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Onde está Megan Rapinoe? Após 2019 fantástico, a americana seguiu brilhando fora de campo

Megan Rapinoe não era o ícone que é hoje antes de 2019, ainda que fosse uma grande estrela no meio do futebol feminino.

Após ser uma das principais jogadores do mundo por anos, teve um 2019 agitado com participações na mídia por várias semanas.

Dentro de um conflito público com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a atacante ajudou a seleção americana a vencer sua segunda Copa do Mundo consecutiva, tendo marcado seis gols no torneio, incluindo um na final - e sendo a artilheira da competição.

Enquanto continuava dividindo a opinião pública por sua postura transgressora, Rapinoe venceu a Bola de Ouro e um grande número de prêmio individuais para terminar uma temporada em que praticamente recebeu a atenção da mídia durante todo o ano.

Em 2020, porém, entrando na temporada de prêmios individuais, ela não está em debate.

Vencedora do Goal 50 na última temporada, a atleta de 35 anos nem fez parte da lista deste ano.

Para uma jogadora que praticamente vem representando a força do futebol feminino nos últimos tempos, é algo no mínimo incomum.

A última vez que Rapinoe entrou em campo foi em 11 de março. Com sete minutos de jogo, colocou uma falta cobrada na entrada da área no ângulo da goleiro japonesa para dar a vantagem aos Estados Unidos, pela SheBelieves Cup.

Desde então, o futebol entrou em segundo plano. Rapinoe decidiu não voltar ao seu clube, OL Reign, quando a NWSL organizou a Challenge Cup em julho, já que a temporada regular foi paralisada. Ela também decidiu não jogar a Fall Series em setembro.

Assim, em um ano onde nós vimos um grande número de políticos mandarem atletas "focarem no esporte", Rapinoe vem utilizando sua plataforma para falar sobre problemas sociais e questões mais importantes que a bola.

Falou sobre a importância de votar na eleição presidencial americana, deu suporte ao movimento Black Lives Matter, continuou lutando contra a discriminação, além de outras mensagens significativas para seus milhões de seguidores.

Teve um grande impacto enquanto o fez, também.

Lionel Messi Megan RapinoeGetty

A Fair Count é uma organização que luta para alcançar um censo justo e preciso no estado da Georgia e nos Estados Unidos.

A sua mensagem foi especialmente importante em um ano eleitoral - ainda mais agora, com Trump pedindo várias vezes por recontagens -, e a fundadora Stacey Abrams foi só uma das figuras relevantes que Rapinoe usou para amplificar sua plataforma.

"Ela fez um programa online chamado Pergunte para Stacey, onde nós falamos sobre o censo," conta Rebecca DeHart, CEO da FairCount, para a Goal.

"Nós fomos capazes de usar alguns desses vídeos para propaganda online digital e recebemos muitos cliques, onde os internautas aparentaram estar interessados em aprender o próximo passo e sobre o censo, utilizando a influência dela e de outras pessoas que fazem parte do programa."

"Mesmo que nós não tenhamos os números completos do censo até agora, sabemos que fomos melhores do que em 2010 na Georgia, e isso é muito empolgante," completou, falando poucos dias antes da eleição.

"Em todos os sete estados do sudeste do Estados Unidos, só três tiveram participação maior do que em seu censo de 2010, e é muito bom que nós fomos um deles."

A Georgia foi um dos estados cruciais na eleição de 2020 e, excluindo uma virada na recontagem, parte integral da derrota de Trump.

Patrisse Cullors-Brignac, co-fundador do movimento Black Lives Matter, e Joe Biden, presidente eleito dos Estados Unidos, foram outros convidados no Instagram da atacante, que também foi apresentadora de um programa na HBO chamado Seeing America, com Alexandria Ocasio-Cortez, a mulher mais jovem a participar do congresso americana, além de outras figuras importantes.

Não foram só nomes importantes para quem ela deu espaço em suas plataformas, porém. Fazendo parte do movimento #ShareTheMicNow, Rapinoe foi uma das muitas mulheres brancas com muitos seguidores que emprestaram suas contas nas redes sociais para mulheres negras.

Franco Steez, um curador de museu, assumiu a conta de Rapinoe em certa ocasião, compartilhando mensagens antirracistas para um público de dois milhões de pessoas. Steez tem seis mil seguidores em sua conta no Instagram. "Essas são as vozes que precisamos ouvir," escreveu Rapinoe.

Esse ativismo não é nada de novo. Ela não está só seguindo a maré e fingindo se importar.

Megan Rapinoe USWNT GFX (1:1)Getty/Goal

Quando o quarterback da NFL, Colin Kaepernick, se ajoelhou durante o hino nacional americano em 2016 - protestando contra a brutalidade policial e a opressão sistemática do povo negro - Rapinoe foi uma das primeiras vozes a lhe apoiarem.

Como resultado, a Federação Americana de Futebol criou uma regra exigindo que todos os jogadores se levantassem "respeitosamente" durante o hino, tranformando-se na primeira entidade a tomar decisão do tipo.

"Foi um pequeno recado para Kaepernick e tudo que ele está fazendo," ela falou na época, explicando a sua decisão de se ajoelhar.

"Eu acho que é um absurdo o modo como ele está sendo tratado pela mídia que está cobrindo o caso, que está mudando o foco de sua mensagem para algo diferente."

"Nós precisamos ter um debate maior sobre a injustiça racial no nosso país."

Pessoas como Rapinoe falando sobre isso, para uma audiência diferente daqueles que já estão acostumados a ouvir sobre esses debates, podem mudar atitudes e abrir os olhos daqueles que não sofrem com esses problemas ou que não tem conhecimento total deles.

"Um censo não é uma coisa tão empolgante. Quando nós conseguimos quebrar essa primeira barreira e falar realmente sobre o que ele significa e como ele pode ajudar a sua vida, realmente nos ajuda divulgar nossa mensagem," explica DeHart.

"Megan é uma mulher de ação, e eu admiro muito por isso. Ela tem um compasso moral muito forte e sempre está lutando para acabar com as injustiças."

"Quando ela se juntou conosco no censo, ela entendeu que se as pessoas não participassem, se elas ficassem com medo ou não acreditassem no nosso trabalho, poderiam ser prejudicadas."

"Ela sabia que seria um grande problema para eles serem ouvidos pela próxima década se não participassem."

Megan Rapinoe quote GFX (1:1)Goal

O triste é que Rapinoe permanece na minoria quando falamos sobre estrelas do futebol falando de problemas sociais.

"Eles poderiam fazer tanta coisa se utilizassem sua popularidade para lutar contra o racismo, por exemplo," opinou para a L'Equipe Magazine recentemente, falando sobre estrelas como Lionel Messi e Cristiano Ronaldo.

"Eu não estou falando de usar uma camisa da Black Lives Matter, estou falando de fazer mais do que o básico."

"A força que tem Lewis Hamilton pra tratar desses assuntos é incrível, para nem citar Lebron James, duas grandes estrelas."

"Naomi Osaka, que no US Open, vestiu máscaras com nomes de pessoas negras mortas pela polícia americana, como Breonna Taylor e George Floyd. No meio do mundo do tênis, que é absurdamente branco!"

"Esses atletas me inspiram. Nós não podemos ser tímidos. Precisamos usar nossa influência."

No último ano, quando Rapinoe subiu no palco para falar no FIFA Best Awards, tendo sido escolhida a melhor do mundo em 2019, comentou: "Empreste sua plataforma para outras pessoas, divida seu sucesso."

Um ano depois, não está disputando o prêmio, ou qualquer outro que venceu 12 meses atrás, já que praticamente nem entrou em campo em 2020. Mesmo assim, distante do futebol, vem mostrando o impacto de sempre.

Enquanto tantas estrelas do futebol parecem com medo de criticar aquilo que está errado, a luta de Rapinoe contra a injustiça e a discriminação é uma das poucas coisas que seguem normais em 2020.

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