Reinier foi oficializado como contratação do Real Madrid nesta segunda-feira (20). O meia-atacante de apenas 18 anos custou 30 milhões de euros aos cofres merengues, o que lhe coloca como terceira maior venda na história do Flamengo (atrás de Vinícius Júnior e Lucas Paquetá) e no Top 10 geral no ranking do futebol brasileiro .
É a primeira grande venda de um clube do nosso país em 2020, sendo que 2019 contou com a ida de Rodrygo, joia do Santos, para o Real Madrid e no ano anterior Vinícius Júnior, revelado no Flamengo assim como Reinier, também fazia sua estreia como jogador merengue – ambos chegaram ao estádio Santiago Bernabéu por 45 milhões de euros cada. Nenhum deles completou 20 anos de idade ainda.
Diante deste cenário, é impossível não se perguntar: por que os clubes europeus, especialmente o Real Madrid, resolveram apontar a mira definitivamente para atletas que ainda engatinham no futebol profissional? Abaixo, a Goal procura discutir estes motivos.
Trauma com Neymar
Getty Apresentação de Neymar no Barcelona, em 2013 (Foto: Getty Images)
A resposta mais óbvia em relação ao Real Madrid foi o trauma do clube ao não ter conseguido trazer Neymar, na época em que o craque brasileiro ainda vestia a camisa do Santos.
Ainda criança, o meia-atacante chegou a visitar as instalações do clube, mas quando sua permanência no futebol brasileiro passou a ser impossível a escolha foi pelo Barcelona. No Camp Nou, fez história ao lado de Messi e o rival madridista sentiu o golpe: não queria mais vivenciar algo parecido.
Cidadão brasileiro, jogador europeu
getty images Rodrygo, no Real Madrid (Foto: Getty Images)
Outro ponto que contribui é poder fazer a última lapidação nos talentos mais brutos. Não que este seja sempre o caso, mas tem sido importante dar aos jovens a experiência e intensidade que são características do futebol europeu.
Vale destacar que tanto Vinícius Júnior quanto Rodrygo, por exemplo, tiveram que disputar partidas pelo Castilla, o 'time B' do clube espanhol, antes de, enfim, serem relacionados para a equipe principal.
Não é algo específico a brasileiros ou sul-americanos. Para ficarmos apenas no Real Madrid, Martin Odegaard (21 anos) e Takefusa Kubo (18 anos), outros jovens contratados pelo clube, atualmente estão emprestados para Real Sociedad e Mallorca. E já são destaques destas equipes. Nas próximas temporadas poderão retornar com uma bagagem de maturação e responsabilidade bem maiores.
Facilitar a adaptação
Uma das consequências desta lapidação final é facilitar na adaptação destes jovens não só ao próprio jogo, mas também no âmbito pessoal – com o intuito de evitar eventuais dificuldades comuns em meio a culturas diferentes.
Fair Play Financeiro da UEFA
Mas como o futebol é um negócio, e o que manda nesta alçada é o dinheiro, evidente que a questão econômica também faz sua parte. Com um mercado altamente inflacionado pelos valores nas transações de atletas mais consagrados, os clubes apostam nos mais jovens exatamente porque eles podem ser mais baratos de se trazer – ainda que exista posteriormente o trabalho de fazer esta lapidação.
Esta escolha cresceu nos últimos anos especialmente pelo Fair Play Financeiro da UEFA, que busca regular os clubes a gastarem dentro de suas possibilidades econômicas, e assim colocar um fim às dívidas que poderiam deixar tais entidades em risco – evitando também o que muitos chamam de “doping financeiro”.
Um dado que mostra esta busca, até mesmo dos gigantes europeus, por atletas jovens foi apresentado no relatório de transferências, divulgado pela própria UEFA, em 2019.
Na janela europeia de transferências que abriu a atual temporada (2019-20), 64% das contratações feitas pelos 80 clubes participantes de Champions League e Europa League foram jovens abaixo dos 24 anos de idade.
Especialmente em um país que exporta pé de obra, como é o caso do Brasil, é bom curtir cada momento dos jovens promissores que vestem as camisas dos nossos clubes: dificilmente eles ficarão aqui durante muito tempo.
