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Adriano Streets Won't Forget GFXGOAL

A trajetória de Adriano Imperador: do auge na Itália e seleção ao drama que abreviou sua carreira

Apelidado de "Imperador", Adriano deveria ser o herdeiro do trono de Ronaldo no Brasil, especialmente quando seguiu os passos do "Fenômeno" ao ingressar na Inter de Milão. Em certo momento, o carioca parecia estar a caminho de lugares altos na história, mas por muitas razões essa coroa se tornou pesada demais para a cabeça do atacante e sua passagem pela Europa se transformou em desastre.

Ele pode ter conquistado dois títulos da Série A italiana, uma Coppa Itália e uma Supercoppa Italiana com a Inter, Campeonatos Brasileiros com Flamengo e Corinthians e até mesmo a Copa América com o Brasil, mas, ao que tudo indica, Adriano não correspondeu às grandes expectativas depositadas nele.

Tragédias pessoais, lutas contra o álcool e uma série de lesões contribuíram para a prematura aposentadoria de um atacante que um dia foi capaz de feitos impressionantes no campo. No final das contas, sua carreira desmoronou com uma passagem bizarra pelos Estados Unidos, onde jogou apenas uma partida antes de pendurar as chuteiras de vez.

Sua carreira foi uma luz que brilhou com intensidade dupla, mas por um tempo menor que a de muitos outros. E por essas belas memórias com as quais nos presenteou, ele permanece sendo uma figura querida; um daqueles personagens que as ruas jamais esquecerão.

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  • Adriano Inter 2001Getty

    Surge "o novo Ronaldo"

    Cria das favelas do Rio de Janeiro, Adriano passou pela base do Flamengo, contratado inicialmente como lateral-esquerdo. Foi apenas em seu último ano nas categorias de base que ele se tornou atacante. Quando estreou pelo Flamengo, já era bem conhecido após ajudar a seleção brasileira sub-17 a vencer o Mundial em 1999.

    Duas semanas antes de completar 18 anos, Adriano fez sua primeira atuação pela equipe profissinal do Flamengo, e seu status de ser um dos talentos mais promissores do país foi confirmado ainda naquele ano, quando conquistou sua primeira convocação para a seleção brasileira, saindo do banco de reservas em uma partida das Eliminatórias da Copa do Mundo contra a Colômbia para jogar ao lado de Rivaldo, Lúcio, Cafú e Juninho Pernambucano.

    Ele continuou ajudando o Flamengo a conquistar títulos consecutivos do Campeonato Carioca, e apesar de ser claramente um atacante talentoso, havia indícios de inconsistências que mais tarde assombrariam sua carreira. Os torcedores frequentemente ficavam frustrados com seu estilo trapalhão e muitas vezes se revoltavam com ele.

    Independentemente disso, a Inter viu o suficiente para deduzir que ele poderia ser uma estrela na Série A e contratou Adriano em agosto de 2001. Dias após ingressar no clube, ele atuou como substituto em um torneio amistoso contra o Real Madrid, onde sua técnica e força foram exibidos através de uma performance promissora que culminou em um golaço de falta na gaveta.

    O ícone da Inter, Javier Zanetti, ficou impressionado, escrevendo posteriormente em sua autobiografia: "Assim que Adriano chegou à Inter, ele marcou um gol de impressionante força em um amistoso contra o Real Madrid. Pensei comigo: 'Este será o novo Ronaldo'. Ele tinha físico, talento, velocidade... Eu era próximo de Adriano, conhecia os problemas que o dinheiro pode gerar para pessoas que viveram na pobreza. É a pior droga. Mas Adriano tinha um pai que o protegia e era um herói para ele".

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  • Adriano Brazil 2004Getty Images

    Glória e tragédia

    No meio de sua primeira temporada na Inter de Milão, Adriano foi emprestado à Fiorentina, onde fez um excelente trabalho em uma equipe condenada ao rebaixamento, marcando seis vezes em 15 partidas. Ele então passou a temporada seguinte no Parma e foi magnífico, de novo.

    Na sequência, veio a Copa América. Adriano já havia sido uma presença esporádica, mas empolgante, na seleção brasileira antes disso, mas a estreia na competição, em 2004, no Peru, marcou o fim de uma ausência de um ano na Seleção, e o atacante voltou com tudo. Um hat-trick no segundo jogo selou uma vitória por 4 a 1 contra a Costa Rica, antes de ele participar de todos os gols do Brasil na vitória por 4 a 1 sobre o México, e levar a Seleção para as semifinais.

    Foi Adriano quem marcou o gol de empate para levar o jogo seguinte, contra o Uruguai, para a prorrogação e pênaltis, tendo marcado na vitória por 6 a 4, nas penalidades. Para se consolidar como herói do Brasil, ele marcou o gol do empate por 2 a 2, nos acréscimos, contra a Argentina antes de converter sua cobrança na disputa por pênaltis, trazendo o troféu para casa.

    Adriano teve uma pessoa para quem dedicar essa conquista, dizendo à imprensa: "Este título pertence ao meu pai. Ele é meu grande amigo; meu parceiro. Sem ele, eu não sou nada." Apenas nove dias depois, seu pai morreu, vítima de um ataque cardíaco.

    Zanetti conta a história desde então: "No início da temporada (2004/05), o inimaginável aconteceu: ele recebeu uma ligação do Brasil e foi informado que seu pai havia morrido. É algo que pode mudar você para sempre. Eu o vi chorar. Ele jogou o telefone, começou a gritar que não era possível. Depois daquele dia, [o presidente da Inter, Massimo] Moratti, a equipe e eu decidimos abraçá-lo como um irmão, para protegê-lo.

    "Durante esse tempo, ele continuou jogando, marcando gols e dedicando-os ao pai, apontando para o céu. Convencemos ele a trazer sua mãe e namorada. Adriano ainda era como uma rocha nos treinos, nem três de nós conseguíamos tirá-lo do lugar porque ele era muito forte. Ele é um ótimo garoto. Passei a noite com Iván Córdoba tentando encorajá-lo. Ivan disse: 'Você não percebe que é uma mistura de Ronaldo e Ibrahimovic? Você tem tudo para se tornar melhor do que eles'. Mas falhamos, não conseguimos tirá-lo da depressão. Adriano chorou, voltou ao Brasil sem dar explicações, brigou com sua namorada... ficou com saudades de casa."

  • Adriano Inter 2005Getty

    Sucesso apesar da depressão

    A perda de seu pai é amplamente vista como o catalisador para o declínio de Adriano, mas essa queda não foi imediata - pelo menos não no campo. Adriano estava simplesmente imparável em seu retorno à Inter. Foi graças a ele que a equipe venceu o Basel nas eliminatórias da Champions League, e ele deu sequência a isso marcando o gol de empate no primeiro jogo dos Nerazzurri pela Série A, naquela temporada, contra o Chievo. Depois vieram dois gols contra o Werder Bremen, na Liga dos Campeões, outro gol em um empate por 1 a 1 contra o Palermo e um gol decisivo para vitória, aos 87 minutos, contra a Atalanta, todos de maneira consecutiva.

    "Ainda existem alguns gols que eu simplesmente não consigo acreditar quando os vejo de novo," ele disse anos depois. "Eu simplesmente não consigo entender! Eu estava em boa fase e as coisas estavam dando certo para mim. Quando sua cabeça está no lugar e você está em orma, coisas incríveis podem acontecer naturalmente."

    As coisas continuaram assim, mas Adriano não estava apenas marcando por diversão; seus gols e assistências eram importantes. Ele liderou uma vitória por 3 a 1 contra a Udinese, já que esteve diretamente envolvido em cada um dos gols. Seus tentos seguintes também garantiram empates importantes para a Inter no Campeonato italiano, antes de ele marcar um hat-trick na vitória por 3 a 1, no jogo de volta das oitavas de final da Champions league, contra o Porto. Adriano era simplesmente impressionante em campo, mas a dor dentro dele era grande demais, e todos próximos ao jogador podiam percerber, enquanto ele recorria ao álcool para amenizar seus problemas. Mais tarde, Adriano chegou a admitir que já foi treinar ainda bêbado da noite anterior.

    Ele refletiu: "Eu só me sentia feliz quando bebia. Só conseguia dormir se bebesse. Roberto Mancini e meus colegas de equipe perceberam que eu estava de ressaca quando cheguei para treinar."

    Mesmo que as rachaduras começassem aparecer na segunda metade da temporada 2004/05, Adriano conseguiu ter um desempenho magnífico na Copa das Confederações em 2005, obtendo uma vitória por 3 a 2, na semifinal, contra a Alemanha antes de marcar duas vezes contra a Argentina na final, onde o Brasil venceu. Mesmo quando a fonte dos gols começou a secar um pouco, na temporada seguinte, ele ainda mostrava vislumbres de sua grandeza - o hat-trick na estreia na temporada, contra o Treviso, na Série A italiana, uma dobradinha, contra a Roma, e mais dois gols e uma assistência em uma vitória, por 3 a 2, no clássico contra o Milan

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  • Adriano Brazil 2006Getty

    A queda

    "Quando eu estava em forma, era difícil me parar," disse Adriano. "Se eu não estivesse jogando no meu melhor e de repente fizesse uma grande atuação, [Marco] Materazzi dizia: 'O Imperador está de volta!'"

    Infelizmente para Adriano, esses lampejos se tornaram cada vez mais raros depois de um tempo. Os times da Série A finalmente descobriram como pará-lo, conhecendo os limites de sua habilidade. Além disso, ele estava completamente devastado emocionalmente e parecia não estar mais disposto à lutar.

    No entanto, essa devastação interna não era conhecida pelo mundo, e quando a Copa do Mundo de 2006 chegou, grandes expectativas cairam sobre os ombros de Adriano. Ele se juntou a Ronaldo no ataque de uma seleção brasileira que também contava com Ronaldinho, Kaká, Roberto Carlos, Lúcio, Cafu, Gilberto Silva e Robinho. Adriano não impressionou, apesar de marcar dois gols na competição, e o Brasil foi eliminado pela vice-campeã França, nas quartas de final.

    O declínio do "Imperador" continuou em seu retorno à Itália, e o uma vez mágico atacante logo se tornou motivo de piada. Suas atuações desastrosas lhe renderam o Bidone d'Oro - o oposto do Ballon d'Or para a mídia italiana - em 2006, depois novamente em 2007 e mais uma vez em 2010. Ele é o único jogador a ter recebido o sarcástico prêmio em mais de uma ocasião.

    "Quando passei por momentos difíceis, a Inter sempre me apoiou. Ter amigos que não apenas me viam como jogador, mas também como um irmão, foi importante demais para mim, e sou grato a todos", lembrou.

    Eventualmente, ficou decidido que Adriano deveria voltar ao Brasil em 2008, e o São Paulo o contratou por empréstimo por seis meses. Lá, ele impressionou ao marcar seis gols em 10 jogos da Libertadores. Foi uma passagem conturbada, no entanto, já que ele deu uma cabeçada em um adversário e foi expulso. Depois, testou a paciência do clube ao chegar atrasado nos treinos.

    A Inter o levou de volta para a temporada 2008/09 e ele mostrou vislumbres de seu antigo eu novamente, mas nunca mais foi o mesmo e ficou longos períodos ausente durante a temporada.

  • Adriano Roma 2010-11Getty Images

    O fundo o poço

    Depois daquela temporada, Adriano voltou ao Flamengo em definitivo e foi absolutamente sensacional, marcando 19 vezes em apenas 30 partidas para ajudar o clube carioca a conquistar o título do Campeonato Brasileiro. Após um ano magnífico de volta às suas origens, a Roma decidiu dar à Adriano outra oportunidade na Itália, em 2010 e, por algum motivo, Adriano agarrou a nova chance assinando um contrato de três anos.

    Foi um desastre.

    "Voltar para a Itália em 2010 foi um erro, eu não deveria ter deixado o Brasil, mas eu queria me redimir pela forma como saí da Inter. Os italianos me amam, eu gostaria de ter voltado para a Inter de Milão para retribuir todo esse afeto, mas minha mente ainda estava no Brasil, no Flamengo", ele disse mais tarde.

    Adriano se machucou antes mesmo do início da campanha e o técnico Claudio Ranieri pareceu não gostar muito dele. Ele jogou apenas seis partidas, foi liberado assim que acabou a primeira das três temporadas e retornou ao Brasil para se juntar ao Corinthians por recomendação de um ídolo e ex-companheiro de equipe.

    "Eu tinha acabado de voltar da Roma", ele disse. "Ronaldo me ligou e me perguntou: 'Você vai ficar? Se der, gostaria de te levar comigo para o Corinthians'. Infelizmente, me machuquei no primeiro treino..."

    O atacante passou os primeiros cinco meses sem atuar com uma lesão no tendão de Aquiles e não conseguiu se recuperar totalmente. Após apenas quatro curtas atuações saindo do banco de reservas no Campeonato Brasileiro, ele foi dispensado e, alguns meses depois, estava de volta ao Flamengo.

    Ele nem sequer jogou mais uma partida pelo clube de infância, no entanto, e eles o liberaram após alguns meses. "O Imperador" ficou como livre no mercado por mais de um ano antes do Athletico Paranaense abrir as portas a ele, mas o atacante saiu três meses depois.

  • Adriano 2010Getty

    Fim bizarro

    Adriano deixou o Atlético em 2014 e passou dois anos completamente afastado dos gramados. Sua carreira não estava completamente acabada, no entento, pois ele acabou tomando a estranha decisão de se mudar para os Estados Unidos e se juntar ao time semi-profissional Miami United. Foi terrível desde o início, no entanto, pois apesar do entusiasmo em torno do brasileiro antes de sua estreia contra o rival Miami Fusion, ele e sua equipe foram completamente humilhados, perdendo por 5 a 0.

    "Este não foi meu melhor jogo", disse Adriano depois, e ele se aposentou pouco depois. "Decidi parar não porque não gostasse mais de jogar, mas porque não sentia mais aquele desejo por dentro", disse ele. "Também porque, naquele momento, e até hoje, estou mancando por causa do meu tendão. Entendi que era hora de dar um passo para trás."

    Desde então, Adriano tem desfrutado de uma vida tranquila, mas o ex-jogador da Inter e do Flamengo protagonizou manchetes inusitadas no Brasil. Seu casamento de três semanas supostamente acabou porque ele desapareceu para assistir à Copa do Mundo de 2022, embora os boatos de seu suposto envolvimento em um ménage à trois possam ter sido a real causa do divórcio prematuro. Esse incidente depois voltou à tona, pois se alega que ele teria sido pivô da separação da modelo Gracyanne Barbosa e do cantor Belo, um dos casais mais famosos do país. Adriano negou as alegações e prometeu processar o jornalista responsável pelas reportagens.

    Ele publicou nas redes sociais: "Mais uma vez, vocês estão vendo, essa polêmica que estão inventando sobre mim, sobre Belo, Gracyanne e eu. Eu nem sei o qu é esse negócio de ménage que estão falando. Tenho o maior respeito por Belo, nunca namorei Gracyanne. Vou deixar muito claro aqui, esse cara, que falou isso sobre mim, que inventou isso sobre mim, pode ter certeza de que será processado porque isso não existe, eu nunca fiz isso na vida. Tudo isso é mentira, nunca fiz esse negócio, essa é a verdade."

    Definitivamente, um retorno bizarro do "Imperador" aos holofotes; uma das almas do futebol cuja estrela brilhou por pouco tempo.

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