Cuca não é mais treinador do Corinthians. A sua controversa estadia no clube durou o tempo recorde de apenas seis dias e dois jogos. O momento corintiano é de turbulência, apesar da vaga nas oitavas de final da Copa do Brasil não ter escapado – graças a Cássio. A diretoria alvinegra se vê obrigada a seguir em busca de um comandante. Tite é o sonho, mas a dura realidade é a promessa feita à sua esposa de que não aceitaria trabalhar no Brasil neste momento. E dentro do universo de treinadores livres no mercado, existe Rogério Ceni.
Sim, Rogério Ceni. O eterno ídolo do São Paulo, técnico recentemente demitido pelo próprio Tricolor, mas cuja imagem como atleta é intrinsicamente ligada ao clube do Morumbi. Depois de toda a polêmica que envolveu a escolha por Cuca, dificilmente a diretoria corintiana teria coragem de, neste momento, fazer algo tão arriscado quanto contratar Rogério Ceni. Mas imagine só como poderia ser...
Os protestos de torcedores não iriam parar, embora desta vez a desaprovação ficaria relacionada a questões clubísticas. Rogério teria que, em rápido espaço de tempo, conseguir resultados positivamente tão históricos quanto intensos para fazer o corintiano olhar para ele e não ver, por exemplo, o cara que, em 2011, saiu em correria inabalada após marcar, sobre o então rival Corinthians, o seu 100º gol como goleiro. E como ficaria a relação dele com o torcedor do são-paulino? A certeza é que palmeirenses e santistas iriam se divertir.
A história de Rogério Ceni com o São Paulo é tão intensa quanto a antipatia que ele, na época em que jogava, despertava nos seus rivais mais próximos. É uma dinâmica normal dentro das paixões entregues pelo futebol. Você já soube de jogadores e treinadores que trocaram de lado em clubes com grandes rivalidades, mas ver alguém que foi um dos maiores ídolos da história de um time aceitar, anos depois, treinar um grande rival é artigo raríssimo.
Alfredo Di Stéfano foi ídolo do River Plate como jogador e, anos depois, treinou o Boca Júniors. Mas o hispano-argentino tinha, como atleta, uma ligação maior com o Real Madrid – clube que também treinou. Havia distanciamentos emocionais naquela história. José Macia, o Pepe, é um dos maiores ídolos do Santos e foi o técnico campeão brasileiro pelo São Paulo em 1986. O Canhão da Vila seria um exemplo perfeito, não fosse por dois fatos: a referência maior de sua época no Santos era Pelé, e a distância em relação à capital paulista ainda diminui um pouco os ânimos da rivalidade se comparada à trinca São Paulo-Palmeiras-Corinthians.
Foto: Alexandre Vidal / FlamengoRogério Ceni, é bom lembrar, já causou descontentamentos leves quando treinou o Flamengo. Os rubro-negros nunca o abraçaram completamente e os são-paulinos ficaram magoados por algumas palavras ditas pelo treinador – que exaltou a paixão dos flamenguistas. Pensar em Rogério no comando do Corinthians seria elevar estas animosidades a um nível jamais visto. O próprio Rogério já falou sobre o assunto em 2020, ao ser perguntado sobre a chance de um dia treinar rivais do São Paulo: “acho muito pouco provável. Muito do respeito que eu conquistei com o torcedor são-paulino se deve à rivalidade de 25 anos que tive com esses clubes. Não pretendo jogar fora isso, até porque existem muitos outros grandes clubes no Brasil”, disse ao Valor Econômico. O problema foi a frase que abriu aquela entrevista: “Não diria que é impossível”. Hoje, só nos cabe imaginar.




