Ajax Women 2022-23Ajax / Bastiaan Heus

A história da ascensão "incrível" do time feminino do Ajax

Quando Daphne Koster era jovem, ela sonhou algo que, na teoria, não poderia ser real. Ela sonhava em jogar pelo time feminino do Ajax.

Ela tem boas lembranças de ver o time masculino vencer a Liga dos Campeões, em 1995, com aquela equipe repleta de estrelas de Clarence Seedorf, Marc Overmars e Frank Rijkaard – e das idas e vindas com seu avô torcedor do Feyenoord, principal rival do clube de Amsterdã.

Mas como o clube não tinha time feminino, o que ela queria era impossível. Porém, durante esse período muita coisa mudou.

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Aos 31 anos, ela se tornou a primeira jogadora de futebol do Ajax, quando lançou sua equipe feminina. Cinco anos depois, ela pendurou as chuteiras e passou a administrar essa parte do clube.

Agora, dez anos depois de sua chegada como jogadora, ela ajudou a liderar um trabalho, que está a 180 minutos de uma vaga na fase de grupos da Liga dos Campeões Feminina.

Quando Koster olha para trás naquele tempo, ela leva um momento ou dois para pensar em tudo o que mudou.

“Não são apenas as instalações para as jogadoras, mas também a visão e a estratégia para o clube”, diz ela à GOAL. “Essa é a cultura e isso é o mais importante."

“O que é o Ajax como clube? Eu acho que o Ajax é um clube para homens e mulheres, para meninas e meninos e pessoas de fora do clube, eles podem ver isso? Isso é mais do que apenas a equipe, mas também o marketing, a mídia, o comercial."

“Trata-se de visão e estratégia para o seu clube. Qual é a sua marca? Sua marca é o futebol, e isso é para homens e mulheres, para meninos e meninas.”

Claro que o Ajax sempre foi visto como um clube para homens. Há muito tempo também é um clube para jovens meninos, possuindo uma das bases mais produtivas do futebol mundial.

Em 2012, tornou-se um clube para mulheres. Então, em 2017, veio o próximo passo – uma academia que também produziria jovens incrivelmente talentosas, como Nikita Tromp, classificada em segundo lugar na lista NXGN do ano passado.

“(Quando eu assinei), eu tive a ideia de, 'Ok, eu jogo no Ajax agora, então eu quero jogar no estilo do Ajax'”, explica Koster. “Não havia essa ideia do clube. No início era uma equipe com um treinador, um médico e um fisioterapeuta. Essa era a situação. Não houve ninguém que disse, 'Ok, você tem que jogar desta ou daquela maneira.'"

“Acho que foi o momento em 2017 (quando isso mudou). Quando parei de jogar, começamos com uma equipe jovem e pensamos: 'Ok, quando você começa com uma equipe nova, precisa ter uma ideia do que quer'. Essa também é a maneira de jogar futebol. Agora, temos uma ideia. Nós sabemos o que queremos."

“Agora, o que fazemos é trazer uma jogadora aos 14 anos e investir nelas, e elas investem em si mesmas. Trazemos, todos os anos, duas ou três jogadoras da base para o time feminino. Este é o segundo ano que fazemos isso."

“Agora, temos grupos de treinamento sub-10, sub-12, sub-14 e sub-16 e depois temos uma equipe sub-20. Elas têm um programa de dia inteiro. Dez anos atrás e agora… É inacreditável os passos que demos.”

EMBED ONLY Nikita Tromp NXGN award GFXGoal

Como a inclusão mencionada por Koster, o estilo do Ajax e o foco no desenvolvimento de jovens jogadores certamente também são partes fundamentais da “marca” do clube. Há mais uma grande coisa que também é importante: vencer. Afinal, o Ajax é o clube de maior sucesso da Holanda.

Sherida Spitse, a jogadora holandesa que capitaneou seu país no título da Euro 2017, chegou no clube no verão europeu passado. Quando questionada sobre a mudança pela GOAL, ela começa dizendo que o Ajax veio até ela, depois corrige.

“Eu queria ir para o Ajax e eles disseram que sim, então foi perfeito para mim”, ela ri. “Eu sei que é um clube que vai jogar por títulos.”

A experiência de Spitse é enorme na luta por esses objetivos. Ela não é apenas uma campeã europeia, mas também já jogou uma final de Copa do Mundo, possui mais de 200 jogos pelo seu país e tem uma vasta experiência na Liga dos Campeões.

Aliás, 22 das 27 jogadoras da equipe principal do Ajax têm 25 anos ou menos. Elas não têm o mesmo conhecimento dessas grandes ocasiões como Spitse.

Sem ser solicitado, Koster observa o quão importante uma jogadora, como Spitse, é importante para esta equipe por causa dessa grande experiência. A meio-campista também sabe disso e espera muito de si mesma.

“O que eu quero fazer é ajudar essas meninas se elas tiverem dúvidas”, ela explica. “Se vejo alguma coisa, vou até eles e falo com elas para ajudar."

“Nada vem sem fazer nada. Você tem que trabalhar muito duro para conseguir algo e é isso que eu tenho feito até agora. Mas eu quero ter mais. Isso é o que eu sempre digo a todas, não apenas às jovens, mas também às meninas que têm 27, 28, 29 anos - mas também a mim mesma."

“Tenho que mostrar minhas qualidades também todos os dias em campo. Não é que eu jogasse toda semana se não fizesse nada em campo. Então eles dizem também: 'Sherida, o que você está fazendo?' Essa é a mentalidade que quero trazer para a equipe.”

Sherida Spitse quote PS gfxGetty/GOAL

Acrescente essa ambição ao brilhante desempenho que o clube de Amsterdã criou, e esta é uma equipe a ser observada na Europa.

Na classificação para a Liga dos Campeões desta temporada, eles venceram os suecos, Kristianstad, e o alemão, Eintracht Frankfurt. Depois de terminar em segundo no campeonato na temporada passada, o Ajax enfrentou esse caminho mais complicado, mas registrou resultados muito impressionantes.

Isso significa que apenas o Arsenal – campeão europeu, em 2007, e casa da maior artilheira de todos os tempos da Holanda, Vivianne Miedema – está entre eles e a fase de grupos.

“É um jogo difícil, mas é interessante ver. "Qual é o tamanho da diferença para eles?'” Koster pondera. "Não sei."

Spitse já enfrentou desafios difíceis como esse antes. Ela jogou contra o oito vezes campeão Lyon em sua primeira temporada na Champions League Feminina, aos 23 anos. Um ano depois, ela fez parte da equipe do Lillestrom, que levou o atual campeão Frankfurt aos pênaltis nas oitavas de final. Ela diz que há “sempre uma chance”.

Com a pressão e o foco nos Gunners, também é uma oportunidade para o Ajax mostrar às pessoas o que se tornaram. Alguns nunca viram jogar antes. O que eles podem esperar?

“Um time que realmente quer jogar futebol e fará de tudo para vencer esse jogo, para mostrar algum caráter”, explica Spitse.

“Isso é o que você vai ver também, que nós lutamos uma pela outra em todos os momento. É assim que temos treinado todos os dias e mostraremos a todos no estádio.”

O que aconteceu em 10 anos já é enorme – desde a criação da equipe feminina até a implementação do caminho do Ajax e as categorias de base.

Seja qual for o resultado contra o Arsenal, esta claro que esta equipe está indo na direção certa. Quem sabe o que mais uma década de trabalho pode trazer?

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