Uma história de amor: por que Vojvoda não quer sair do Fortaleza

Nesta relação de amor, o roteiro é o mesmo de tantas e tantas outras – seja no futebol ou na vida pessoal mesmo. Quando Fortaleza e Juan Pablo Vojvoda se acertaram, em 2021, ninguém imaginava que daria tão certo. O Tricolor do Pici havia se despedido de Rogério Ceni há relativamente pouco tempo, 2019, e Vojvoda – convenhamos – não era muito conhecido. Mas o “match” é dado quando menos se espera.

Seguindo o exemplo de outra relação já histórica do futebol brasileiro, Palmeiras-Abel Ferreira, Vojvoda sequer era a primeira opção do Fortaleza para substituir o demitido Enderson Moreira. O Plano A era o de trazer outro argentino, Ariel Holan. Mas Vojvoda, cujo trabalho mais recente naquela época era pelo Union La Calera, do Chile, se adequou à realidade financeira do clube e assinou contrato de alguns meses, até o final de 2021. O seu vínculo atual se estende até o término de 2024.

Logo em sua primeira entrevista coletiva, o treinador citou algumas pedras fundamentais que ajudam a explicar não apenas o sucesso de seu trabalho, mas a própria relação construída com o clube e seus torcedores. Falou em identificação, orgulho, e a oportunidade de crescer em um clube também em crescimento.

De lá para cá, o Fortaleza conquistou três títulos cearenses: 2021, 2022 e 2023 – que vieram como sequência a dois estaduais anteriores, e explicam a hegemonia atual no futebol cearense – e a Copa do Nordeste de 2022. Agora em 2024, o Laion segue em busca de ambos os troféus e é um dos maiores favoritos para tais missões.

Muito além do protagonismo regional, que permeou a maior parte da história do Fortaleza, o excelente trabalho de Vojvoda no clube passa pelo maior espaço conquistado a nível nacional e internacional. É preciso voltar à década de 1960, quando o Tricolor foi duas vezes vice-campeão da Taça Brasil (o Brasileirão da época), para encontrar algo minimamente parecido.

Em 2021 o Fortaleza de Vojvoda não demorou a engrenar: foi semifinalista na Copa do Brasil e terminou o Brasileirão em quarto, garantido vaga direta para a fase de grupos da Libertadores. No ano seguinte, com um calendário bem mais cheio, o principal feito de destaque foi ter alcançado o mata-mata da competição continental.

Já em 2023, o título da Copa Sul-Americana, que seria inédito na história do clube e entraria como conquista internacional mais expressiva de um clube do Nordeste, bateu na trave com a derrota na disputa de pênaltis contra a LDU de Quito. Mas a cada ano o Fortaleza consegue escrever um capítulo histórico tendo Vojvoda na área técnica.

O que nos leva a pensar como será este 2024. Vojvoda começou a temporada mais uma vez sendo buscado por clubes do Sudeste. O São Paulo queria seus serviços após a saída de Dorival Júnior para a seleção brasileira. Mas Vojvoda não é como a maioria, suas respostas não viram novelas intermináveis.

A negativa causou uma estranheza gigante, que soou até exagerada: Vojvoda ama viver em Fortaleza, que (convenhamos) é uma das capitais mais lindas do Brasil. Tem a confiança do clube, dos dirigentes e de seu grupo de jogadores. A relação de amor entre clube e treinador é forte em todos os detalhes que se possa imaginar.

Vojvoda não quer sair do Fortaleza porque aprendeu a amar o clube, porque ama o senso de pertencimento no futebol e porque vê a confiança que cerca o seu trabalho também ser ilustrada na presença maciça de torcedores no estádio. E porque sente que faz um trabalho tão especial que terá seu legado lembrado por anos a fio.

As paredes do CT Ribamar Bezerra irão sussurrar seu nome, sua aura estará presente no Castelão lotado sempre que o Fortaleza estiver em campo, com ou sem ele. Vojvoda já conquistou cearense e Copa do Nordeste pelo clube, e evidente que deseja repetir a dose, mas não esconde que busca além.

O início de 2024 não tem sido dos mais espetaculares, é verdade, mas também é quando o treinador vê todo o clube lhe passando a segurança e blindagem que ele tanto valoriza. Vojvoda não sai do Fortaleza porque sente que ainda pode voar ainda mais alto ao lado do Fortaleza, um grande amor que o futebol lhe deu. E é mirando no céu que se alcança as estrelas.