Quando Cecilia Ran Runarsdottir, a jovem goleira da seleção da Islândia para a Eurocopa feminina 2022, fez sua estreia profissional, ela tinha apenas 13 anos de idade. Cinco anos se passaram e, desde então, ela se tornou a goleira mais jovem de seu país, jogou em um dos maiores clubes do mundo e agora está pronta para seu primeiro grande torneio.
Com isso, uma grande pergunta fica no ar: como uma goleira tão jovem já conquistou tantas coisas? E a GOAL foi atrás de conversar com Thorsteinn Magnusson, o primeiro treinador de goleiros de Runarsdottir, que deu uma respostas bastante simples:
"Isso se deve ao caráter".
Runarsdottir se tornou goleira por acaso. Ela vinha jogando futebol há alguns tempo quando, aos 10 anos, sua equipe precisava de alguém para a posição em um torneio. Dois anos mais tarde, Magnusson a viu em uma escola de goleiros da Associação de Futebol da Islândia. Ao lembrar desse dia em conversa com a GOAL, ele repetiu várias vezes "havia algo especial".
A partir daí, ele a colocou sob sua asa e trabalhou para trazer seu potencial à tona. Demorou apenas um ano para que ela estivesse jogando futebol profissional na segunda divisão da Islândia.
"Naquela época, era tão natural para mim porque eu sempre quis jogar, sempre quis mais e, obviamente, tinha um grande treinador de goleiros, Thorsteinn, que me ajudou muito", contou Runarsdottir à GOAL.
"Quando olho para trás, fico tão grata pelas oportunidades que os treinadores me deram. Você não percebe isso na hora - porque sempre quer jogar, só pensa nisso - mas é uma loucura colocar uma criança de 13 anos no gol".
"[As pessoas ao meu redor] sempre viram o quanto eu trabalhava duro e sabiam que eu merecia isso. Eles sabiam que eu era boa o suficiente. Para eles, não era tão surpreendente, mas acho que deve ser surpreendente quando você está assistindo ao jogo ver uma goleira de 13 anos, realmente alta, entrar".
Confira as melhores promessas do futebol com a NXGN:
"Você tem que ver como ela foi treinada", acrescentou Magnusson, explicando como ela foi capaz de entrar tão jovem em um jogo profissional.
"Ela foi treinada assim: 'Qual é o seu papel como goleira? Não importa com quem você está jogando, ou contra quem você está jogando. Você sempre tem esse papel".
Uma coisa é um treinador dizer isso - outra é o jogador realmente pensar isso. E Runarsdottir pensou".
Depois de surgir no Afturelding, na Islândia, ela assinou com o Fylkir, da divisão superior. Após sua primeira temporada com o clube, ela ganhou sua primeira convocação para a seleção principal e, alguns meses depois, fez sua estreia.
Aos 16 anos, sete meses e sete dias, ela era a goleira mais jovem do seu país, batendo o recorde anterior por 148 dias.
Nomeada a Jogadora Jovem do Ano na primeira divisão islandesa em sua segunda temporada, ela logo começou a atrair a atenção do exterior.
Runarsdottir se mudou para a Suécia, que tem uma das melhores ligas do mundo para desenvolver jovens talentos, antes de assinar um contrato com o Everton e se mudar para o Bayern de Munique.
Quando lhe perguntaram se ela alguma vez pensou nos nomes das estrelas com as quais está treinando e jogando na Alemanha, Runarsdottir deu uma resposta que espelha o que Magnusson disse.
"Quando entrei no vestiário pela primeira vez, reconheci todos esses rostos e todos esses nomes", disse ela. "Mas eu acho que assim que entrei em campo, parei de pensar [sobre isso]".
O trabalho que foi feito para fazer de Runarsdottir uma das mais empolgantes jovens goleiras do mundo não é apenas psicológico, é claro.
"Estávamos treinando seis dias por semana", lembrou Magnusson sobre eles trabalhando juntos pela primeira vez. "Foi um pouco difícil para ela - você pode imaginar, a garota tinha apenas 13 anos de idade. Mas ela nunca desistiu".
"Depois de cerca de duas ou três semanas, tive que mudar o cronograma de treinamento porque ela estava indo muito bem. Era inacreditável ver como estava se adaptando rapidamente e entendendo o que ela tinha que fazer para ser goleira".
"De imediato, havia um grande caráter e uma pessoa realmente inteligente e esperta".
Ele se lembra da jovem chutando "400 a 500 bolas" todos os dias para melhorar seus chutes a gol. Ele se lembra do colete pesado que ela usava para treinar "quatro vezes por semana durante quatro anos" para conseguir a habilidade de salto "inacreditável" que tem agora.
"Seis vezes por semana durante quatro anos, não importava se estava nevando ou chovendo, nós sempre saíamos [para treinar]", acrescentou ele. "Ela nunca deu uma desculpa para não ir".
Uma outra coisa que Runarsdottir e Magnusson fizeram quando começaram a trabalhar juntos foi anotar alguns objetivos.
Um deles foi chegar à a seleção principal entre seis e oito anos. "E nós chegamos alguns anos mais cedo!" Magnusson ri.
Runarsdottir acredita que o momento "louco" é a conquista da qual ela mais se orgulha até agora. É provável que haja muito mais para vir também.
Ela joga no exterior agora, mora sozinha e está em um ambiente que lhe deu um gostinho do futebol em seu mais alto nível.
"O Bayern de Munique é uma das melhores equipes do mundo", disse ela.
A jovem de 18 anos pode aspirar qualquer coisa, mas seus objetivos são bastante simples. Primeiro, ela quer fazer uma boa Euro com a Islândia. Depois, o objetivo é se classificar para a Copa do Mundo pela primeira vez.
Além disso... "Eu sempre quero ser melhor, dar 100%, ajudar minhas companheiras de equipe e ser uma boa pessoa", acrescentou ela.
Com essa atitude, uma mentalidade de elite e uma ética de trabalho incansável, não é de se admirar que esta talentosa jovem já tenha alcançado - e ela está apenas começando.
