Victor Ramos Chapecoense 13042017Sirli Freitas/Chapecoense/Divulgação

Victor Ramos aceitou R$ 100 mil de apostadores para cometer pênalti, diz MP

O zagueiro Victor Ramos, que tem passagens por Vitória, Vasco e Palmeiras, é um dos investigados do Ministério Público do estado de Goiás (MPGO) por suposta manipulação de partidas de futebol em parceria com apostadores na Operação Penalidade Máxima. De acordo com a denúncia de oito promotores de justiça, o atleta "aceitou a promessa de vantagem patrimonial indevida com o fim de alterar o resultado ou evento do jogo entre Guarani e Portuguesa-SP", conforme documentação obtida pela GOAL.

O promotor alega ainda a vantagem consistiu na promessa de pagamento de R$ 100 mil para que Victor Ramos, jogador da Portuguesa-SP à época, cometesse uma penalidade máxima durante a partida, disputada em 8 de fevereiro deste ano e válida pela edição mais recente do Paulistão.

Um dos apostadores, Bruno López de Moura, fez contato com um amigo do zagueiro, Pedro Gama, a fim de captar o atleta, que hoje defende as cores da Chapecoense, para o esquema de apostas esportivas. Posteriormente, devido ao fato de os apostadores não terem encontrado outros atletas para manipulação de resultado na mesma rodada, os denunciados não efetuaram o pagamento antecipado ao jogador. Não houve aposta na partida em questão.

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O Ministério Público reúne conversas entre os apostadores e também o sinal positivo de Victor Ramos para a proposta avaliada em R$ 100 mil. Um dos apostadores, Zildo Peixoto Neto, relata a outros dois, Bruno Lopez de Moura e Ícaro Fernando Calixto dos Santos, que recebeu sinal positivo de Pedro Gama, amigo do jogador (imagem abaixo).

Victor RamosInvestigação

"Acabei de ficar no telefone aqui com esse Pedro Gama aí. Esse cara aí é irmãozão do Victor Ramos. Falou que, se a gente quiser falar no vídeo com o Victor Ramos, fala vídeo normal. Ele falou: 'meu, cem conto (R$ 100 mil), ele pega, entendeu?'. Metade antes [do jogo], metade depois", relatou Zildo em uma conversa por grupo de WhatsApp.

Os diálogos entre Victor Ramos e Pedro Gama foram localizados no aparelho celular apreendido com o zagueiro — a dupla se comunicou por meio de telefonema no aplicativo de mensagens WhatsApp. A conversa, de acordo com a denúncia, indica ainda possível manipulação realizada na mesma partida com terceiros, dentre eles, uma pessoa conhecida como Neto.

Victor RamosInvestigaçãoVictor RamosInvestigação

A sequência do diálogo, mesmo que tenha mensagens apagadas por Victor Ramos, mostra Pedro Gama falando sobre o valor do pagamento: "Irmão, são R$ 100 mil. É grana, pô, fora o que você for fazer ainda com o Neto. Aí, você dando o OK, ele já me entrega amanhã a metade. E já te entrego". Na troca de mensagens por meio de WhatsApp, Victor Ramos aparece cobrando o amigo Pedro Ramos entre 7 de março de 2023 e 8 de março de 2023: "Era para ter pego o valor antes, bem que o Neto disse. Foda isso, viu?".

Às 9h14 (de Brasília) de 8 de março, o zagueiro voltou a cobrar o amigo: "Veja meu dinheiro aí, me ajude aí, cara, na boa mesmo. Segunda-feira, pô, e hoje é quarta já. Você recebeu, era para me passar", escreveu Victor Ramos, que ainda acrescentou: "Na boa, Pedro, só pode estar de putaria comigo, toda vez é isso. Quero meu dinheiro hoje. Pega dinheiro dos outros". Pedro Gama retruca o defensor: "Eu não peguei dinheiro seu, eu que fiz o esquema para você ganhar. Você vai receber. Agora, não venha com essa ameaça também não". O jogador retruca o colega: "Só quero que você faça meu PIX aí. Estou precisando somente".

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A denúncia não apresenta comprovante de pagamento para Victor Ramos, como faz no caso de outros atletas. O documento, contudo, apresenta conversas de cunho pessoal do zagueiro falando sobre questões financeiras. Em ligações capturadas por meio de grampo telefônico, o atleta conversa com familiares e amigos. Em momento algum, ele fala sobre a origem do dinheiro que receberá — as ligações ocorreram em 6 de abril, 9 de abril e 10 de abril.

No jogo entre Guarani e Portuguesa, ocorrido em 8 de fevereiro, até há um pênalti no duelo, mas a infração é cometida pelo goleiro Thomazella (Carlos Eduardo Lecciolle Thomazella). Victor Ramos, embora tenha dado sinal positivo para os apostadores, não fez o pênalti e tampouco recebeu o montante prometido — R$ 100 mil. Entretanto, é denunciado pelo Ministério Público ao lado do grupo de apostadores, do amigo Pedro Gama e de outros atletas.

O jogador é denunciado nos termos do artigo 394, § 1º, do Código de Processo Penal. O promotor do caso acrescenta ainda que requer que seja fixado o valor mínimo de R$ 2 milhões para reparar danos morais coletivos causados pelos denunciados, valor este que deverá ser imposto globalmente de forma solidária a todos os denunciados, considerando-se os elementos colhidos ao longo da investigação.

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