Prodígio do Red Bull Bragantino, equatoriano Realpe explica escolha pelo Brasil e novo projeto

O zagueiro Leonardo Realpe ainda não é conhecido no futebol brasileiro, mas se trata da primeira transferência que pretende marcar a atuação do Red Bull Bragantino no país. Além de apostar em jovens brasileiros, o clube do interior quer se transformar num ponto de referência para os atletas no começo da carreira profissional em toda a América do Sul.

"Quis dar um passo a mais na minha carreira, vejo o Brasil como uma vitrine para sair à Europa e para crescer", comentou o defensor, em entrevista concedida à reportagem da Goal de sua casa, em Bragança Paulista, cidade de onde não saiu desde o começo da pandemia.

O projeto de se transformar nessa referência não é novidade para quem acompanha a iniciativa da Red Bull pelo mundo. Tanto o time de Leipzig, na Alemanha, quanto o de Salzburgo, na Áustria, são vistos como ótimas portas de entradas para o futebol europeu, um estágio inicial para quem quer um ambiente favorável aos jovens.

A explicação é óbvia: a maioria dos atletas locais também sã jovens, as equipes não estão em grandes centros dos seus países e as torcidas não costumam cobrar como fazem as dos gigantes. Por isso, passar uma, duas, até três temporadas é normalmente o caminho adotado pelos atletas.

"Esse é o projeto que tenho agora. Vencer aqui no futebol brasileiro, mostrar o meu valor e, depois do Red Bull, sair à Europa", comentou o jovem. À espera da retomada do esporte no país, ele ainda relembrou os tempos de Independiente del Valle, a heroica eliminação sobre o Corinthians na Sul-Americana e o que viu de diferente no Brasil.

Goal: Quais as diferenças entre o futebol brasileiro e o do Equador?

Léo Realpe: O futebol daqui é mais rápido, se joga com a bola mais nos pés, a torcida influencia bastante. Muita diferença em relação ao que se tem no Equador.

Goal: Viu diferença na torcida também?

Léo Realpe: Del Valle não tem muita torcida, Red Bull tem bastante até, apoia a gente. É bem mais.

Goal: Como foi seu começo no futebol?

Léo Realpe: Eu fui para o Del Valle quando tinha 12 anos. Saí aos 14 anos para uma outra equipe, emprestado a um time de Guayaquil. Mas esse time fechou o convênio e, com 15 anos, eu voltei para a minha cidade. Fiquei estudando esse tempo todo. Só treinava, até que o Del Valle me chamou para voltar a Quito.

Goal: Por que ficou esses quase três anos sem jogar?

Léo Realpe: Minha mãe não gostou de eu ficar viajando de uma lado para outro, sem estudar, preferia que eu ficasse em casa e terminasse os estudos. Quando fui ao Independiente, fiquei em um colégio, faltava um ano para terminar, mas aí comecei a jogar no time de cima.

Goal: Pretende finalizar os estudos?

Léo Realpe: Claro, quando eu tiver a oportunidade de aprender melhor o português posso tentar finalizar aqui em Bragança mesmo. Seria um pouco mais complicado (risos), mas acho possível.

Goal: Ter muitos jogadores jovens ajudou na sua adaptação?

Léo Realpe: Sim, é algo bom, me ajuda bastante, são jogares jovens. E são amigos, mais que tudo. Fiquei bem próximo ao Morato, também ao Alerrandro. Todos me tratam muito bem.

Goal: E como tem sido morar em Bragança Paulista?

Léo Realpe: Aqui em Bragança parece com quando eu vivia em Quinindé, é tudo mais tranquilo. Acaba sendo bom porque é com o que eu estou mais acostumado.

Goal: Você chegou a voltar para o Equador depois de vir?

Léo Realpe: Não, não voltei agora com a paralisação. Não sabíamos quando ia voltar, fiquei treinando aqui no Brasil. Se eu voltasse para o Equador poderia não ser permitido retornar para o Brasil. Então passei esse tempo aqui dentro de casa, foi terrível (risos).

Goal: A situação no Equador também não era das melhores. Como viveu isso daqui?

Léo Realpe: Preocupado, lá onde eu vivo há muito casos, mais do que aqui em Bragança. Fiquei preocupado, queria que viesse a  minha família, mas também não foi possível. Meu pai, minha mãe e a minha irmã moram lá, graças a Deus estão bem.

Goal: Em termos de futebol, atuar naquele Del Valle te ajudou a se acostumar com o futebol brasileiro?

Léo Realpe: É, ajudou, sim. Porque o Independiente Del Valle joga muito com a bola nos pés, é quase idêntico ao que temos aqui.

Goal: Ano passado até eliminou o Corinthians ganhando na Arena...

Léo Realpe: Sim! Estávamos dizendo que era uma disputa entre Davi e Golias, mas nós viemos com muita vontade de ganhar. Motivados mesmo. Ainda mais naquele estádio, a Arena, em que a torcida não para de cantar, grita muito. Foi um momento muito especial na nossa carreira.

Goal: Já tinha jogado em um estádio daquele?

Léo Realpe: Eu já tinha jogado em estádios cheios pelo Del Valle, mas não com tanto barulho e daquele tamanho. A Arena é maior, com muito mais gente, não imaginava isso.

Goal: O projeto da Red Bull não necessariamente te colocará com uma grande torcida apoiando. Isso faz falta para o jogador?

Léo Realpe: A melhor parte do futebol para um jogador é que tenha o apoio da torcida, é uma parte grande. Faz diferença, sim, claro, a torcida vai te apoiar sempre. Esses times são equipes que, em realidade, vale a pena jogar contra e a favor. Vão para apoiar. Foi uma motivação a mais para todos nós.

Goal: Houve uma preparação especial para encarar o Corinthians?

Léo Realpe: Em termos táticos, o nosso time era o mesmo. O estilo de jogo não mudava para nada. Nós planejamos e eles ficaram como o treinador esperava no campo.

Goal: Para fechar, qual é a sua principal referência no futebol?

Léo Realpe: Thiago Silva, sempre vi vídeos dele. Tem uma boa saída de bola, vai em todas, sai para ganhar cada disputa. É um craque. Do Equador, não sei. Talvez o Arboleda, que joga no São Paulo. Conheço, mas nunca falei com ele.

Publicidade