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7 a 1 16x9GOAL

Desvendando o 7 a 1: a Alemanha teve sorte no Mineirão ou o Brasil mereceu cada um dos gols?

A seleção brasileira de Dorival Júnior já deixou frustração pelo caminho, com a eliminação para o Uruguai, nos pênaltis, nas quartas de final da Copa América. A frase que abre o texto é um retrato da realidade neste julho de 2024, mas vale lembrar que feridas, mesmo as maiores, podem ser cicatrizadas. Jamais, no entanto, esquecidas.

Foi em um 8 de julho de 2014 que o Brasil trocou a esperança de um título mundial, em casa, pela maior humilhação que qualquer seleção já sofreu em Copas do Mundo. E claro que tudo fica pior quando isso acontece diante de seus próprios torcedores. Na semifinal disputada dentro do Mineirão, a equipe brasileira foi atropelada pela Alemanha: 7 a 1.

Há quem diga que poderia ter sido ainda bem pior, uma vez que notoriamente os alemães tiraram o pé do acelerador no segundo tempo. Os números e as estatísticas mais avançadas dizem que, na realidade, não era para ter sido por tanto. O que tirar de conclusão de tudo isso, dez anos depois, com a cabeça mais fria?

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  • Julio Cesar David Luiz, Brasil Alemanha Germany 7-1 2014Getty Images

    Apagão e pesadelo

    Sem Neymar (contundido e fora do restante daquele Mundial) e desfalcado de Thiago Silva na zaga (suspenso por cartão amarelo), o Brasil entrou em campo com duas mudanças principais: Bernard na ponta-esquerda e Dante fazendo a dupla de zagueiros com David Luiz – que herdou a faixa de capitão naquele duelo.

    Animicamente, aquela seleção já estava uma pilha de nervos e isso ficou evidente durante o hino nacional: segurando uma camisa com o nome de Neymar, ao lado do goleiro Júlio César, David Luiz cantava o hino sílaba por sílaba e com a voz projetada, como em algum exercício fonoaudiológico de dicção. Tudo certinho, mas pouco natural.

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  • Alemanha 1 a 0, Thomas Muller 2014Getty Images

    Alemanha 1 a 0 (11 minutos)

    Ficou tudo errado depois que Thomas Muller abriu o placar, aos 10 minutos, após escanteio. Tranquilo na área, sem marcação, em grande falha de David Luiz, o atacante estava livre enquanto oito camisas amarelas à sua frente, fazendo tudo menos marcá-lo, só assistiram a bola estufar as redes do Mineirão. Na entrevista logo após a derrota, o técnico Luiz Felipe Scolari falou em “apagão” e “seis minutos de pesadelo”. De fato, foi o que aconteceu na sequência.

  • Klose, World Cup 2014Getty Images

    Alemanha 2 a 0 (23 minutos)

    Muito se fala em um desmoronamento após o primeiro gol, mas não foi bem assim. O Brasil não jogou bem, estava nervoso e lançando muitas bolas longas, mas a Alemanha também não tinha toda esta superioridade. O 2 a 0, contudo, jogou a seleção brasileira em um território nunca antes visto e mudou completamente o cenário.

    No período em que fez outros quatro gols, até o final do primeiro tempo, a Alemanha foi cirúrgica: tendo menos a bola que o Brasil, conseguia fazer desarmes fáceis, infiltrar dentro da área brasileira como se estivesse em casa e finalizou seis vezes.

    Em uma destas finalizações, Júlio César deu rebote para Miroslav Klose fazer o segundo e se isolar como maior artilheiro da história das Copas do Mundo masculinas. Uma jogada com erros claros de Fernandinho (não conseguiu interceptar um passe que vinha em sua direção), Dante e David Luiz.

  • Brasil x Alemanha, 2014Getty Images

    Alemanha 3 a 0 (25 minutos)

    Sempre a partir do lado esquerdo da defesa brasileira, demonstrando em especial as péssimas noites também de Marcelo e Hulk por ali, a Alemanha construiu o seu terceiro gol com facilidade. Lahm cruzou, Muller furou... mas a bola chegou à feição para Toni Kroos, livre na entrada da área, chutar com força. Júlio César poderia ter defendido.

  • Brasil x Alemanha, 2014Getty Images

    Alemanha 4 a 0 (26 minutos)

    O quarto gol é o que melhor mostra o colapso do Brasil. Ao dar a saída de bola com 3 a 0 no placar, Dante tocou a bola para Fernandinho e o volante não viu Toni Kroos chegando, a mil por hora, para fazer o desarme. E dali em diante, a jogada pareceu um daqueles gols feitos em confraternizações amistosas entre amigos: com a defesa toda aberta (tendo apenas desesperados Dante, Fernandinho e Júlio César), Kroos tocou para Khedira na área, que devolveu para Kroos: 4 a 0.

  • Khedira, Brasil Alemanha 2014Getty Images

    Alemanha 5 a 0 (29 minutos)

    A frase “cada um por si e Deus por todos” parece traduzir a impressão passada pelo time brasileiro naqueles minutos. No quinto gol alemão, David Luiz dá um chutão e a bola vai até o meio-campo, em posse da equipe europeia.

    De forma surpreendente, o zagueiro abandona o posto e corre desenfreadamente para o meio, deixando um enorme buraco que seria aproveitado por Khedira. Passe para Kroos, que agora devolve para Khedira, na região da marca do pênalti, bater para o fundo das redes. Maicon não teve sorte para interceptar a finalização. Quatro gols sofridos em menos de dez minutos.

  • Schurrle, Brasil Alemanha 2014Getty Images

    Alemanha 6 a 0 (69 minutos)

    Como começar o segundo tempo de um jogo praticamente morto? Felipão trocou Hulk e Fernandinho por Ramires e Paulinho, mas o jogo acontecia apenas como uma lenta espera pelo apito final. Anos depois, foi revelado que a Alemanha intencionalmente escolheu diminuir sua intensidade em respeito ao que significa o Brasil. Não há situação mais humilhante.

    Só que não adiantava mudar meio-campo, defesa ou ataque naquele ponto da história. A Alemanha avançou trocando passes, como se fosse treino contra um time de crianças (como o que estrelou um dos tantos comerciais prévios àquele Mundial), e Schurrle conseguiu uma finalização tranquila quase na pequena área, mesmo estando cercado de camisas amarelas. Os jogadores do Brasil, ali, pareciam apenas zumbis.

  • Schurrle, Brasil Alemanha 2014Getty Images

    Alemanha 7 a 0 (79 minutos)

    E zumbis os brasileiros ainda pareciam ser, no gramado do Mineirão, até o apito final. Mas quando se fala no fator “sorte” para avaliar as finalizações e chances criadas pela Alemanha naquele 8 de julho, a única vez em que isso aconteceu foi no sétimo gol.

    Os alemães chegaram com a costumeira tranquilidade à área brasileira, mas o chute desferido por Schurrle foi meio que despretensioso. Quase sem ângulo, o arremate do camisa 9 bateu no travessão, quase na quina com a trave, e entrou.

  • Oscar Brasil germany 2014Getty Images

    7 a 1 (90 minutos)

    Tudo já estava terminado havia muito tempo quando Oscar, aos 90 minutos, fez um gol protocolar e sem graça. “Eu nunca vi um gol ser tão pouco comemorado”, registra a voz responsável pela narração oficial da FIFA.

  • Luis Felipe Scolari Brazil Germany FIFA World Cup 2014 08072014Getty

    Todos os tipos de exagero

    Um 7 a 1 em Copa do Mundo é, por si só, um placar exagerado. Ainda mais em semifinal e em jogo envolvendo duas das maiores seleções da história. Busca-se, até hoje, uma resposta para explicar o ocorrido naquela tarde no Mineirão.

    E a verdade é que são várias as respostas. O Brasil foi mal preparado física e tecnicamente, e não aguentou a pressão psicológica a qual, por inúmeras razões e contextos, foi submetido. Estava jogando mal após o primeiro gol, mas simplesmente desistiu de jogar após ter levado o segundo. Deixou de acreditar, de pensar, de competir.

    A sensação foi de que não havia, ali, um time. Sensação esta que de certa forma foi confirmada por Felipão, o técnico naquele jogo, anos depois. "Em 2014, não conseguimos esse entrosamento (igual ao do time campeão do mundo de 2002)”, revelou Luiz Felipe Scolari em entrevista para o SporTV em 2021. “Houve discordâncias muito grandes entre jogadores no grupo”.

  • Score Brazil Germany FIFA World Cup 2014 08072014

    Maior vexame da história

    Em meio a tantas razões que explicam o que dizem ser inexplicável, existem algumas certezas: a Alemanha pode ter tido sorte em, no máximo, dois gols, mas mereceu ganhar aquela semifinal de goleada porque o Brasil mereceu sofrer cada um dos gols.

    A estatística de gols esperados (xG) apontou apenas 3,15 para os alemães naquela tarde, mas a estatística, apesar de ser uma das métricas mais modernas para leitura do jogo, não leva em consideração a posição dos defensores na hora das finalizações ou o estado anímico em que eles estavam.

    O Brasil mereceu ser goleado naquela tarde, a Alemanha goleou. E deixou como cicatriz o maior vexame da história das Copas do Mundo, se considerarmos o que acontece dentro das quatro linhas. Antes daquela tarde de 8 de julho, o Brasil não era derrotado em casa em torneios oficiais havia 39 anos (uma derrota de 3 a 1 para o Peru, na Copa América de 1975), e na história dos Mundiais masculinos apenas Zaire e Haiti desceram para o intervalo de um jogo tendo levado pelo menos cinco gols.

    Nunca antes a seleção brasileira havia sofrido tantos gols. E aconteceu justamente em uma semifinal de Copa do Mundo para redefinir os traumas domésticos do Brasil na competição: 1950 foi o maior trauma, mas o 7 a 1 de 2014 é, com certeza, a maior vergonha.