Richarlison Neymar Brazil Korea 2022Lucas Figueiredo/CBF

Brasil deu o show que precisava: dos gols e danças à homenagem a Pelé

O “não existe mais bobo no futebol” foi uma daquelas frases clássicas do período de Copa do Mundo, quase tão tradicional quanto o ato de pintar as ruas com as cores do Brasil, até perder força em algum momento dos últimos anos. Ela se referia às grandes surpresas dos Mundiais, como uma Coreia do Norte vencendo a Itália em 1966 ou uma seleção senegalesa batendo a então campeã França em 2002. Hoje em dia, com a globalização maximizada do esporte, os jogos entre equipes nacionais costumam ser, no geral, mais equilibrados e até imprevisíveis. Tanto, que a frase começou a cair em desuso e virou até mesmo motivo de piada.

Ainda assim, antes de o Brasil enfrentar a Coreia do Sul pelas oitavas de final do Mundial de 2022, no Qatar, o temor era maior pelo que a seleção de Tite poderia não ter do que em relação ao que os sul-coreanos tinham. Danilo seria confiável improvisado na lateral esquerda? Como Neymar (e o próprio Danilo) voltaria após ter sido desfalque por lesão nos dois jogos anteriores? O adversário das oitavas de final vinha de uma vitória sobre uma já classificada – e, portanto, mais relaxada – equipe de Portugal. Os sul-coreanos merecem respeito, assim como todo oponente, mas qualquer eventual derrota seria, quer queira ou não, tratada na linha do “vexame”.

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Pois se o fracasso de outras seleções mais badaladas, seja de maior tradição ou dotada de um número considerável de jogadores reconhecidamente decisivos (como Uruguai, Alemanha e Bélgica), deu ao Brasil um chaveamento teoricamente mais acessível até as semifinais, qual era a obrigação do time treinado por Tite? Vencer e seguir adiante era o primeiro. Pois ainda que Heung-min Son seja um dos melhores jogadores do Campeonato Inglês, o atacante do Tottenham e Coreia do Sul era o único com o status de “cara que pode decidir qualquer jogo” pelo adversário brasileiro das oitavas de final.

Mas parte do peso que existe quando o assunto é seleção brasileira foge da obrigação de apenas ganhar. Se o Brasil é, até hoje e mesmo após uma derrota de 7 a 1 tomada dentro de casa, sinônimo de futebol arte, é preciso também ganhar jogando bem. Entreter, dar show, entregar algo que consiga até mesmo parecer mais do que apenas um jogo de futebol. Quando o Brasil enfrenta seleções de uma prateleira abaixo da sua, como a Coreia do Sul, este é o nível de exigência. E a goleada por 4 a 1 sobre os sul-coreanos, que levou a equipe canarinho às quartas de final, entregou exatamente este tipo de show que tanto exigimos em casos assim.

Brazil South Korea World Cup 2022GettyBrazil Tite RicharlisonGetty Images

O Brasil resolveu rapidamente a partida. Uma grande jogada de Raphinha, para aliviar as críticas que vem recebendo, terminou com Vini Júnior abrindo o placar. Richarlison sofreu pênalti que Neymar converteu e, antes dos 30 minutos, pintou e bordou na frente da área sul-coreana até receber passe açucarado de Thiago Silva, zagueiro que se postou como se fosse um camisa 10, para fazer o 3 a 0. Vini Júnior voltou a exibir o seu enorme poder de decisão ao dar o passe que Lucas Paquetá transformou em assistência ao fazer o 4 a 0. Um show de futebol ainda no primeiro tempo, com o refinamento de outros belos lances daqueles que fazem parte do DNA do jogador brasileiro, como a dança e irreverência que embalou as comemorações.

Com a classificação garantida, era momento de voltar a colocar os pés no chão e poupar fisicamente alguns jogadores. Planejamento e estratégia. Foi o que Tite fez: substituições. Até mesmo Weverton, terceiro goleiro, entrou em campo. Uma desatenção normal aqui e outra ali aconteceram, faz parte, e os sul-coreanos conseguiram um gol de honra. A Croácia, adversária das quartas de final, não inspira tanta confiança e não tem alguns dos nomes que, há quatro anos, lhe ajudaram a chegar até a final. Mas tem Modric, Perisic, Brozovic e experiência de jogo grande. O nível técnico de exigência promete aumentar. Ainda assim, o Brasil é favorito.

Além da classificação, do show e da estratégia acertada de já começar a poupar fisicamente alguns jogadores, o Brasil cumpriu também com sua obrigação de homenagear Pelé. O maior jogador da história, que fez o nosso país ser reconhecido internacionalmente e cravou de forma definitiva o brasileiro como sinônimo de futebol arte, enfrenta problemas de saúde. O nome do Rei esteve presente nas arquibancadas e em uma bela faixa exibida pelos jogadores do Brasil no final do jogo. A maior de todas as homenagens a Pelé, contudo, foi dentro de campo.

Brazil squad Pele tributeGetty

Não existe mais bobo no futebol em relação ao que as seleções jogam, mas não falta bobo com espaço em grandes veículos para falar bobeiras. Roy Keane, desleal e violento ex-jogador de futebol, que condenou as danças feitas pelos brasileiros após os gols, é um deles.

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