Everton Ribeiro, Arrascaeta, Filipe Luis Gabigol Flamengo Palmeiras Brasileirão 01 09 2019Alexandre Vidal & Marcelo Cortes / Flamengo

O Flamengo dos sonhos, que entra em campo para desfrutar... e vencer

O Barcelona do início dos anos 90, que entrou para a história com o apelido de “Dream Team”, foi uma das primeiras equipes a terem encantado um Jorge Jesus que, em início de carreira como treinador, ainda dava seus primeiros passos após ter pendurado as chuteiras. A equipe catalã voltava a revolucionar a abordagem do jogo, estabelecendo uma nova forma de domínio por meio de posicionamento, movimentação, beleza e resultados. O ápice daquele time foi o tão esperado título da Champions League em 1992, o primeiro do Barça até então.

Antes da final contra a Sampdoria, o técnico Johan Cruyff surpreendeu os seus comandados, todos envoltos na tensão prévia ao duelo que seria realizado em Wembley. Essa tensão era justificada: o máximo título europeu era o grande sonho barcelonista, que viu, anos antes, em 1986, a taça lhe escapar em uma disputa de pênaltis bizarra contra o Steaua de Bucareste, da Romênia. Nos vestiários, o holandês voltou-se para seus jogadores e, em vez de recitar estratégias ou gritar palavras, disse apenas: “saiam e desfrutem”. O jogo foi tenso, e foi preciso vir a prorrogação para que o zagueiro Ronald Koeman fizesse o único gol, que deu o tão sonhado título aos catalães. Mas aquele time ganhou o apelido de Dream Team também pela beleza com a qual conquistou quatro títulos espanhóis seguidos. O “sair e desfrutar” define bem aquele esquadrão.

Acompanhe o melhor do futebol ao vivo ou quando quiser: assine o DAZN e ganhe um mês grátis para experimentar

Mais artigos abaixo

Um amigo búlgaro que conhecia Hristo Stoichkov, uma das estrelas daquele Barcelona, ajudou Jorge Jesus a passar um mês imerso naquela cultura de jogo. O luso usou suas economias para custear o estágio naquele Barça de Cruyff, uma das experiências que mais marcaram a sua carreira. Tão cedo voltou a trabalhar, pôs o modesto Felgueiras para jogar no mesmo 3-4-3 barcelonista. Ao longo dos anos, contudo, mudou o seu desenho para um 4-4-2, mas sem abandonar a abordagem ofensiva pela qual se apaixonou. Fez história ao recolocar o Benfica como time dominante de Portugal anos depois, e hoje é um dos personagens mais exaltados do futebol brasileiro – de quem sempre foi fã, inclusive estudando equipes desde a época de Telê Santana.

O Flamengo que sai e desfruta

Marcos Rocha Arrascaeta Flamengo Palmeiras Brasileirão 01 09 2019Alexandre Vidal & Marcelo Cortes / Flamengo(Foto: Alexandre Vidal & Marcelo Cortes / Flamengo)

Depois de ter feito história ao ajudar a levar o Flamengo para uma semifinal de Libertadores da América após 35 anos, Jorge Jesus e seus comandados tinham um grande desafio no último domingo (01), pela 17ª rodada do Brasileirão: enfrentar o Palmeiras, atual campeão brasileiro, que apesar de viver a sua pior fase em 2019, ainda detinha a melhor marca defensiva de toda a temporada – considerando todas as competições. Jogo tenso? Brigado e difícil? Apenas na teoria, porque na prática foi um passeio rubro-negro em um Maracanã lotado e pulsante.

O Flamengo foi um rolo compressor e venceu por 3 a 0, com dois gols de Gabigol e um de Arrascaeta, mas com exibições marcantes também de Bruno Henrique e Gerson. E de quase todos os que estiveram em campo, ajudando o rubro-negro a mostrar o seu futebol ofensivo, empurrando o Palmeiras todo para o seu campo de defesa, onde, acuado, não conseguiu fazer nada – segundo dado do site Footstats, os alviverdes tiveram apenas 8,5% de sua posse de bola no ataque, o menor número em todos os jogos deste Brasileirão.

Além da enorme diferença visível entre dois elencos parelhos, no mais alto nível disponível para a realidade sul-americana, as fotos do jogo também chamaram atenção: os jogadores do Fla, em vários momentos, até mesmo prévios ao primeiro gol, sorrindo. Curtindo e, para usar o complemento da moda em tempos de redes sociais, compartilhando esta alegria – um com o outro e com os mais de 60 mil presentes no Maracanã.

“Foi talvez o melhor jogo desde que cheguei ao Flamengo. Equipe cada vez mais consciente do que tem que fazer”, afirmou Jorge Jesus após os 3 a 0 sobre o Palmeiras.

O Flamengo, que também sonha com a Libertadores, é líder do Brasileirão com os mesmos 36 pontos do Santos – leva a melhor no saldo de gols. E sob o comando de Jorge Jesus, ultrapassou o Alviverde, também, como equipe com o melhor aproveitamento ao longo de todo o ano: 68,8%, de acordo com o FutDados. Ganha e encanta. E passa a impressão de que ainda há muito por vir, afinal de contas o melhor momento do clube em décadas precisa ser carimbado com títulos importantes.

Evidente que este Flamengo não tem quase nada a ver com aquele Barcelona de 1992, a relação posta aqui explora apenas algumas coincidências isoladas: em 1992, por exemplo, um Flamengo também encantador conquistou o Brasileirão. Mas acima de tudo, este time de Jorge Jesus, em 2019, também entra em campo como se tivesse ouvido as palavras mágicas ditas por quem já inspirou o treinador português: “entrem e desfrutem”.

Publicidade