Ancelotti, uma espera que vale a pena para a seleção brasileira

Opinião, cada um tem a sua. Os resultados do Brasil em campo, seja em amistosos ou nas Eliminatórias durante este período, irão causar grande influência nisso. Não deixa de ser estranho ver a camisa mais pesada e prestigiosa do futebol ficar com um de seus lugares, um dos mais importantes, vazio. Provavelmente um reflexo do cenário entre o futebol de clubes europeus, onde atuam os melhores técnicos do mundo, com o de seleções, onde há tempos os comandantes ora são novatos do jogo profissional – como o atual campeão mundial Lionel Scaloni – ou comandantes de renome mas sem espaço nos grandes times que jogam uma Champions League. Ancelotti no Brasil seria exceção no contexto de seleções.

Fato é que se a seleção brasileira segue sem treinador, o motivo é a falta de um grande nome para o cargo -- ao contrário do cenário visto após a demissão de Dunga, em 2016, antes da contratação de Tite naquele mesmo ano. Candidatos não faltam, mas todos levantam alguma dúvida justamente porque existe a comparação com Ancelotti.

Se a CBF decidir não esperar até junho de 2024, quem vier como alternativa corre o risco de balançar no cargo justamente quando o contrato do italiano com o Real Madrid estiver próximo de acabar. Valeria a pena arriscar? Serão seis jogos oficiais das Eliminatórias em 2023 e a competição só voltaria em setembro de 2024.

Evidente que a seleção brasileira anda lado a lado com uma grande exigência, que traz consigo uma enorme pressão. Não basta vencer, tem que vencer jogando bem. Mas, convenhamos, se a Eliminatória sul-americana já não era das coisas mais difíceis para o Brasil, ficou ainda menos dramática com o número de vagas aumentado para o Mundial de 2026. Agora, são seis (e não mais quatro) seleções da Conmebol classificadas diretamente para o torneio. Pensar no Brasil abaixo disso na tabela de classificação chega a ser coisa do outro mundo, beira o absurdo, tamanha a disparidade técnica em relação a outras equipes do continente.

Carlo Ancelotti não é uma obsessão à toa. Além de ser vitorioso, e de ter conseguido manter este viés vivo ao longo de décadas, é conhecido pelo bom manejo com as diferentes personalidades que compõem um vestiário de futebol. É, como diz sua biografia, uma liderança tranquila: sabe lidar com o astro do time, assim como ajuda na evolução de jovens valores. Mais importante: consegue tirar o melhor de todos eles.

Basta citar o quanto Vinícius Júnior evoluiu sob o comando do italiano, nos últimos anos de Real Madrid, para atestar a capacidade de Ancelotti. Rodrygo e Éder Militão, também jogadores da equipe espanhola, são outros que conhecem bem o técnico, assim como Richarlison, que viveu grande fase sob o comando do italiano quando ambos estavam no Everton. Mas o histórico é ainda mais longo, passando por inúmeros grandes jogadores que vão de Cafu até Kaká – que em 2007, sob o comando do ex-meio-campista, foi o último brasileiro a ter sido eleito melhor do mundo. Ancelotti conhece o jogador brasileiro de elite.

Dúvida de verdade será como os compromissos até um eventual junho de 2024 seriam encarados. Mas essa é outra história, que vai depender do desfecho principal. Ancelotti vindo, esperar pode valer a pena e ainda haverá tempo para montar um time que possa fazer bonito até 2026.