Quando anunciado em dezembro de 2015, Moisés, aos 27 anos, não era a contratação mais comemorada pela torcida do Palmeiras. Alguns mais atentos lembravam do bom jogador nos tempos de Portuguesa, mas muita gente ainda queria ver se aquele camisa 28 teria bola para assumir o protagonismo de um Palmeiras de elenco cheio e brigando pelos principais títulos do país.
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Pior: depois de ir bem na pré-temporada, se machucou logo no primeiro tempo de sua estreia no Campeonato Paulista, em fevereiro, perdendo quatro meses, inclusive a Libertadores, e voltando só para o Brasileirão.
E aí ele precisou de um campeonato para se tornar o maior meio-campista do Palmeiras neste século. Ao fim das 38 rodadas do Brasileiro 2016, era pedido na seleção brasileira, garantido nos prêmios da temporada, condutor do time campeão depois de mais de 20 anos e, em janeiro de 2017, presenteado com a camisa 10 pelo clube.
Ainda que prejudicado por lesões e com concorrentes talvez mais talentosos, Moisés, a sua maneira, uniu técnica e força física para ser o mais importante meio-campista do Palmeiras neste século.
Quem mais?
Desde o fim dos timaços dos anos 1990, o Palmeiras teve grandes jogadores, claro, ainda que até 2015 tenha vivido dois rebaixamentos para a Série B e apenas dois títulos de elite, o Campeonato Paulista de 2008 e a Copa do Brasil de 2012.

Essas duas campanhas marcam grandes participações de dois importantes meio-campistas. Primeiro, Valdivia. O chileno foi protagonista da conquista estadual antes de deixar o clube meses depois; na segunda passagem, entre 2010 e 2015, teve ótimos momentos, mas poucas vezes foi certeza de sequência em bom nível. A habilidade inquestionável o fez amado por muitos, mas o comportamento, com relação complicada com técnicos, diretores e torcida, o tornou odiado também por vários.
Depois, Marcos Assunção. Chegou já na casa dos 34 anos e liderou times limitados com a precisão no pé direito. Foi capitão e co-autor do gol do título da Copa do Brasil de 2012, aquele de Betinho. Chegou a entrar na seleção Bola de Prata da Revista Placar no Brasileiro de 2011, mesmo com um medíocre time de meio de tabela.
Outros ainda poderiam ser citados, como Magrão, destaque em 2004, Juninho Paulista, em 2005, Pierre, em 2009, as idas e vindas de Cleiton Xavier ou mesmo Bruno Henrique, um dos melhores do título nacional no ano passado. Mas ninguém foi o meio-campista do futebol brasileiro como Moisés em 2016. Entrou no segundo tempo nas quatro primeiras rodadas para depois virar titular e não sair mais do time.
Controle de jogo, liderança positiva, técnica apurada, vigor físico e qualidade nas decisões. Combinação perfeita com Tchê Tchê e gol contra o maior rival em vitória fora de casa. À parte Jaílson, Mina, Dudu ou Gabriel Jesus, Moisés dava o ritmo, e o Palmeiras voltou a ter um meio-campista que colocava o jogo debaixo do braço.
A saída
Depois de nova lesão em 2017, Moisés nunca mais alcançou tamanha sequência em tão elevado nível. Ainda assim, teve seu brilho, como no retorno que deu efêmera sobrevida ao Palmeiras na Libertadores de 2017. Ou mesmo na taça de 2018, menos protagonista, mas importante em vários resultados da campanha.
O fim do ciclo parecia próximo, mas não precisava ser de forma tão apressada. Moisés perde o pênalti na eliminação para o Internacional na quarta, é liberado para resolver questões particulares na quinta e, pronto, negociação com o futebol chinês prestes a ser concretizada. Torcedores invadindo as redes sociais do camisa 10 para críticas, quando não agressões, e outros tantos aproveitando para comemorar a iminente saída do jogador.
Enquanto o Palmeiras era pressionado pela torcida em Fortaleza na sexta, perdia o jogo para o Ceará no sábado e depois sofria com turbulências e problemas na viagem para a Argentina no domingo, silêncio sobre Moisés. Aí surge uma foto com o jogador fardado pelo novo time, laranja, chinês. Depois, já tarde da noite, o clube postou uma foto de despedida em suas redes sociais com uma despedida de 12 palavras. Moisés fez um vídeo-monólogo em seu Instagram agradecendo o apoio, se dizendo torcedor e criticando o excesso de pressão sobre um time líder da tabela. E ficou por isso. Muito pouco.
O Palmeiras joga nesta terça-feira pelo mata-mata da Libertadores da América sem seu camisa 10 nem ninguém inscrito em seu lugar. Pior: sem que Moisés possa ter sido entrevistado pelos jornalistas na sala de imprensa nem homenageado pelo clube de forma decente. E depois vamos reclamar da falta de ídolos ou de valorização das histórias no nosso futebol.
A falta de memória da torcida passa (como pode alguém responder na rede social que 'quando mais precisou dele, ele não representou'?), mas, sabe-se lá o porquê, perde-se uma chance de despedida mais digna e positiva, resolvida por ordinárias postagens em redes sociais da internet.


