seleção brasileira femininaThaís Magalhães/CBF

O que podemos esperar da seleção brasileira feminina em 2023?

Finalmente estamos em ano de Copa do Mundo! No período de 20 de julho a 20 de agosto, Austrália e Nova Zelândia receberão o Mundial feminino, que é o grande objetivo da seleção brasileira em 2023. Dentro da nossa realidade, o que é possível esperar do conjunto Canarinho?

A treinadora Pia Sundhage lidera o tão sonhado processo de renovação do elenco, que teve início após a Olimpíada de Tóquio (a partir de setembro de 2021). Mesclando jovens jogadoras com a espinha dorsal formada por peças mais experientes, a sueca tem realizado muitos testes e oxigenado o grupo. Como exemplo, Rafaelle, Tamires e Debinha são figuras mais longevas, ao passo que Tainara, Ary Borges e Kerolin são talentos da nova geração.

Como em todo processo de transição, oscilações são comuns, principalmente quando juntamos um bom número de jovens e atletas pouco experimentadas no cenário internacional. Logo, paciência, continuidade e acreditar no projeto são fatores fundamentais.

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Além do tempo, que é curto para desenvolver o time, Sundhage lida com outro grande desafio: as lesões. Em todas as Datas Fifa pós-Tóquio, a comandante teve problemas para convocar a equipe, o que a impediu de dar sequência de jogos para um mesmo time titular (vale destacar que a covid-19 também foi um fator).

Peças-chave como Érika, Luana e Marta tiveram graves lesões e ainda buscam retornar à melhor forma física (a Rainha está em fase final de recuperação após ter rompido o ligamento cruzado anterior do joelho em março de 2022). Rafaelle, jogadora mais regular do time, tem se machucado de forma constante, o que dificulta na sequência. Angelina, pilar do meio-campo, também rompeu o LCA e é duvida para disputa da Copa. Além dessas, outros nomes importantes já ficaram indisponíveis por momentos nos últimos meses – como Gabi Nunes, Tainara e Duda Sampaio – e alguns permanecerão como baixas – é o caso de Ludmila e Antonia, esta que precisará operar o menisco do joelho direito –.

Dessa forma, com demasiadas perdas no elenco, ainda que algumas delas por curto espaço de tempo, Pia tem dificuldades para definir seu time ideal, visto que a sequência é prejudicada. Consequentemente, há impacto na evolução tática da equipe, no entrosamento e na química entre peças, bem como na fluidez das jogadas em campo.

Apesar dos obstáculos, o conjunto Canarinho vem em evolução e fechou 2022 com nota positiva. O título da Copa América no último mês de julho trouxe bastante confiança e foi vital para definição do calendário com a classificação garantida para o Mundial de 2023 e para Olimpíada de 2024. No entanto, esperava-se mais da performance e da postura do time durante a competição, especialmente na fase de criação ofensiva e no momento sem a bola. Nas Datas Fifa subsequentes, Sundhage apresentou algumas variações de jogo e finalizou o ano com cinco vitórias (África do Sul duas vezes, Noruega, Itália e Canadá) e uma derrota (Canadá) nas últimas seis partidas.

Faltando menos de sete meses para Copa, a missão da seleção brasileira é acertar os ponteiros e buscar maior consistência e equilíbrio nas atuações. O conjunto possui identidade e forma definida de jogar, mas ainda precisa melhorar a compreensão tática e de posicionamento, bem como a execução e eficiência das ações em campo. Situações estas que ainda nos separam das principais seleções do mundo na atualidade. A parte física também exige cuidado, lembrando que houve troca de preparadora em agosto, com a entrada de Ivi Casagrande.

Até o Mundial, a equipe terá três Datas Fifa para amistosos. Em fevereiro, a disputa da SheBelieves Cup está garantida contra Estados Unidos, Canadá e Japão. Em abril, a Inglaterra será adversária na ‘Finalíssima’, título disputado pelos campeões da Copa América e da Eurocopa. Também nesse mês, ainda não há definição de um segundo adversário. Em julho, já na Austrália, o time terá os últimos duelos na preparação para Copa (oponentes não divulgados).

Pia, em diversas entrevistas coletivas, expressou seu desejo de ter tempo mais longo com as jogadoras na véspera do Mundial. Ana Lorena Marche, Gerente de Seleções Femininas da CBF, afirmou que a Confederação, em conjunto com a Supervisão de Competições, já está trabalhando na definição de todo esse planejamento. No último dia 20 de dezembro, foi divulgado o calendário de 2023 para o futebol brasileiro, revelando que o Brasileirão terá seu último jogo pré-Copa disputado no dia 25 de junho, o que poderá indicar esse período mais extenso de preparação desejado por Sundhage.

Trazendo o foco para o Mundial, o Brasil está no Grupo F, ao lado de França, Jamaica e a seleção classificada no Grupo C do playoff intercontinental (Taiwan, Paraguai, Papua Nova Guiné ou Panamá). Na fase seguinte, o cruzamento será contra o Grupo H, que tem Alemanha, Colômbia, Coreia do Sul e Marrocos.

sorteio Copa do Mundo femininaReprodução

É possível cravar que o sorteio foi traiçoeiro com a Seleção. Caímos no "lado da morte", junto com as favoritas Inglaterra e Alemanha, bem como a forte França e os competitivos Austrália e Canadá. O provável caminho para final será desafiador. Caso o Brasil desbanque as francesas e termine em primeiro do F, dá para sonhar com quartas/semifinal. Se ficarmos em segundo do F, nosso teto será oitavas (Alemanha).

Como costumo frisar em minhas colunas, gosto de considerar o contexto e a realidade para definir expectativas e analisar situações. Tendo em vista o momento da seleção brasileira, é possível esperarmos uma equipe bastante competitiva em campo, capaz de dar jogo contra as principais seleções do mundo e que tem capacidade para evoluir ainda mais até chegarmos no Mundial. A questão é darmos o próximo passo para subir de nível. Hoje, com as lesões enfrentadas e os ajustes que precisam ser feitos para atingirmos a consistência, ainda não estamos no estágio que nos dá garantia de vitórias contra os times favoritos. Dessa forma, mantendo os pés no chão, espero um bom 2023 do Brasil, com crescimento, afirmação de jovens jogadoras e expectativa de boas performances das peças mais experientes. No entanto, para sonharmos com voos mais altos na Copa do Mundo, precisaremos contar com o alinhamento de alguns fatores, o maior número possível de peças saudáveis, bem como com a sorte nos cruzamentos.

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