Uzbekistan v Spain: Men's Football - Olympic Games Paris 2024: Day -2Getty Images Sport

Por que só jogadores sub-23 podem disputar o futebol nas Olimpíadas?

Uma das principais regras para a disputa do futebol nas Olimpíadas é a limitação de idade para que os atletas possam defender as suas seleções. Os elencos devem contar com jogadores de, no máximo, 23 anos completos no ano da realização da edição em questão dos Jogos Olímpicos para poderem ser inscritos – ainda que possam ser inscritos três nomes acima desse limite de idade.

Mas por que essa regra existe?

O principal motivo para que esse limite de idade tenha sido adotado é a Fifa. A entidade máxima do futebol mundial temia que a disputa das Olimpíadas criasse uma concorrência indesejada à sua Copa do Mundo e, como órgão supremo da modalidade, arrumou uma maneira de limitar esse impacto. Esse limite de idade, no entanto, nem sempre foi a maneira imposta pela Fifa para regular o futebol nos Jogos Olímpicos.

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Desde que foi oficializado no programa olímpico, em 1908, o futebol passou por muitas mudanças em seu formato para não "brigar" com a Copa do Mundo. Para entender melhor essa evolução, podemos dividir essa história em três fases: antes da Segunda Guerra Mundial, amadorismo e era moderna, como conhecemos nos dias de hoje.

Na primeira etapa, até o final da Segunda Guerra, o futebol olímpico era muito desorganizado, mas, mesmo assim, ainda era a principal competição internacional por reunir seleções nacionais de todo o planeta - até 1930, com a primeira Copa do Mundo - e, por isso, era conhecido como o Campeonato Mundial de Futebol.

As primeiras equipes de futebol de fora da Europa só começaram a competir a partir das Olimpíadas de 1920, em Antuérpia, na Bélgica. Antes disso, outros países sequer faziam a inscrição de suas seleções de futebol, considerando que o esporte não era grande o suficiente para levar toda uma delegação numa longa viagem transatlântica, em uma época na qual as viagens de avião comerciais ainda eram uma ideia distante.

Ao final dos Jogos Olímpicos de 1924, que teve grande apelo no caminho do Uruguai rumo à medalha de ouro, o Comitê Olímpico Internacional (COI) e a Fifa começaram a debater os moldes do que seria o novo futebol, que seria disputado como uma modalidade amadora.

Em 1932, nas primeiras Olimpíadas após a primeira edição da Copa do Mundo (1930), a Fifa acabou por proibir a entrada do futebol no programa dos Jogos de Los Angeles, o único que não teve a modalidade desde então.

Na edição seguinte, porém, o futebol voltou às Olimpíadas, já com a implantação do amadorismo, onde nenhum jogador profissional poderia defender seu país nos Jogos - ou seja, nenhum atleta que fosse remunerado para jogar futebol.

À época, os países socialistas do Leste Europeu utilizavam militares como jogadores e, portanto, os principais atletas eram considerados amadores e poderiam jogar. Desta forma, essas seleções se faziam valer do chamado "amadorismo de fachada" para dominarem a modalidade por um longo período dos Jogos Olímpicos, somando várias medalhas de ouro conquistadas: União Soviética (1956), Iugoslávia (1960), Hungria (1964 e 1968), Polônia (1972), República Democrática Alemã (1976) e Tchecoslováquia (1980).

Para se ter uma ideia, entre os Jogos Olímpicos de Londres 1948 e os de Moscou, em 1980, 23 das 27 medalhas olímpicas disputadas foram conquistadas por países do bloco comunista, cabendo a Dinamarca, Suécia e Japão as únicas exceções.

Com  uma clara discrepância entre as seleções que eram forçadas a disputarem os Jogos Olímpicos com jovens em início de carreira, não profissionalizados, o futebol foi perdendo o interesse do público a cada edição das Olímpiadas. Era hora de Fifa e COI repensarem o formato de disputa.

Para os Jogos Olímpicos de Roma, em 1960, a Fifa tomou a decisão de proibir, além dos atletas profissionais, a participação dos jogadores que haviam disputado a Copa do Mundo de 1958, na Suécia, tentando restringir, assim, a participação de atletas de países que não reconheciam o profissionalismo.

Mais tarde, em 1984, nas Olimpíadas de Los Angeles, o COI passou a admitir a participação de profissionais. A Fifa, porém, voltou a restringir a ida de quem havia disputado a Copa do Mundo, mais uma vez na tentativa de não haver competição entre os Jogos Olímpicos e o Mundial.

Anos depois, nos Jogos de Barcelona (1992), foi implementada a regra do limite de 23 anos, proibindo que atletas mais velhos fossem às Olimpíadas. Quatro anos depois, na edição seguinte, passou-se a admitir três exceções no elenco, e jogadores acima desta idade poderiam voltar a participar, sem a restrição de terem disputado ou não competições profissionais da Fifa.

Para as Olímpiadas de Tóquio, em 2020, atrasada em um ano e disputada apenas em 2021 por conta da pandemia da Covid-19, o COI aumentou, extraordinariamente, o limite de idade para os jogadores fora da exceção em 24 anos. Tudo para não impedir a participação de atletas que estariam em idade olímpica no ano anterior, quando os Jogos deveriam ter acontecido.

Para os Jogos de Paris, em 2024, voltou a regra que permite apenas três atletas com mais de 23 anos. Existe, também, uma questão importante a ser destacada: os Jogos Olímpicos ainda não são considerados uma competição oficial da Fifa e, portanto, os clubes são desobrigados a cederem seus atletas e podem vetar sua participação se assim desejarem.

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