O Vasco da Gama é, historicamente, uma das maiores fábricas de atacantes do futebol brasileiro. Foi na categoria de base cruz-maltina que surgiram nomes como Roberto Dinamite, Romário, Edmundo e Philippe Coutinho. Pergunte para qualquer torcedor vascaíno quem deve ser o próximo desta dinastia e você vai escutar apenas um nome: Talles Magno.
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O jovem de apenas 17 anos, entretanto, não demonstrou, ao menos até aqui, características muito marcantes que lembrasse algum destes nomes. Taticamente falando, o início de sua trajetória é oposto ao de Romário: se o Baixinho foi um ponta que virou centroavante, o atacante de 1,86m começou na referência de ataque antes de, em 2020, passar a atuar pelos lados.
Com muito caminho pela frente até amadurecer no futebol, suas características remetem a outros nomes consagrados. A capacidade e ousadia para o drible lembram Neymar, mas o porte físico e a polivalência para as posições de ataque mostram uma semelhança com Richarlison, do Everton, que também atua com segurança aberto pelos lados ou como centroavante. E é por parecer com tantos bons nomes, mas tendo sua própria identidade, que ele já encanta a torcida vascaína.
A expectativa tem seus motivos. O jovem tinha apenas 16 anos quando estreou pelos profissionais e rapidamente se mostrou decisivo. Mas as coisas não foram fáceis até chegar ali.
Ele já era destaque na escolinha de futebol de seu condomínio antes de ser levado para fazer teste no Vasco: passou e logo foi requisitado para viajar com a equipe de base para disputar partidas em Portugal. Mas a boa notícia veio acompanhada de problemas: o garoto ainda não tinha passaporte e sua família teria que arcar com os custos daquela viagem.
“Eu não tinha dinheiro”, relembra Claudineia, mãe de Talles, em entrevista para o Globoesporte.com. “Eu deixei até de pagar conta de luz. Rifamos uma camisa do Vasco e vendemos cada rifa a R$ 20. Conseguimos uma parte. O restante quem pagou foi o patrão do meu marido. Foi um grande teste. Depois desse torneio todas as viagens foram pagas pelo Vasco”.
Já no problema do passaporte, quem deu as caras foi a sorte: o documento ficou pronto apenas dias antes da viagem e tudo acabou dando certo. Enquanto talhava seu talento, Talles também exercitava a resiliência. A rotina de escola, Vasco e treinos de futsal à noite deixava exacerbado o caráter de um jovem que, mesmo possuindo uma rara qualidade, sempre se mostrou disposto à entrega para o coletivo.
“Tudo o que eu puder fazer neste gramado aqui (de São Januário), dar carrinho de cabeça, carrinho, gol, eu vou fazer para ajudar a equipe do Vasco da Gama”, disse ao canal oficial do Gigante da Colina. O carinho pelo clube de São Januário foi reafirmado em 2019, quando negou qualquer possibilidade de se transferir para o Flamengo, que vinha demonstrando interesse.
Àquela altura, Talles já começava a se firmar como xodó cruz-maltino. O primeiro contrato profissional foi assinado em 2018 e, no ano seguinte, seu futebol e personalidade em campo encantaram o consagrado Vanderlei Luxemburgo, treinador do time na época. A joia vascaína já estreou no time principal fazendo história ao ser o primeiro atleta nascido no século 21 a defender profissionalmente o Gigante da Colina.
No Brasileirão de 2019, jogando como atacante mais avançado, foram dois gols em 15 jogos. Poderia ter sido mais se a CBF não o tivesse convocado para o Mundial sub-17. O Vasco sentiu falta do jovem, um dos melhores dribladores daquele campeonato.
O seu melhor momento ganhou uma imagem inesquecível: no 1 a 0 sobre o Fortaleza, Talles completou uma lambreta linda e só parou porque foi derrubado, ajudando o time ao deixar o adversário com um a menos por causa da expulsão de Gabriel Dias.
O Mundial sub-17 lhe deu o sabor do título e o dissabor de uma lesão na coxa que abreviou sua participação. Ainda assim, fez dois gols naquela campanha.
Iniciando a temporada 2020 cheio de expectativas, Talles Magno passou a jogar na ponta-esquerda após a chegada do goleador Germán Cano, mas segue decisivo: a vitória mais importante da temporada até aqui, contra o Oriente Petrolero, pela Copa Sul-Americana, veio graças à sua assistência para o argentino.
Clubes como Lazio, Roma, Sevilla, Bayer Leverkusen e Krasnodar já demonstraram interesse. Com vínculo até 2022 e multa rescisória de € 50 milhões, o jovem é a grande esperança do Vasco para fazer dinheiro em meio às combalidas finanças cruz-maltinas. Uma nova viagem para a Europa não deve demorar a acontecer.


