No dia 25 de junho, Jurgen Klopp comemorou o primeiro título nacional do Liverpool em 30 anos .
Apenas três dias depois, o Hamburgo sofreu uma derrota humilhante dentro de casa por 5 a 1 diante do Sandhausen, que acabou com as chances da equipe de retornar à Bundesliga.
As duas partidas, aparentemente muito distantes, são conectadas pelo treinador do Liverpool : o Hamburgo teve a chance de contratar Klopp em 2008.
Naquela época, o tradicional time alemão estava procurando um novo técnico, após Huub Stevens anunciar que não iria permanecer na equipe para a temporada seguinte.
Fred Rutten (PSV), Christian Gross (Basel), Bruno Labbadia (Greuther Furth) e Jurgen Klopp (Mainz) todos foram especulados como possíveis sucessores de Stevens.
Em fevereiro de 2008, o CEO do Hamburgo, Bernd Hoffmann, junto com o diretor de marketing Kakja Klaus e o diretor de futebol Dietmar Beiersdorfer viajaram para conversar com Klopp em sua casa.
Hoffmann e Kraus foram viajar já convencidos do potencial do treinador.
Beiersdorfer, entretanto, não estava tão confiante. De acordo com fontes que estavam presentes, o diretor perguntou abertamente se um técnico cujo apelido era "Kloppo" - apelido considerado não-profissional - se encaixaria numa equipe tradicional como o Hamburgo.
"Não são vocês que tem um diretor de futebol chamado 'Didi'" respondeu Klopp, em alusão ao apelido de Beiersdorfer.
A retórica de Klopp pouco fez para tirar as dúvidas de Beiersdorfer, que então, contratou olheiros para fazer um perfil dos candidatos.
Na verdade, os olheiros eram basicamente espiões, instruídos a secretamente observarem Klopp e companhia das oito da manhã até o final do dia em seus respectivos clubes.
Cada candidato foi avaliado por um sistema de pontos: treinos, táticas, motivação, pontualidade, aparência, vestimentas, relação com torcedores e com a mídia foram os critérios analisados.
Rutten recebeu a maior pontuação, enquanto Klopp não foi bem avaliado .
Imago Images / Martin HoffmannNo final das contas, Beiersdorfer acabou encontrando outros motivos para se preocupar além do apelido. Segundo a investigação, Klopp era um fumante que sempre chegava atrasado aos treino com uma barba mal-feita e jeans velhos e rasgados.
"Os jeans não foram bem recebidos pela diretoria," admitiu Hoffman ao Sport Bild. "Nós recebmos a indicação de que contratar Jurgen Klopp não seria uma boa ideia."
Klopp, então, ficou furioso ao saber a razão de ter sido preterido pelo Hamburgo.
"Sim, infelizmente eu fumava, mas a falta de pontualidade é uma mentira completa," contou depois ao RND. "Eu nunca cheguei atrasado na minha vida sem uma boa razão para isso. Eles falaram que eu tinha uma relação 'irreverente' com a imprensa? O que diabos é isso?"
"Criticavam o apelido 'Kloppo', falando que era falta de autoridade. Eu não acho que é algo desrespeitoso. Quando eu comecei a treinar o Mainz, aqueles jogadores eram meus companheiros de time. No dia seguinte, eram meus comandados. O que eu deveria fazer, pedí-los para me chamarem de Sr. Klopp? No Hamburgo, eles realmente achavam que ninguém ia me respeitar porque meu apelido era 'Kloppo'!"
Na realidade, Klopp sentiu que quem o desrespeitou foi o próprio Hamburgo. Além de tudo, o time demorou a avisá-lo que não o considerava mais um candidato à vaga.
A recusa foi tão demorada que o treinador já estava até procurando uma casa na cidade, quando Beiersdorfer o informou que ele não estava mais na disputa pelo cargo.
"Naquele momento, eu falei: 'Bem, amigos, se ainda tiver algum interesse, eu quero dizer: não. Nunca me liguem de novo, não vou aceitar'." Klopp relembrou. "Sou um técnico de futebol. Se coisas assim importam para vocês, vocês estão errados e nós não vamos conseguir trabalhar juntos."
O Hamburgo certamente se arrependeu.
Após o clube contratar Martin Jol, Klopp assumiu a mesma vaga no Borussia Dortmund, onde se estabeleceu como um dos melhores treinadores do planeta .
Em cinco anos, levou um clube que estava em péssima fase, tanto dentro de campo quanto financeiramente, a dois títulos da Bundesliga, uma Copa da Alemanha e à final da Liga dos Campeões de 2013.
No Liverpool, mostrou o mesmo poder de recuperação , levando o clube de volta a seu lugar na Inglaterra, apenas 12 meses depois de conquistar a sexta Liga dos Campeões dos Reds.
O Hamburgo, pelo contrário, continua com um futuro nebuloso: vai ficar na segunda divisão alemã após 12 anos de erros após erros, dentro e fora de campo.
"Se nós tivéssemos contratado Jurgen Klopp em 2008, talvez não chegássemos à final da Champions," Hoffman lamentou em entrevista ao Sport Bild , "mas o clube certamente estaria melhor agora."
Disso, existem poucas dúvidas: o trabalho feito por Klopp no Dortmund e no Liverpool poderia ter acontecido também no Hamburgo... É claro, se o treinador não fosse fumante e usasse jeans rasgados.
