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7 a 1 voltaram para casa 16x9GOAL

O clubismo que salva: como "voltar pra casa" se transformou em remédio para consagrar os jogadores brasileiros do 7 a 1

Há vida após o 7 a 1 para os jogadores brasileiros diretamente envolvidos na derrota mais vexatória já sofrida pela seleção? Dez anos depois, a resposta é positiva. E neste caso, o quase sempre tão criticado (com razão, na maioria das vezes) clubismo foi uma das grandes – se não a maior – plataforma de salvação para os atletas presentes naquele fatídico jogo contra a Alemanha.

Copa do Mundo é um negócio diferente. É a maior fábrica de heróis e vilões do esporte mais popular do mundo. Um verdadeiro All In. Tudo ou nada. Os Mundiais consagram tanto quanto condenam, e quando algo assim acontece os exageros vão de uma ponta à outra. Você pode lamentar, mas é assim que funciona. Um gol de título é um definidor eterno de qualidade e idolatria. Um pênalti desperdiçado que resulta em eliminação, um gol-contra, um frango, uma expulsão... são coisas que marcam para sempre um jogador em seu país.

A chance de redenção pode vir no Mundial seguinte, claro, mas a não ser que isso aconteça só há uma forma de mudar, ou ao menos aliviar, a percepção nacional em relação a um rótulo ruim de Copa do Mundo: construir uma história vitoriosa em um dos grandes clubes do futebol. No Brasil isso costuma acontecer de forma mais intensa, uma vez que geralmente um jogador de Copa do Mundo retorna ao país após longos anos de serviço em território estrangeiro.

Dentre os nomes mais lembrados daquele 7 a 1 na semifinal da Copa do Mundo de 2014, no Mineirão, a maior parte deles encontrou no sucesso doméstico, e no carinho de torcedores de uma grande equipe brasileira, a plataforma para superar um trauma tão pesado quanto foi aquela derrota.

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  • Luiz Gustavo, São Paulo 2024Paulo Pinto e Nilton Fukuda/saopaulofc.net

    Luiz Gustavo, São Paulo

    É o que busca Luiz Gustavo, um dos volantes titulares do Brasil naquela tarde de 8 de julho de 2014. Na época já consagrado pelo sucesso feito no Bayern de Munique, Luiz estava no Wolfsburg e ainda rodou um bom período na Europa antes de ter uma rápida passagem pelo Al Nassr, da Arábia Saudita. Agora, já no final de sua carreira, faz sua primeira temporada pelo São Paulo e vem sendo um nome importante pelo Tricolor do Morumbis.

    Neste seu retorno ao Brasil, Luiz Gustavo não escondeu o tamanho do trauma representado pelo 7 a 1. Foi a derrota que o fez decidir excluir suas redes sociais, para focar sua mente apenas no que ele poderia fazer dali para a frente.

    “Já tem dez anos que me afastei (das redes sociais). Só quem estava na Copa (de 2014) sabe o que passou. Depois disso, tive paz. E de paz eu não abro mão” afirmou o meio-campista de 36 anos. Com vínculo até o final desta temporada , Luiz Gustavo, cuja carreira foi toda no exterior, tem a chance de saborear a sensação de ser abraçado por uma torcida em seu próprio país.

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  • Fernandinho Athletico-PR apresentação 27 06 2022José Tramontin/athletico.com.br

    Fernandinho, Athletico-PR

    Companheiro de Luiz no meio-campo titular daquela partida, Fernandinho foi considerado um dos grandes vilões daquela derrota. O gol-contra que selou a eliminação brasileira no Mundial seguinte, em 2018, não lhe ajudou em nada perante a opinião pública massificada. A coleção de títulos pelo Manchester City e o status de lenda do clube inglês ajudou, com certeza, Fernandinho a, pessoalmente, virar sua página de 2014.

    Mas ao acertar seu retorno ao Brasil, já no finalzinho de sua carreira, ele não titubeou para voltar a um lugar onde teria a certeza de que seria amado: o Athletico-PR, clube onde havia feito sucesso entre 2003 e 2005. E assim tem sido desde 2022.

  • Hulk comemora gol diante do Cruzeiro, pelo Atlético-MG, 2024Pedro Souza/Atlético

    Hulk, Atlético-MG

    Já Hulk não tinha identificação pública com nenhum clube brasileiro até chegar ao Atlético-MG, em 2021. De lá até os dias de hoje, contudo, se estabeleceu como um dos grandes nomes do cenário nacional. Conquistou títulos históricos e status como um dos maiores ídolos do Galo em todos os tempos.

    Mesmo aos 37 anos, continua a ser decisivo com ampla cartilha de possibilidades no ataque (desde a finalização, até mesmo à criação e construção de jogadas).

    A sua temporada de estreia no Atlético, que terminou com os títulos de Brasileirão e Copa do Brasil em 2021, foi tão boa que lhe garantiu uma nova convocação à seleção brasileira durante a parte final das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022. Mais emblemático que tudo isso, apenas o fato de ter reencontrado a felicidade justamente jogando no Mineirão.

  • Bernard Atlético-MGPedro Souza/Atlético-MG

    Bernard, Atlético-MG

    Bernard, cujo elogio de “alegria nas pernas” feito por Felipão antes do 7 a 1 acabou virando uma espécie de piada grudenta que sempre lhe acompanhou desde então, já havia sido um dos grandes nomes de um título histórico de Libertadores pelo Atlético-MG. Ou seja, já era um ídolo do Galo.

    Mas um somatório de fatores, que vão desde a pouca idade em 2014 até o fato de ter sido o substituto de Neymar naquele 7 a 1, faz com que este retorno ao futebol brasileiro em 2024, e ao próprio Atlético, atraia atenção para o que ele ainda pode fazer.

  • David Luiz, Flamengo 2024Getty Images

    David Luiz, Flamengo

    É difícil não considerar David Luiz como o grande rosto do 7 a 1, dentre os jogadores que atuaram naquela partida. Além de ter herdado a faixa de capitão do suspenso Thiago Silva, o zagueiro foi um dos que tiveram atuação mais desastrosa contra a Alemanha. E a entrevista, em meio às lágrimas, dizendo o “só queria fazer meu povo feliz”, só reforçou tudo isso.

    Desde 2021, contudo, o zagueiro vem conseguindo ao menos dar razões para fazer uma nação sorrir: a torcida do Flamengo. David Luiz retornou ao futebol brasileiro após cerca de 15 anos atuando pelos principais clubes da Europa, e em 2022 ajudou os rubro-negros a conquistarem Copa do Brasil e Libertadores. Chegou a sofrer com problemas de lesão, algo até esperado para alguém de 37 anos, mas vai fazendo uma ótima campanha agora em 2024. E, claro, vai recebendo o carinho dos torcedores de sua equipe.

  • Marcelo, FluminenseFifa

    Marcelo, um caso único

    Dentre todos os jogadores envolvidos diretamente no 7 a 1, Marcelo foi um dos que também tiveram sua dose de responsabilidade.

    Só que sua carreira impressionante no Real Madrid, time dos mais acompanhados em qualquer lugar do mundo, foi o bastante para blindar o seu legado como um craque atemporal na lateral-esquerda.

    O retorno ao Fluminense, em 2023, só reforçou esta impressão através dos títulos Carioca e de Libertadores, apesar das dificuldades enfrentadas pelo Tricolor das Laranjeiras agora em 2024.

  • Felipão e os outros

    O próprio Luiz Felipe Scolari, técnico do Brasil no 7 a 1, conseguiu viver momentos de glória após 2014. Foi campeão brasileiro com o Palmeiras em 2018, e a campanha que levou o Athletico-PR à final da Libertadores em 2022 também serviu para relembrar as partes positivas do legado de Felipão – que, não esqueçamos, foi campeão do mundo em 2002.

    Dentre os jogadores que entraram em campo contra a Alemanha, o meia Oscar, autor do gol brasileiro no último lance daquela humilhação, já teve seu nome ventilado no Flamengo mas está há oito anos na China. O zagueiro Dante, outro cuja atuação no Mineirão foi abaixo da crítica, jamais retornou ao futebol brasileiro – é desde 2016 um dos jogadores mais importantes de um Nice que volta e meia faz boas campanhas na França.

    Maicon, o lateral-direito, até retornou para o Brasil. Só que mais longe dos holofotes, quando muitos até achavam que já estava aposentado: em 2017 teve passagem rápida pelo Avaí, jogou no Criciúma em 2019 e fez poucas partidas pelo Vila Nova-MG em 2020. Reservas utilizados no segundo tempo contra os alemães, em 2014, Paulinho, Ramires e Willian não ficaram tanto com o ranço daquele 7 a 1. O trio retornou ao futebol brasileiro, mas em passagens bem rápidas e sem o efeito esperado (Paulinho e Willian para o Corinthians, Ramires para o Palmeiras).

    Camisa 9 do Brasil, Fred já atuava pelo Fluminense e a relação de idolatria com o Tricolor das Laranjeiras teve importância fundamental na sua recuperação após 2014. Júlio César, goleiro que por sete vezes buscou a bola no fundo das redes, também já era ídolo do Flamengo e, assim como no caso de Paulinho no Corinthians, se o breve retorno ao clube do coração não rendeu grandes novos capítulos, o status que tinha perante um dos principais clubes brasileiros serviu como fonte de carinho para seguir em frente.

    E seguindo em frente todos eles continuaram. Não há outra alternativa. Da mesma forma como acontece na vida de tantas e tantas pessoas, foi voltando pra casa que muitos deles – mas não todos – acharam o acolhimento necessário para cicatrizar velhas feridas.