Brazil coach Tite.Getty

Se Tite está em paz após queda na Copa do Mundo, seleção brasileira não pode estar

Segue a sina do Brasil no mata-mata de Copas do Mundo contra equipes europeias. A seleção brasileira foi eliminada nas quartas de final, perdendo na disputa por pênaltis contra a Croácia. Foi, também, o último ato de Tite no comando da equipe nacional. Depois de 81 jogos, um título de Copa América e apenas três derrotas em jogos oficiais (para as estatísticas, a queda frente os croatas conta como empate apesar do fracasso) a vaga na área técnica está em aberto. Apesar de ter dito que deixa o cargo em paz pelo trabalho realizado, a seleção brasileira não pode compartilhar do mesmo estado de espírito do seu agora ex-treinador. Há muito trabalho a ser feito pensando em 2026.

Em Mundiais, a seleção de Tite caiu nas quartas de final tanto em 2018 quanto agora em 2022. Olhando para a frieza do resultado, não houve evolução nenhuma entre o que aconteceu na Rússia e no Qatar. A última semifinal de Copa foi em 2014, no 7 a 1 para a Alemanha. Desde o Penta em 2002, todas as vezes que enfrentou um time europeu nas quartas o Brasil foi eliminado.

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Até o fatídico jogo contra a Croácia, em que o Brasil menos teve o controle da situação, portanto um de seus piores, e um dos piores de Tite como treinador da equipe nacional, houve uma renovação importante nos jogadores – nomes que poderão ser aproveitados em 2026, como Vini Júnior, Paquetá, Militão e Rodrygo. A seleção conseguia ao menos ser um time quando não tinha Neymar, ao contrário do que acontecia em anos anteriores. Isso também é um mérito de Tite.

O Brasil sofreu no primeiro tempo contra a Croácia, mas foi dominante a partir da segunda etapa. Faltou o gol. Livakovic, o goleiro croata, foi herói no tempo regulamentar e em boa parte da prorrogação até, enfim, ser vencido por um golaço de Neymar. Foram 11 finalizações na direção da meta adversária, com 2.55 de gols esperados (xG) contra uma única finalização da Croácia na meta canarinho. Justo a que terminou no gol de empate, marcado por Bruno Petkovic em uma jogada de desatenção geral por parte dos brasileiros. Nas penalidades, Neymar sequer foi para a cobrança, Alisson não defendeu nenhuma bola e o Brasil foi eliminado.

O Brasil foi superior em relação à Croácia? Evidente. Mas ao mesmo tempo em que construía suas chances, o time parecia estar afobado em campo. E Tite, fora dele, também. A substituição de Vini Júnior, um dos melhores desta Copa do Mundo, provavelmente não foi uma boa escolha. Ter deixado Neymar para a última cobrança de pênalti, a que nunca existiu, depois de Rodrygo ter desperdiçado a primeira batida, também foi muito questionável.

A ansiedade que levou o time a deixar um buraco no meio-campo para atacar com quase metade de suas peças, mesmo estando vencendo por 1 a 0 nos últimos minutos do segundo tempo da prorrogação, indicava alguma coisa errada. E o resultado final puniu o que havia de errado: mais uma vez, o Brasil caiu para um europeu em mata-mata de Copa do Mundo. Uma seleção croata com um craque histórico em Luka Modric, claro, mas uma Croácia bem mais frágil do que a que foi vice-campeã há quatro anos.

Perguntado sobre o qual era sua sensação ao deixar o cargo da seleção brasileira, na entrevista coletiva após a eliminação, Tite afirmou estar em paz: "a derrota foi dolorida, mas estou em paz comigo mesmo. É o fim de ciclo", afirmou. Ao longo destes cerca de seis anos em que esteve à frente da equipe nacional, Tite sempre foi honesto, educado, buscou profissionalizar a maior parte dos processos de forma que não víamos antes de sua chegada. Ok.

Mas apesar de tudo, ainda falta algo para a seleção brasileira voltar a se colocar entre as quatro melhores do mundo. Não conseguimos isso mesmo nos melhores anos de Neymar como jogador. A impressão é de oportunidades desperdiçadas. O Brasil se encaminha para 24 anos sem o título mundial, igualando o período entre 1970 e 1994. Se Tite está em paz após a eliminação para a Croácia, a seleção brasileira não pode se permitir o mesmo.

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