Samir - Udinese

Mais versátil e tático, Samir explica como se livrou das lesões na Itália e revela torcida à distância pelo Fla

Revelado nas categorias de base do Flamengo, Samir logo ganhou destaque nos seus primeiros passos como profissional no clube. Na primeira temporada com o time principal, o zagueiro foi peça importante da equipe que faturou a Copa do Brasil, com direito a grande atuação na decisão do torneio, diante do Athletico-PR, no Maracanã. 

Identificado com a torcida, o jogador recebeu o apelido de "Samito" e logo despertou o interesse de clubes europeus. Em 2016, Samir se transferiu para o futebol italiano, para defender as cores da Udinese. Hoje, cinco anos depois, em bate-pao exclusivo com à Goal, ele fala sobre a sua evolução como jogador, explica como se livrou das lesões que atormentaram o início de sua carreira e a ligação com o Flamengo mesmo à distância. 

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Qual a diferença do Samir que saiu aqui do Brasil em 2016 para este que está há cinco anos na Itália? 

"Um Samir que a cada dia vem acumulando experiências. Cheguei aqui na Udinese muito cru, essa minha experiência no Hellas Verona, minha primeira equipe aqui, foi muito importante para o meu crescimento, aprendi bastante da cultura, do futebol, de esquema tático. Quando eu voltei para a Udinese, o treinador que foi meu treinador no Verona assumiu e para mim foi muito importante. A cada dia venho melhorando. Hoje eu já tenho uma consciência tática, a Europa meu ajudou muito". 

Você disse que chegou cru, falou sobre consciência tática, é realmente muito diferente de como se é trabalhado no Brasil? 

"Não tem comparação. Aqui na Itália você tem que aprender rápido, se você acompanha bem o futebol italiano, você vê que o sistema defensivo, a linha defensiva tem que trabalhar muito bem. Nos meus primeiros treinos no Hellas Verona eu sofria bastante. Aqui na Udinese eu dei sorte porque a linha defensiva tinha dois zagueiros brasileiros. No meu primeiro ano eu joguei de lateral. Para a minha adaptação isso foi muito bom. A escola italiana para defensor é muito boa"

Cristiano Ronaldo Samir Juventus UdineseGetty Images

A gente tem visto cada vez mais jogadores precisando se adaptar, terem versatilidade... 

"É importante você ser versátil, ainda mais no futebol moderno. Eu coloquei na minha cabeça que o importante é sempre estar em campo independente da posição. Quando eu cheguei aqui, tinha esses dois brasileiros, eles eram peças fundamentais da equipe, o treinador não tinha como tirar eles e para eu jogar, eu tive que me adaptar na lateral-esquerda. No Flamengo, se não me engano, eu fiz um jogo de lateral. Jogador que joga em várias posições é sempre importante, para a equipe, para o treinador fica melhor ainda. Ao invés de fazer mudanças drásticas, ele pode tirar um jogador e passar o outro de função, sem fazer muitas substituições". 

Essa sua versatilidade chamou à atenção da Inter de Milão, como foi isso? 

"A Inter de Milão estava interessada em mim. O diretor esportivo na época tinha me ligado, foi até uma história interessante. Eu estava na sala, sentado vendo um jogo, era umas nove e pouca da noite, o telefone tocou e era o diretor esportivo da Inter, nessa época eu estava voando de lateral esquerdo, mas na reta final do campeonato eu levei uma pancada no menisco, lesionei, eu não conclui a temporada por causa da lesão". 

Falando em lesões, você teve muitos problemas com elas no início da carreira no Flamengo, como foi que você superou isso? 

"No Brasil eu tinha muitas lesões, de repente por culpa minha, por não descansar bem, me alimentar mal, mas eu também não tive muitas orientações de profissionais que trabalharam comigo, não me orientaram da forma correta. Aqui, quando eu cheguei, eles fizeram uma avaliação física completa minha e falaram 'Samir, você é um jogador que tem muita força e jogador que tem muita força precisa de elásticidade boa, porque você é forte, é rígido, duro, você precisa ter mais elasticidade para você fazer o movimento e o músculo responder'. 

Aí comecei a fazer trabalho na academia, trabalhos de alongamento, flexbilidade, tudo. Na época que eu jogava no Flamengo, às vezes o treino era às 9h e eu chegava no CT 8h40, não tomava café direito, comia um pão rápido ou às vezes treinava sem tomar café. Depois do treino tomava banho e ia embora, foi assim por muito tempo. Chegava do treino e não descansava. Aqui eu chego uma hora, uma hora e meia antes do treino, tomo café no horário certo, depois a gente desce, vai fazer fisio, faz um trabalho na físio, depois alguns jogadores vão para a academia, faço um trabalho de ativação muscular, quando chego no campo ainda tem o aquecimento do treino então já estou aquecidíssimo. Quando você chega no estádio, para jogar, você faz massagem muscular, depois ativação, quando o jogo não é em casa eles levam os equipamentos. 

Não posso por também a culpa em outras pessoas porque eu não tinha consciência mas faltou respaldo. Eu não consegui fazer 100 jogos pelo Flamengo por causa das lesões. Aqui na Udinese, as lesões que eu tive foram tudo lesões de trauma, que aí você não consegue evitar. Não tinha lesão muscular há anos, fui ter recentemente que fiquei seis jogos fora. A Europa me mudou muito". 

Em 2019 você recebeu a sua primeira chance na seleção brasileira, de certa forma você ficou surpreso? Como foi aquele momento? 

"Foi um momento especial que vou levar para o resto da minha vida. Quando começou o burburinho eu achei que fosse mentira, depois começou a sair em um monte de lugar sobre a possibilidade, a gente tinha acabado de ganhar do Milan aqui. Aí meu telefone tocou eu olhei e era um número desconhecido, eu não antendi. Depois eu recebi uma mensagem falando 'Oi, Samir, tudo bem? Aqui é o professor Adenor', aí eu falei 'caramba'. 

Samir CaetanoLucas Figueiredo / CBF

Fiquei todo bobo, nem acreditava, a ficha não caia. Foi maravilhoso, saiu até no Jornal Nacional a lista dos convocados. Todo mundo ligando, mandando mensagem". 

Você chegou lá com alguns conhecidos de Flamengo como Paquetá, Vinicius Júnior, Jorge... 

"Ver o crescimento desses moleques foi gratificante, porque eu sou mais velho, o Vinicius eu não acompanhava muito porque era muito novo, mas o Paquetá treinava com a gente. Mas também ele já era velho de guerra, já tinha várias convocações, estava mais experiente. O Vinicius também, tinha o Bruno Henrique e toda a galera do Mengão presente, foi top. Eu sentei do lado do Daniel Alves, dividi o vestiário com o Neymar, Thiago Silva, Fabinho, Coutinho, Casemiro, você não tem ideia, estar ali, conviver com os caras. Dei sorte porque todo mundo foi. Foi muito difícil chegar lá e eu cheguei lá num momento top, com jogadores tops, foi muito gratificante para mim". 

Você como jogador da base e torcedor do Flamengo, como está vendo essa era vitoriosa do clube?

"Eu acompanho tudo o que é relacionado ao Flamengo. Quando o Flamengo joga cedo, como foi na Supercopa, eu vi. Foi maior jogão. Valeu a pena aquele jogo. Se tivesse torcedor teria saído satisfeito, ainda mais depois das disputas de pênalti que o Diego foi um paredão, como ele sempre é. O Flamengo para mim é muito importante. Devo muito ao Flamengo, pelo o que fizeram por mim, minha carreira, minha família e eu estou muito feliz por esses dois anos do Flamengo de títulos. Desde 2013 não ganhava um título expressivo, ganhava só Carioca porque é para a gente isso é normal já. começou a ganhar Brasileiro, Libertadores. Sou muito feliz pelo o que o Flamengo se transformou hoje. Sigo aqui na torcida, esperando  que o Flamengo possa continuar ganhando e trazendo inveja aos nossos rivais". 

Vendo o Flamengo conquistar esses títulos não dá vontade de participar? Você imagina isso?

"Com certeza. Às vezes me pego imaginando se eu não tivesse saído do Flamengo naquela época, hoje eu poderia ter uns 400 jogos, seriam uns 8 anos. Se eu permanecesse até hoje poderia até ser um dos capitães do time, poderia ter participado, mas Deus sabe de todas as coisas, não reclamo. Eu queria poder ganhar uma Libertadores, um Brasileiro pelo Flamengo, mas tive a oportunidade de vir para a Europa, desfrutar desse futebol maravilhoso aqui, e se um dia eu tiver que voltar, espero voltar e ter um dos anos de glórias do Flamengo e levantar taças como eles estão levantando aí". 

Samir - Flamengo - 2014Ricardo Ramos/Getty Images

O Flamengo tem dois dois jogadores que não tiveram sucesso aí, mas estão brilhando no Brasil. Por que você acha que Gerson e Gabigol não conseguiram emplacar na Europa?

"Gabigol assim que eu cheguei ele ficou um tempo e depois saiu, acho que não teve muitas oportunidades para ter continuidade, mostrar o potencial. Aqui tem muito a questão tática, você tem que se adaptar a filosofia, a cultura. Talvez por ser jovem e querer jogar, não esperaram um pouco. Eles optaram por sair, por querer mais espaço. De repente foi isso que ocasionou a saída deles. Não à toa o Gerson saiu da Roma e foi para o Flamengo de arrebentou, Gabigol se encontrou no Flamengo. Não quer dizer que a Europa é mil maravilhas, você tem que estar onde se sente bem, eles estão criando história no Flamengo". 

Quais são os seus planos para o futuro? O que o Samir está pensando para os próximos anos?

"Tenho mais dois anos de contrato aqui, até o momento Udinese ainda não chamou para renovar. Pode ser que chamem no final da temporada para conversar. Vamos sentar, ver o que é melhor para mim, para eles. Como sempre falei, tem que ser algo bom para todo mundo. A minha meta é terminar a temporada bem, já estou há cinco anos e é o momento também de fazer um salto, mudar um pouco de ares, mas não tenho pressa nem agonia de sair. Se o melhor também for ficar aqui, vou ficar, vamos ver o que vão me propor, o que vai acontecer. Eu sempre escuto, nao custa nada escutar os clubes, até agora não chegou nada para mim, mas vamos ver, o único time que fiquei sabendo na época que me queria era a Inter.. na época teve o Atalanta também". 

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