginho. Isso é um fato. Mas dizer que ele foi o protagonista do Chelsea no título da Champions, ou da Itália na Euro, também não seria verdade.

Bola de Ouro e The Best valem toda essa moral?

Jorginho Pallone d'Oro GFXGoal

E talvez seja por isso que o nome de Jorginho tenha aparecido como a surpresa da vez nestas discussões individuais para um jogo de conjunto. Ao contrário dos últimos anos de Messi e Cristiano Ronaldo dominando quase tudo o que acontecia enquanto Barcelona e Real Madrid, especialmente, revezavam taças europeias, os últimos grandes títulos do futebol tiveram como marca o coletivo sobre o individual.

Dentro da forma como se premia na Bola de Ouro ou The Best, Jorginho tem argumentos para ser eleito o melhor? Sim, embora Messi apareça com favoritismo pelo futebol de sempre e a conquista que nunca havia tido pela Argentina. De qualquer forma, vale mais olhar para o conjunto do que apenas para um único melhor do mundo numa temporada. Temporada esta em que ninguém comemorou mais títulos importantes do que Jorginho.

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