Bia Zaneratto, Palmeiras, Brasileirão feminino 2022Fabio Menotti/SE Palmeiras

Bia Zaneratto projeta futuro na Europa e afirma: “Mexi com esse mercado”

Uma só atleta pode não ser capaz de mudar um esporte inteiro, mas serve como boa peça para isso. E um bom exemplo é a Imperatriz Bia Zaneratto, que se enxerga como parte importante na evolução do futebol feminino no Brasil.

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Se o crescimento do futebol feminino no Brasil ainda está em um estágio inicial, na Europa o processo caminha a passos largos. A Uefa Champions League feminina, inclusive, tem sido um claro exemplo, principalmente quando se olha para os públicos atraídos pelas partidas. Em 22 de abril, pela semifinal da atual edição do torneio, o Barcelona colocou 91.648 pessoas dentro do Camp Nou para acompanhar o primeiro jogo da semifinal, contra o Wolfsburg. E que jogadora não sonha com isso?

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"Com certeza é o meu próximo passo, tenho essa ideia na minha cabeça", falou, em entrevista exclusiva à GOAL. "Quando eu saí da China já tinha essa intenção, mas por tudo o que eu vivi naquele momento, principalmente com a pandemia, optei por ficar no Brasil. Mas acho que, em breve, vamos poder ver a Bia na Europa!".

Para Bia, um público tão grande faz diferença total, mas no futebol feminino brasileiro ainda parece um pouco distante, apesar de que times como o Corinthians, nas palavras da jogadora, já vivem uma realidade diferente. Ela acredita que a mudança, um dia, pode atingir outras camisas pesadas como as de Palmeiras e do Flamengo. "O país do futebol é o Brasil, mas ainda é muito do masculino. Mas que a gente possa cada vez mais trazer isso pro feminino", torce a Imperatriz.

De volta ao futebol brasileiro depois de nove anos no exterior, Bia chegou ao Palmeiras em 2022 como uma das principais jogadoras do país na modalidade. Mas, para ela, o seu retorno pode ter ajudado o futebol feminino muito mais do que é possível ver a olho nu.

Bia Zaneratto, Palmeiras, Brasileirão feminino 2022Fabio Menotti/SE Palmeiras

Quando decidiu voltar ao Brasil, Bia se viu assediada e com propostas de três times diferentes: uma do Palmeiras, que sonhava com o seu retorno; uma do rival Corinthians, e uma do Flamengo, que teria sido bem alta. Para ela, o movimento realmente serviu como um estopim para que os investimentos crescessem.

"Eu acho que mexi um pouco com esse mercado da bola no futebol feminino, e acho que isso ajudou muito as outras meninas", disse. "Porque, com isso, elas também começaram a pensar mais nessa parte financeira, e os clubes começaram a ter que abrir um pouco mais a mão, colocar mais dinheiros nessas meninas, e investir no futebol feminino".

Jogar futebol feminino envolve também lutar por melhores condições, e Bia é uma peça fundamental na luta pela mudança. Enxergando uma evolução significativa no futebol feminino no Brasil desde que deixou o país em 2013, ela ressalta a maior popularidade e as transmissões na televisão. A atacante disse acreditar que, mesmo que as mudanças já estejam aparecendo, as coisas ainda acontecem a passos pequenos.

"Acho que o retorno tá acontecendo. Claro que ele ainda é devagar, mas a gente vê uma evolução - principalmente eu que saí por muito tempo. Voltar e ver essa evolução é muito gratificante. A gente sempre esperou por esse momento, então poder estar vivendo isso é muito especial. Acho que, cada vez mais, essas meninas que tiveram que sair [por questões financeiras, assim como a própria Bia], vão poder retornar e encontrar um cenário melhor", completou a camisa 10.

Enquanto as questões pessoais fizeram Bia vir ao Brasil em 2020 e 2021, a volta ao Palmeiras também teve um bom motivo: a torcida. Enquanto esteve emprestada ao Verdão, a atacante, que terminou o ano de 2021 como artilheira do Campeonato Brasileiro, não teve contato direto com a torcida, uma vez que os estádios estavam fechados por conta da COVID-19. Poder atuar na presença da crescente torcida alviverde foi um ponto decisivo para que ela escolhesse a equipe em seu retorno.

"O carinho com certeza pesou bastante na hora de decidir voltar para o Palmeiras, não tem como. A torcida faz muita diferença, é muito espcial", disse, enfatizando que isso ainda falta um pouco no futebol feminino. "É muito bom receber e perceber esse carinho que não é tão natural no futebol feminino. A gente sabe que ainda é um pouco menos, mas a gente tá conquistando. Com bons jogos, vitória, o torcedor com certeza vai começar a ter esse olhar mais carinhoso pro futebol feminino, e é o que a gente tem tentado fazer da melhor forma". 

Bia Zaneratto Brasil Copa do Mundo Feminina 2019

E quando o assunto é seleção brasileira, Bia tem muito claro que a ida para a Ásia, apesar de ter acontecido principalmente por ser melhor mercado em termos salariais, fez toda a diferença para ela chegar a vestir a amarelinha. 

"Foi de suma importância para a minha evolução. Eu era uma jogadora mais meio-campista que atacava, e foi lá na Coreia que eu virei uma atacante que busca quase sempre a bola profunda na velocidade", explicou a camisa 10 palestrina. "Acho que isso me ajudou bastante também na seleção. Tive mais oportunidades com o Vadão, na época, e na sequência com a Pia".

A atual comandante da seleção, inclusive, é alvo de muitos elogios de Bia: "A Pia tem trazido uma nova cara pro Brasil, com um pouco do formato do futebol europeu. Como ela atuava na Suécia, nos Estados Unidos, trouxe principalmente na organização defensiva".

Dar uma cara mais brasileira, para ela, é a peça que falta para uma equipe ainda melhor. "Agora é colocar essa nossa cara mesmo, ofensivamente, para que cada vez mais a gente possa não só competir bem, mas também ganhar grandes jogos", opinou. "Temos feito grandes partidas com grandes equipes no cenário da seleção brasileira, mas falta a gente ganhar os jogos. Acho que essa Copa América [que acontece em julho, na Colômbia] vem muito para trazer bons resultados para seleção e, consequentemente, para o nacional aqui no Brasil", acrescentou.

Quanto ao futuro da seleção, Bia tem uma boa expectativa ao ver as equipes de base jogando e vencendo as competições que participam. "Isso também já abre os olhos da Pia para essa nova geração. E ela já tem feito isso na principal, tem trazido e dado oportunidade para todas as idades, e é o diferencial que a gente precisa", disse. "Marta, Cristiane, Formiga já estão no processo de final de carreira e já fizeram muito pela nossa seleção e pelo esporte em si. Agora é a vez da nova geração ter a oportunidade e aproveitar".

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