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Chelsea-Pochettino-lostGetty/GOAL

Vice para garotos do Liverpool é fundo do poço para o Chelsea - e possível fim da linha para Mauricio Pochettino

A Carabao Cup não é lá a competição mais prestigiada do futebol inglês. Os clubes de elite geralmente a tratam como um torneio de segunda categoria. Mas o titulo do Liverpool deste domingo (25), sobre o Chelsea, teve mais peso do que o habitual.

Os Reds entraram no jogo em meio a uma crise de lesões sem precedentes, sem seu trio de ataque titular - Mohamed Salah, Darwin Núñez e Diogo Jota. Ryan Gravenberch até foi a campo, mas por apenas 25 minutos, tendo que sair de maca após ser derrubado em uma entrada mais forte de Moisés Caicedo.

Ao final da prorrogação, a idade média da equipe do Liverpool era de menos de 22 anos, sendo que cinco dos 11 em campo tinham 20 ou menos. Virgil van Dijk foi o herói, marcando o gol do título, de cabeça, a dois minutos antes do apito final. O capitão será lembrado como destaque, claro, mas jogadores como Bobby Clark, James McConnell e Jayden Danns também eternizaram seus nomes nos livros de história do clube.

"Foram os jovens de Klopp contra os bilionários azuis," disse o comentarista da Sky Sports Gary Neville, após o gol de Van Dijk. "Estes são os últimos meses de Klopp [como treinador do Liverpool], mas é um dos momentos de maior orgulho que ele já viveu".

Todd Boehly, chefe da Clearlake Capital, aplicou quantias absurdas de dinheiro no Chelsea desde sua aquisição, em 2022, mas seu único retorno sobre seu investimento até agora tem sido o fracasso.

Os Blues finalmente atingiram o fundo do poço no domingo - e é difícil ver alguma luz no fim do túnel para Pochettino depois de uma derrota tão humilhante.

  • Jurgen Klopp Liverpool Carabao Cup 2024Getty

    Oportunidade de ouro desperdiçada

    É importante notar que a média de idade do time do Chelsea que iniciou a partida era inferior a 24 anos, mais jovem do que a do Liverpool, e Pochettino apontou esse fato ao responder Neville. "Não ouvi o que ele disse, mas, se você comparar a idade dos dois grupos, acho que é semelhante", comentou. "Olha, eu tenho um bom relacionamento com o Gary. Não sei como posso levar em conta a opinião dele, mas respeito. Somos uma equipe jovem. Nada a comparar com o Liverpool porque eles também terminaram com jogadores jovens. É impossível comparar, e ele sabe que as dinâmicas são completamente diferentes. Não acho justo falar dessa maneira".

    No entanto, o Chelsea tinha uma grande vantagem em termos de experiência. Ben Chilwell, por exemplo, exerceu um papel central na campanha dos Blues que terminou com o título da Champions League, há três anos; Enzo Fernández venceu a Copa do Mundo ao lado de Lionel Messi, no Qatar; Raheem Sterling levantou dez troféus durante seu tempo no Manchester City - sendo metade deles justamente a Copa da Liga.

    Cole Palmer, Moisés Caicedo e Axel Disasi também iniciaram o jogo, o que corrobora para o fato de que Pochettino pôde contar com a maioria de seus principais jogadores. E, ainda assim, o Chelsea desperdiçou uma oportunidade de ouro para conquistar um título que teria ajudado a disfarçar mais uma temporada desastrosa.

    O Liverpool havia vencido todas suas três últimas finais com os Blues - a Supercopa da UEFA de 2019 e a Copa da Liga e a FA Cup de 2022. Mas qualquer possível 'bloqueio mental' certamente se esvaiu quando a escalação do Liverpool foi divulgado, cerca de uma hora antes do apito inicial. Klopp conquistou outra vitória marcante, mesmo escalando uma equipe significativamente enfraquecida.

    Consequentemente, Pochettino ficou à deriva das críticas.

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  • 20240225 Mauricio Pochettino(C)Getty Images

    Poch, um treinador de 'quases'

    O Chelsea não teve dificuldades para criar chances claras de gol em Wembley - o torcedor do Liverpool certamente se lembrará por muito tempo das defesas do reserva Caoimhin Kelleher. O jogador de 25 anos repetiu sua atuação estelar na final de 2022, com duas defesas brilhantes contra Palmer e Conor Gallagher, e transmitiu calma ao restante da defesa do Liverpool durante os extenuantes 120 minutos de futebol.

    Mas o time de Pochettino, como de costume, só incomodou em jogadas de construção rápida. Apesar de ter tido uma semana inteira para se preparar para o jogo - o Liverpool, enquanto isso, teve apenas três dias de preparação, já que jogou mais uma 'final' na Premier League no meio de semana, contra o Luton Town, para se manter na ponta da tabela por um ponto -, a fadiga acabou sendo a ruína do Chelsea.

    O Liverpool pressionou na prorrogação enquanto os Blues recuavam. Pochettino até admitiu que estava se segurando para os pênaltis: "Os jogadores começaram a perder energia", disse ele. "O Chilly (Ben Chilwell) estava muito, muito cansado; [Conor] Gallagher, após cinco minutos, precisávamos substituir. O time sentiu que os pênaltis talvez fossem uma boa para nós. O esforço foi enorme".

    Com esse tipo de mentalidade, é fácil entender por que Pochettino tem uma carreira recheada de 'quases'.

  • Pochettino Klopp splitGetty Images

    O 'jeitão Klopp'

    Pochettino consolidou sua posição entre os melhores treinadores da Europa durante seus cinco anos no Tottenham, transformando o clube, após ser contratado do Southampton. Ele criou uma equipe que encantava, conquistando muitos admiradores. Mas o sucesso teve um teto, evidenciado pelas derrotas nas finais da Copa da Liga de 2015 e da Liga dos Campeões de 2019, além de um vice da Premier League.

    Ele também não teve sucesso no Paris Saint-Germain, até fracassando na conquista de uma 'cotidiana' - esperava-se - Ligue 1 logo em sua primeira temporada e na tentativa de conquistar a Liga dos Campeões, contando com a presença de Lionel Messi, Kylian Mbappe e Neymar em seu estrelado ataque. Pochettino não é um vencedor dos mesmos moldes que Klopp - ou de muitos dos treinadores que o antecederam no Chelsea.

    Independentemente do que aconteça de agora até maio, Klopp sairá de Anfield como uma lenda moderna - um verdadeiro líder que superou todas as expectativas durante seus nove anos de clube. Ele acumula derrotas - foram quatro vices até aqui com os Reds -, mas o Liverpool sempre demonstrou ter poder de recuperação. Ele criou 'monstros', no que se refere à mentalidade imposta. Esse é exatamente o tipo de técnico que o Chelsea carece.

    Pochettino está trabalhando com o elenco mais caro da história do futebol, mas sua equipe está faltando algo que o dinheiro não pode comprar: uma identidade clara, um espírito coletivo.

    O técnico de 51 anos teve nove meses para promover mudanças no Stamford Bridge, mas o Chelsea não está indo a lugar nenhum no momento. E algo precisa mudar.

  • Conor Gallagher

    "Jogadores de meio de tabela"

    E era claro que os jogadores não demonstravam confiança no domingo. Fernández constantemente errava passes simples. Malo Gusto pecou nas bolas de primeira. Disasi convidava pressão a todo momento que encostava na bola.

    Os Blues também mostraram zero compostura na hora de marcar. Gallagher desperdiçou as melhores chances, e, embora tenham tido a grande infelicidade de o gol de Raheem Sterling no primeiro tempo ter sido anulado por um milimétrico impedimento, o Liverpool sempre parecia mais próximo do triunfo.

    Claro, foi uma performance bem melhor do Chelsea se comparada à derrota desastrosa por 4 a 1 em Anfield no mês passado, pela Premier League - mas era um Liverpool completamente esfacelado por lesões, desta vez.

    Frank Leboeuf, ex-zagueiro do Chelsea, disse que o elenco de Pochettino está cheio de "jogadores de meio de tabela" após a goleada em questão - e assim pareceu, novamente, na final.

    Foi investido 1,4 bilhão de libras em quatro janelas de transferências, mas os Blues, ainda assim, passam pelo seu pior momento desde a 'era pré-Roman Abramovich', por mais inacreditável que seja. Mudanças mais drásticas serão necessárias para reverter o quadro.

  • Mudryk-ChelseaGetty

    Pacotão de saídas no fim da temporada?

    Uma reavaliação 'implacável' das contratações fracassadas nesta offseason seria o lugar ideal para começar a arrumar a casa, mesmo que alguns lucrativos contratos de longa duração tenham que ser rescindidos. Já é óbvio que alguns dos nomes de destaque no elenco de Pochettino não têm o necessário para ter sucesso na Premier League.

    Mykhailo Mudryk se destaca como o maior desperdício de dinheiro. O ponta de £89 milhões foi incapaz de causar qualquer tipo de impacto em sua última participação contra o Liverpool. Van Dijk conseguiu superá-lo facilmente para marcar o único gol da partida, o que deu ainda mais credibilidade à recente afirmação de Jamie O'Hara, ex-jogador da Premier League - o ucraniano não vale nem "sete libras".

    Enquanto isso, Nicolas Jackson não parece nem perto de ser capaz de quebrar a 'maldição do número 9'. O ex-jogador do Villarreal trabalha duro e segura bem a bola, mas é tecnicamente aquém e ainda não mostrou nenhum instinto predatório diante das três traves.

    Não para por aí. Consideremos a maior contratação da história da Premier League, Caicedo, que parece apenas uma sombra do jogador versátil e talentoso que era no Brighton. O jogador de 22 anos enfrentou alguns problemas fora de campo nos últimos meses, é verdade, mas tem tido problemas com a transição para um clube maior. Parece bem improvável que ele vá conseguir justificar os £115 milhões nele investidos.

    Ainda poderíamos citar Romeo Lavia, Noni Madeuke, Wesley Fofana e Marc Cucurella, por exemplo. Mas o que é certo é: o Chelsea terá que cortar suas perdas com certos jogadores se quiser entrar em outro 'round' de contratações, por conta dos limites do Fair Play Financeiro.

  • Mauricio Pochettino Chelsea 2023-24Getty Images

    E agora?

    Pochettino ainda estar no banco de reservas do Stamford Bridge quando a janela de transferências de meio de ano se abrir dependerá de como o Chelsea reagirá daqui ao fim da temporada. Os Blues voltam à ação na quarta-feira (28) contra o Leeds United, pela quinta rodada da FA Cup - última possibilidade de troféu -, e depois visita o Brentford, pela Premier League, no final de semana. Atualmente, estão em 11º na tabela, 17 pontos atrás do G-4, que dá vaga direta à fase de grupos da próxima Champions. Pochettino certamente se tornará a terceira vítima da gestão Boehly se o Chelsea, de novo, terminar na parte de baixo da tabela.

    Mesmo um improvável título da Copa da Inglaterra aliado a um fim de temporada no G-7 podem não ser suficientes para o ex-técnico do Tottenham manter sua cabeça, dado o óbvio descompasso entre as expectativas antes da temporada com o que tem sido de fato apresentado em campo.

    Somente uma rápida mudança de rota salvará Pochettino, que fez um apelo aos seus jogadores após a derrota na final. "Precisamos seguir em frente. Jogamos por um troféu que não conseguimos. Eles precisam sentir a dor como nós", disse ele. "Eles precisam perceber que precisamos trabalhar mais, fazer as coisas de uma melhor maneira. Precisamos melhorar e competir neste nível. Lembro-me que, há três, quatro anos, eles (Liverpool) perderam uma final de Liga dos Campeões, perderam uma final da Liga Europa. Eles continuaram acreditando no projeto. Nas temporadas seguintes, eles estavam mais fortes até conseguirem o que queriam. Isso é um bom exemplo, Liverpool".

    O argentino, porém, se esqueceu de um detalhe: enquanto Klopp iniciou um processo de mudança de estilo de jogo e de todo o clima em torno do Liverpool desde o início de sua passagem, em 2015, Pochettino só tem dado dores de cabeça aos torcedores desde que pisou no Stamford Bridge.

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