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Abel Ferreira Palmeiras River Plate Libertadores 13 01 2021Getty Images

Em 1999, Palmeiras criticou calendário e viveu dilema sobre desgaste em três competições

Durante o sorteio do mando de campo da final da Copa do Brasil nesta quinta-feira (14), a pergunta para o técnico do Palmeiras, Abel Ferreira, era uma só: como administrar, física e mentalmente, a disputa de três competições simultâneas - Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e Copa Libertadores - e jogos decisivos em série? 

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Há quase 22 anos, no meio de 1999, o dilema era parecido. O Palmeiras reclamava do calendário do futebol e temia uma sequência de lesões para os jogadores na disputa, então, do Campeonato Paulista no trio de compromissos ao invés da Série A – então jogada a partir do segundo semestre do ano.

"A cada jogo eu tenho medo que estoure uma lesão em alguém", disse o preparador físico Paulo Paixão na véspera de Palmeiras x Botafogo, numa sexta-feira de maio daquele ano. Dois dias antes, na quarta, o time havia superado o River Plate, também em São Paulo, garantindo vaga na final continental. O técnico Luiz Felipe Scolari repetiu cinco titulares, que foram a campo só 48 horas depois.

O clube reclamou. Felipão chegou a falar que a CBF estava "ferrando" o Palmeiras. O elenco lembrava que na temporada anterior algumas datas de jogos locais haviam sido alteradas para não prejudicar a sequência do Vasco, que acabou campeão da Libertadores. 

Apesar da dificuldade, a comissão técnica se apegava à capacidade de rodar o elenco. O Palmeiras chegava a 44 partidas no ano e nenhum jogador tinha chegado a atuar em mais de 80% dos compromissos. Ainda que fosse muito, se mostrava acertada a decisão lá no início da temporada quando muitos foram poupados de duelos do Rio-São Paulo e o início do Paulistão. Eram 36 nomes utilizados até ali, muito acima de qualquer um dos principais rivais.

Mas a indignação sobre o ritmo de jogos já vinha de antes. Nas semanas anteriores, havia acontecido o mesmo. O Palmeiras eliminou o Corinthians nas quartas de final da Libertadores numa quarta, e abriu a mesma etapa da Copa do Brasil visitando o Flamengo na sexta. Nove titulares jogaram ambas as partidas, e a dupla Junior e Oséas ainda fez a trinca no domingo, pelo Paulistão, contra a Inter de Limeira.

Depois, o Palmeiras visitou o River em Buenos Aires na quarta e eliminou o Flamengo em São Paulo na sexta. Naquela vez, sete palmeirenses saíram jogando em ambas as partidas. 

Palmeiras River Plate Rubens Javier Saviola Copa Libertadores 1999DANIEL LUNA/AFP/Getty ImagesFoto: DANIEL LUNA/AFP/Getty Images

No jogo diante do Botafogo, que rendeu as maiores reclamações do elenco, Scolari poupou alguns titulares. Havia um encontro com a Portuguesa dois dias depois, no domingo, e a comissão decidiu por time principal em busca de uma vaga nas semifinais do Estadual. Deu certo.

Mas faltavam só três dias para começar a final da Libertadores, contra o Deportivo Cali, na Colômbia. Ali, Marcos, Roque Junior e Oséas chegavam ao quarto jogo como titulares em oito dias: quarta, sexta, domingo e quarta. E o elenco estava no limite.

"Meu time está morto. Não tem mais perna", afirmou Felipão na volta do duelo contra os colombianos. O comandante disse que não podia mais cobrar seus atletas, e lamentava que, apesar de querer ganhar o Paulista que seria inédito em sua carreira, pouparia sete titulares das semifinais contra o Santos.

Com o time alternativo, no sábado, o Palmeiras perdeu o jogo de ida para o rival. Mas na terça, novamente no Morumbi e mais uma vez mesclando titulares e reservas, devolveu a vitória e eliminou o clube praiano, mesmo que ficasse claro que a taça regional era a última das prioridades.

Voltando à maratona. Na sexta, Scolari foi com o time completo para a volta das semifinais da Copa do Brasil, contra o Botafogo, e o Palmeiras acabou caindo nos pênaltis. E no domingo, a escalação mais controversa, na final do Estadual.

Das três competições, sobraram duas, e o Palmeiras havia perdido o primeiro jogo da final da Libertadores. Agora, reencontrava o Corinthians no primeiro jogo decisivo do Paulista. Mesmo assim, não houve meio-termo. O time foi inteiramente reserva para o Derby e tomou 3 a 0.

Pior: por anunciar que escalaria um time sem os principais jogadores, o técnico palmeirense foi multado pela Federação Paulista de Futebol em R$50 mil. Enquanto isso, Junior Baiano, Arce, Júnior, César Sampaio, Rogério, Zinho e Oséas seguiam concentrados e treinavam em pleno dia de final.

A história termina com um troféu e uma confusão. Em 16 de junho, o Palmeiras conquistou a Libertadores em casa, devolvendo a vitória sobre o Deportivo Cali e vencendo nos pênaltis com o que tinha de melhor para escalar, claro. E no dia 20 manteve os titulares, empatou com o Corinthians e perdeu o Paulistão no famoso jogo das embaixadinhas de Edílson seguida por uma briga generalizada.

Sobre o desgaste, alguns nomes sofreram bastante com a sequência. César Sampaio fez tratamento intensivo para conseguir estar em condições de jogar e levantar a Copa Libertadores, e o zagueiro Cléber também teve uma temporada com problemas físicos. Rivarola é outro que sofreu lesão muscular, além do goleiro Velloso, que acabou abrindo espaço para Marcos.

A maratona do Palmeiras entre maio e junho de 1999 teve 20 jogos em 50 dias. Como efeito de comparação, o time atual, de 2020/21, pode disputar 19 partidas em 60 dias –  12 jogos de Brasileirão, três jogos de Libertadores, as duas finais da Copa do Brasil e, eventualmente, dois jogos do Mundial de Clubes, marcado para a primeira quinzena de fevereiro.

A sequência do Palmeiras em 1999:

Cesar Sampaio Palmeiras 16 06 1999VANDERLEI ALMEIDA / AFP / Getty ImagesFoto: VANDERLEI ALMEIDA / AFP / Getty Images
  • 2 de maio - Paulistão - time reserva
  • 5 de maio - Libertadores - time principal
  • 7 de maio - Paulistão - time principal
  • 9 de maio - Paulistão - maioria reserva
  • 12 de maio - Libertadores - time principal
  • 14 de maio - Copa do Brasil - time principal
  • 16 de maio - Paulistão - poucos titulares
  • 19 de maio - Libertadores - time principal
  • 21 de maio - Copa do Brasil - time principal
  • 23 de maio - Paulistão - poucos titulares
  • 26 de maio - Libertadores - time principal
  • 28 de maio - Copa do Brasil - alguns poupados
  • 30 de maio - Paulistão - time principal
  • 2 de junho - Libertadores (final) - time principal
  • 5 de junho - Paulistão - maioria reserva
  • 8 de junho - Paulistão - maioria reserva
  • 11 de junho - Copa do Brasil - time principal
  • 13 de junho - Paulistão (final) - time reserva
  • 16 de junho - Libertadores (final) - time principal
  • 20 de junho - Paulistão (final) - time principal
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