FUTURE OF FOOTBALL Ballon d'Or GFXGetty/Goal

Por que a Bola de Ouro começa a ofuscar a Copa do Mundo?

A disputa pela Bola de Ouro de 2020 deve ser a mais estranha dos últimos anos. Com a Covid-19 impedindo que o futebol seja disputado em todo o mundo e com a indefinição se haverá alguma "normalidade"até o fim do ano.

A Eurocopa e a Copa América foram adiadas. Assim como a Olimpíada, que poderia dar a Neymar o segundo ouro, ou um título inédito a Kylian Mbappé ou Sergio Ramos, que demostraram interesse em disputar a competição.

A volta da Liga dos Campões e da Liga Europa parece ser inviável no momento, já que há a questão de viagens internacionais em meio à pandemia. Então, restarão apenas campeonatos locais e os jogos internacionais antes da paralisação para decidir quem foi o melhor futebolista de 2020.

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Claro que as conversas sobre quem deve ser o melhor do mundo ficaram em segundo plano diante do sofrimento de tantas pessoas em todo o mundo. Este cenário coloca em dúvida, inclusive, que haja a premiação da Bola de Ouro ou algo similar neste ano.

Entretanto, quando o futebol voltar à uma certa normalidade, choverão comentários nas redes sociais de torcedores pedindo que seus jogadores favoritos sejam premiados. Em sua coluna na Goal, em 2016, Philipp Lahm chegou a comentar sobre a possibilidade de mudar a votação para estes prêmios.

"Como seria fazer a seleção dos candidatos para a próxima Bola de Ouro via Facebook? Isso seria uma maneira moderna de fazê-la. E o resultado provavelmente seria o mesmo", disse o ex-jogador da seleção alemã.

Vencer a Bola de Ouro tornou-se um feito possível para apenas dois jogadores nos últimos anos (com exceção de 2018), que serão colocados junto aos maiores jogadores da história do futebol quando se aposentarem. Desde 2008, Leo Messi e Cristiano Ronaldo venceram 11 das 12 Bolas de Ouro no período. A outra foi vencida por Luka Modric.

Lionel Messi Cristiano Ronaldo Ballon d'OrGetty/Goal

"Com estes jogadores, tivemos os dois melhores do século 21", disse Pascal Ferre, editor chefe da France Football, ao Bleacher Report. "Como todo grande campeão, eles não aceitam o segundo lugar. Eles lutaram mano-a-mano nos últimos 10 anos".

A rivalidade entre Messi e Cristiano Ronaldo, somado à ascensão das redes sociais e patrocínios deram início a uma nova era, a do individualismo. Chegou-se ao fim os tempos em que vencer uma Copa do Mundo era considerado o ápice para os jovens jogadores.

"Obviamente, eu sonho em ganhar a Bola de Ouro, assim como os que ganharam antes de mim, como Leo Messi, Cristiano Ronaldo, Modric e Ronaldinho", disse Jadon Sancho à Goal em 2016, com apenas 19 anos. "Todos estes grandes jogadores ganharam, então acho que deveriam ser uma grande inspiração para qualquer um no mundo que jogue futebol."

Embora muitos ainda questionem o tamanho de um prêmio individual em um esporte essecialmente coletivo, não há dúvidas que o impacto de uma Bola de Ouro mudou. Jogadores mudam de clube pensando especificamente em vencer este prêmio e contratos são feitos com cláusula caso o jogador seja premiado.

Anthony Martial e Bruno Fernandes tiveram tais cláusulas incluídas em seus contratos quando fechar com o Manchester United. Caso o português vença o prêmio, os Red Devils pagarão cinco milhões de euros ao Sporting.

Mas se há um jogador que resume este fascínio pelo prêmio de melhor jogador do mundo é Neymar.

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O brasileiro deixou o Barcelona para sair da sombra de Messi e ser o sucessor do argentino quando chegasse o auge de sua carreira. O Barça colocou a clásula da Bola de Ouro caso Neymar vencesse a Bola de Ouro em seu período no PSG.

"Ter um vencedor da Bola de Ouro em seu elenco aumenta o valor do clube", afirmou Carlo Brusa, advogado esportivo, ao jornal Le Parisien. "Você pode esperar 45 mil pessoas no Parque dos Príncipes para celebrar isso caso Neymar vença".

As coisas não poderiam ter saído pior para Neymar. Seu tempo em Paris o deixou ainda mais longe da conquista de tal prêmio. As lesões e as poucas participações do jogador em jogos decisivos são os grandes motivos, mas com os títulos nacionais conquistados.

O brasileiro, inclusive, ficou de fora da lista dos 30 candidatos ao prêmio que a France Football divulgou em 2019. E a disputa fica cada vez mais complicada com a ascensão de jogadores como Kylian Mbappé, Erling Haaland e o próprio Sancho.

A Bola de Ouro se tornou um Oscar do futebol, com prêmios para melhor goleiro, melhores jogadoras e melhores jovens atletas sendo entregues na mesma noite. Com o prêmio "The Best", a Fifa busca ofuscar o prêmio da revista francesa, mas acaba apenas saturando esse mercado.

"Fazer parte da classe dos vencedores da Bola de Ouro significa algo. É como no cinema. Um ator que ganha um Oscar se torna muito mais lucrativo. Um jogador que ganha a bola de ouro aumenta em valor de mercado", concluiu Ferre.

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