Artur Moraes não esconde o orgulho de ter participado de um dos principais momentos recentes na história do Benfica. Muitas são as lembranças: desde a parceria ao lado de Luisão, ídolo apontado pelo goleiro, em entrevista publicada pela Goal Brasil, como a personificação do clube, até a conquista de títulos importantes e finais europeias disputadas.
Nesta segunda e última parte da entrevista exclusiva, Artur avalia passagens importantes de sua carreira – desde os tempos de Cruzeiro, passando por Roma, Braga, Benfica e Chapecoense – e demonstra otimismo em relação ao sonho benfiquista de voltar a ser campeão continental.
“Em cada clube eu vivi momentos diferentes”, disse. “No Braga foi uma campanha histórica, com final da Europa League contra o Porto. Foi o momento da minha afirmação no futebol europeu, o início. A minha passagem pela Roma foi um aprendizado total para tudo o que eu viria a conquistar em Portugal”.
“Já o Benfica é a minha paixão, o que eu mais me identifico até hoje. As pessoas me reconhecem em todos os lugares. Tudo aquilo que o Benfica é hoje, nós iniciamos há cinco, seis anos atrás. Foi o início do Tetra e quebramos a hegemonia do Porto e voltamos a ser essa potencia”.
“A Chape foi mais um desafio humano, uma experiência única de vida, de humanidade. Uma reconstrução em que o mundo todo olhava com carinho e esperança em relação ao que iria acontecer lá. E nós, com três meses, fomos campeões catarinenses, fizemos uma excelente Libertadores e batemos o nosso recorde de pontos na Série A”.
Getty ImagesArtur chegou à Chape após o desastre aéreo de 2016 (Foto: Getty Images)
“Vinte, 25 dias depois do acidente me deram o papel de substituir o Danilo e o Kléber Santana, que eram as duas referências da equipe. E não foi fácil fazer isso, por serem dois ídolos da cidade, do clube. Eu me orgulho de ter aceitado essa função”, explicou.
Depois desta marcante etapa pela Chapecoense, logo após a tragédia do Voo LaMia 2933, Artur teve uma rápida passagem pelo Desportivo das Aves. Após rescindir com a equipe localizada ao norte do país, ele voltou para a capital, onde sempre busca ficar atualizado sobre as notícias do Benfica e acredita que o Glorioso poder sonhar com a reconquista de títulos europeus.
Artur esteve muito próximo deste sonho em 2013, quando apesar de ter sido melhor em campo os portugueses sofreram uma derrota por 2 a 1, com gol no último minuto, para o Chelsea. Um ano depois, do banco de reservas, o brasileiro viu o título da Europa League escapar outra vez, com o Sevilla levando a melhor na disputa de pênaltis. Mas os resultados não abalam o orgulho de ter chegado tão longe. Tanto, que o goleiro acredita que as taças não foram para o Estádio da Luz apenas por detalhes.
“Eu acho que não faltou nada. Eu sinceramente digo que tudo aquilo que tinha que ser feito para ganhar foi feito. Nos dois jogos, tanto contra Chelsea e Sevilla, fomos infinitamente melhores. Faltou aquela pontinha que só o futebol tem: sorte, não sei... Jogamos infinitamente melhor do que o Chelsea, que fez um gol no ultimo minuto, e para o Sevilla perdemos nos pênaltis”.
Em 2013, o Chelsea bateu o Benfica com gol no último minuto (Foto: Getty Images)
Essa questão de sorte ou falta dela também merece uma explicação, já que desde o último título europeu conquistado pelos Encarnados (a Copa dos Campeões da Europa, atual Champions League, em 1962) o clube amargou um total de oito vice-campeonatos europeus desde então. Por trás das questões envolvendo campo e bola, muitos veem na ‘Maldição de Béla Guttmann’ uma explicação mística. Após deixar o Estádio da Luz com a negativa de uma valorização salarial, o treinador foi embora com uma afirmação: “nem daqui a 100 anos” o Benfica voltaria a ser campeão continental.
No entanto, Artur garante que o assunto sequer existia nos vestiários da equipe e foi além: o Benfica faz um trabalho para voltar a ser campeão de uma competição europeia.
“Não, nenhum de nós. Eu sinceramente não acredito nisso”, respondeu ao ser perguntado sobre a ‘Maldição de Guttmann’. “Acho que as coisas acontecem da maneira que tem que acontecer. Cabe agora ao clube voltar a trabalhar como vem trabalhando, porque mais cedo ou mais tarde esse título europeu vai chegar para o Benfica. O Bayern recentemente chegou a várias finais, perdeu, mas depois conquistou o título. O importante é chegar. Lógico que não é fácil, mas o Benfica vem construindo uma estrutura e tem tudo pra daqui a pouco voltar a ter o destaque internacional que hoje faz falta ao clube”, completou.
Nesta terça-feira (02), o Benfica entra em campo contra o AEK de Atenas, em jogo válido pela segunda rodada da fase de grupos da Champions League. A equipe portuguesa ainda busca somar os seus primeiros pontos em um grupo que também conta com Ajax e Bayern de Munique.
