Gareth Southgate não pode se dar ao luxo de desperdiçar a nova geração de ouro do meio-campo da Inglaterra

Os comentários de Southgate sobre a falta de um "organizador" prejudicam Rice. Ele pode não ser conhecido por seu controle de ritmo e passes, mas se tornou o melhor volante do planeta, possivelmente, em meio a uma ascensão meteórica, que começou no West Ham e continua firme no Arsenal.

Seu futebol está crescendo diante de nossos olhos. Nos Gunners, ele passou a marcar mais gols, ser mais criativo e se tornou responsável até por algumas cobranças de bola parada. Além disso, tem sabido bem progredir com passes ofensivos e arrancadas perigosas. Não seria surpresa vê-lo se tornar uma referência do meio-campo em um futuro não muito distante, já que possui também características de liderança e sabe lidar com a pressão.

À frente dele, Bellingham está pronto para liderar o meio-campo da Inglaterra por pelo menos uma década. Não surpreende que Carlo Ancelotti tenha descoberto a melhor posição para ele no Real Madrid, optando por escalá-lo como um camisa 10 desde o início, apesar de ter passado toda a temporada anterior no Borussia Dortmund em uma posição mais recuada.

O técnico italiano viu Bellingham se tornar uma máquina criativa no meio, marcando muitos gols e participando do jogo o tempo todo. Talvez seja o melhor jogador do mundo em 2023/24. Por isso, o futuro do meio-campo da Inglaterra deveria estar assegurado com o equilíbrio e a qualidade enorme que Rice e Bellingham fornecem.

Quem se junta a Bellingham e Rice em um aguardado trio de meio-campo, tanto na Euro 2024 quanto nos anos seguintes, é a grande questão para Southgate e para os torcedores no momento. Seus comentários recentes indicam que provavelmente não será Phil Foden, nome que faria parte desta geração talentosa no setor em circunstâncias normais, mas que ainda tem sido bastante utilizado como ponta no Manchester City.

"Isso se trata de escalar os jogadores onde eles possam fazer o seu melhor", disse Southgate. "Não queremos que suas funções sejam muito diferentes do que fazem em seus clubes todas as semanas, porque isso lhes dá a melhor chance de sucesso."

Isso aparentemente também descartaria a possibilidade de Bellingham recuar para jogar como um segundo volante, se for considerado muito diferente do que ele faz no Real Madrid hoje. Enquanto isso, Cole Palmer pode ser considerado como uma alternativa para os lados, já que começou sua passagem pelo Chelsea com frequência pela ponta direita - e isso poderia deixá-lo fora do time titular, com Foden e Saka certamente garantidos ali para a Euro.

Nome de confiança de Southgate, Jordan Henderson completará 34 anos no dia seguinte ao início do torneio, mas sua passagem sem brilho pela Arábia Saudita e agora pelo Ajax deveriam considerá-lo longe do time titular.

Dessa forma, Southgate deve estar bastante grato pelo crescimento meteórico de uma solução potencialmente perfeita para seus problemas. O mais recente membro desta promissora geração, Kobbie Mainoo, de 18 anos, está começando a se mostrar o nome para jogar ao lado de Rice e Bellingham enquanto técnico inglês estiver no comando.

Suas atuações nesta temporada têm chamado a atenção, com o adolescente indo muito bem contra equipes como Everton e Liverpool na base do meio-campo do Manchester United. Um hábil recuperador de bolas, ele possui a habilidade técnica para avançar com a bola e triangular com seus companheiros mais avançados através de seus dribles e passes progressivos.

Como um jogador mais voltado para a parte defensiva, Mainoo certamente atrairá a atenção de Southgate. Ele pode ser o complemento perfeito tanto para Rice quanto para Bellingham, podendo atuar tanto ao lado do primeiro ou como um segundo volante que participa mais do jogo.

No entanto, o treinador da Inglaterra mostrou muito pragmatismo no passado, com Bellingham se tornando uma peça-chave apenas na preparação para a Copa do Mundo de 2022, apesar de demonstrar seu potencial muito antes disso. Em busca de uma solução, um grande torneio poderia ser o momento perfeito para deixar a cautela de lado.

Rice, Bellingham e Mainoo são apenas a ponta do iceberg, já que as chances de sucesso desta geração são reforçadas por uma profundidade significativa e juventude.

Em uma configuração mais ofensiva, Southgate também poderia recorrer a Trent Alexander-Arnold (25 anos) como um segundo volante, depois de ter testado na seleção a diferente posição em que ele chegou a jogar no Liverpool. Conor Gallagher (24 anos), do Chelsea, oferece outra alternativa a Mainoo, assim como Mason Mount (25 anos), se ele conseguir se recuperar no Manchester United. Mencionado antes, Henderson também deve estar nos pensamentos do treinador.

A Inglaterra também tem muitas opções para a camisa 10. James Maddison (27 anos), Cole Palmer (21 anos) e Eberechi Eze (25 anos) são alternativas a Bellingham, embora substituí-lo não seja tarefa fácil.

Há menos alternativas para Rice como primeiro volante, embora Mainoo possa assumir a responsabilidade, enquanto Kalvin Phillips (28 anos) é outro homem de confiança de Southgate, embora venha mal no West Ham.

Como Southgate evidentemente está bem ciente, encontrar o equilíbrio no meio-campo pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso. Os respectivos fracassos de seus antecessores Sven-Göran Eriksson, Fabio Capello e Roy Hodgson foram atribuídos - pelo menos em parte - à incapacidade de extrair o melhor de uma série de meio-campistas que eram considerados os melhores do mundo em nível de clube, como Paul Scholes, Frank Lampard e Steven Gerrard.

Southgate tem a sorte de que sua busca por sinergia no meio-campo não seja prejudicada pelo fato de seus principais jogadores atuarem exatamente na mesma posição - Rice é claramente o primeiro volante, e Bellingham, o meia avançado. No entanto, acertar na escolha do terceiro homem será crucial para o estilo de jogo de sua equipe, e como o técnico diz: "É diferente para diferentes adversários".

Talvez, então, devessemos esperar ver alguma rotação entre o mais defensivo Mainoo e o mais ofensivo Alexander-Arnold, mas gerenciar alguns egos e manter todos felizes apresenta um desafio completamente diferente, como Southgate deve ter aprendido com a polêmica envolvendo Ben White.

Reconhecer que ele tem as ferramentas à sua disposição para impulsionar esta geração especial também é vital, com Henderson sendo dispensável. Técnicos anteriores mantiveram desnecessariamente estrelas em declínio como Wayne Rooney e David Beckham por muito tempo no grupo, bloqueando caminhos para jogadores mais jovens e levando a questionamentos sobre se havia meritocracia no elenco.

Aqueles que pensavam que as chances da Inglaterra conquistar grandes títulos tinham passado após as decepções de 2018 e 2021 podem muito bem estar enganados, com o país próximo de uma nova geração de ouro.

O futuro também é promissor, com muito talento aguardando pacientemente na fila; a dupla do Liverpool, Harvey Elliott e Curtis Jones, ainda aguarda convocações para a seleção principal. Archie Gray, do Leeds, está mostrando um potencial excepcional na segunda divisão inglesa. Versátil prata da casa do Manchester City, Rico Lewis já foi convocado aos 19 anos.

Se tudo se encaixará a tempo da Euro 2024 ainda veremos, mas Southgate é o responsável por aproveitar o talento à sua disposição e montar a espinha dorsal de uma seleção que pode mostrar domínio nos próximos anos, esteja ele ou não no comando.

Torneios são onde heróis surgem e caem e a Euro oferece uma plataforma para o treinador inglês deixar de lado seu pragmatismo notório e iniciar o que poderia ser um período especial. A Inglaterra não pode se dar ao luxo de deixar escapar outra geração de ouro.