Por Bruno Guedes - @brguedes
O Flamengo retorna à disputa de um Mundial após 38 anos de espera. Ao contrário de 1981, chega precisando fazer uma partida a mais e com um abismo entre o futebol praticado na Europa em relação ao resto do planeta, incluindo a América do Sul. Mas, nesse caldeirão de esperança e novidades para o rubro-negro, há uma outra: o time do Jorge Jesus é o campeão da Libertadores mais bem preparado para encarar um europeu até agora.
Ainda que haja uma semifinal contra o Al-Hilal, o mais aguardado confronto desse Mundial, sem dúvidas, é Flamengo e Liverpool. O time inglês é um dos mais fortes deste século, com elenco altamente qualificado e um dos três melhores técnicos do planeta. Só o zagueiro van Dijk custou metade do time Rubro-Negro inteiro: R$ 331,5 milhões. São mundos paralelos e muito, mas muito distantes.
Entretanto a equipe carioca, por ser comandada por um europeu, chega ao Qatar sendo a que carrega a menor desigualdade entre todas nesta década. Além dos conceitos adotados por Jorge Jesus, o elenco conta com atletas que durante boa parte da carreira jogaram na Europa e estão acostumados à tal escola. E é com essa esperança nos ombros que a torcida do Flamengo se agarra às chances reais, porém pequenas, de um título mundial.
Como mostrou nesses cinco meses no Brasil, Jesus conseguiu montar um modelo de jogo altamente competitivo e que só estávamos acostumados a vê-lo justamente no continente europeu. Todavia é, também, aí que entra a sua maior fragilidade. Enquanto Klopp está há três anos à frente dos Reds, o português tem menos de um. E sem tanto tempo, os problemas aparecem, como aconteceu na final contra o River Plate.
O Flamengo mostrou dificuldades contra equipes que jogam de forma vertical (acelerando as jogadas em direção ao gol). Foi assim que sofreu contra Athletico, algumas equipes menores no Brasileirão que tentavam praticar algo próximo disso e, principalmente, na decisão da Copa Libertadores. Eis que é esta a grande força do Liverpool, a verticalidade de seu esquema.
Por mais que comparem dizendo que equipes menores da Premier League fazem frente ao Liverpool, é irreal. Times da Inglaterra estão acostumados ao confronto direto há décadas, além do intercâmbio de conceitos entre os jogadores. Porém, ainda que Jorge Jesus negue, essa é a maior chance na carreira. Vencer Klopp vai lançar luz não só sobre seu trabalho para a Europa, como jogá-lo ao patamar em que só José Mourinho está, entre seus conterrâneos: o dos campeões mundiais.
Caso vá à final, será muito difícil para o Flamengo. Próximo ao épico. Mas ao mesmo tempo é quem melhor pode explorar o adversário com ideias próximas às suas. E, no Mundial de Clubes, já vimos o improvável virar realidade muitas vezes.
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Bruno Guedes é músico, apaixonado por futebol e beisebol. Brasiliense por certidão e carioca de coração, acredita no futebol brasileiro e tem Romário como o maior jogador que viu dentro das quatro linhas. |

