Danilo exclusivo: seleção, Hulk, novos garotos e Juventus sem CR7

Danilo, da Juventus e da Seleção, viria ao futebol brasileiro se fosse dirigente de um clube europeu sem tanto renome para buscar talentos nas diferentes divisões do país. O lateral fala com orgulho do País produtor de talentos no futebol capaz de agora ter uma nova geração no time do técnico Tite, com Vinicius Junior, Antony e Raphinha, trio elogiado pelo atleta de 30 anos.

Em entrevista exclusiva de aproximadamente uma hora para a Goal feita antes da vitória do Brasil sobre a Colômbia e o carimbo da classificação para a Copa de 2022, Danilo detalhou a carreira de dez anos no futebol europeu, entre Porto, Manchester City, Real Madrid e Juventus, e opinou sobre a preparação brasileira para a Copa do Mundo de 2022, no Catar, e o nível da seleção de Tite.

Futebol ao vivo ou quando quiser? Clique aqui e teste o DAZN grátis por um mês!

Além disso, comentou a respeito da organização do futebol brasileiro, relação com Cristiano Ronaldo, admiração por Pep Guardiola, parceria com Neymar, possível volta futura ao Brasil com prioridade ao Santos e América-MG, jogadores renomados da Europa que fizeram esse caminho e o reconhecimento a Hulk no Atlético-MG. Ele também contou bastidores do contundente posicionamento feito depois da Copa América, no qual tocou em diferentes pontos sensíveis de debate no país e da relação entre torcedores, jogadores e imprensa.

Você confere abaixo trechos dessa entrevista exclusiva e também em outras reportagens separadas aqui na Goal.

Goal: Você joga desde 2015/2016 no topo de clubes da Europa: Real Madrid, Manchester City e Juventus. Mais difícil do que chegar ao topo é manter a regularidade lá. Como fez?

Danilo: Entendo sua pergunta, mas incluiria também os anos no Porto e vou explicar o porque: pela dificuldade de adaptação que um jovem jogador de futebol tem quando sai do seu país para um diferente, mesmo falando português e sendo em Portugal. É uma liga diferente, com clima, pessoas e tipo de futebol diferentes. Incluiria nessa estatística os anos no Porto, um clube imenso também. Mas claro que entendo também que City, Real e Juventus representam uma importância diversa no futebol mundial.

Ligo isso sempre à constância do trabalho. Sou consciente no meu papel em cada uma das equipes. Tenho certeza que não sou craque nem o jogador que vai dar show, mas tenho a consciência da minha importância para as equipes, da minha importância tática, do que represento no jogo de balanço defensivo, aquilo que mais me divirto jogando futebol hoje que é a construção das jogadas. Não tem time que chega com a bola bem polida no último terço se os defensores não fizerem um bom trabalho de saída de bola, não tiverem coragem de ter a bola sob pressão, de se expor em momentos que se perder a bola é risco de gol. Entendo meu papel nos times. Sempre foquei no trabalho, constância e em saber minha importância pra cada time. A partir do momento em que entende isso e trabalha para maximizar o seu potencial e diminuir ao mínimo as os seus pontos fracos, isso faz você estar num patamar elevado por muito tempo.

Em qual momento nesses clubes você guardou uma passagem importante de aprendizado que marcou?

Por ser muito pé no chão e consicente do que quero nunca me deslumbrei no meu meio, com tamanho dos jogadores e clubes, mas claro que em determinados momentos as coisas fascinam. Sempre observei o que servisse de aprendizado, de coisas que pudesse melhorar. No meu primeiro ano no Porto não foi fácil em termos de lesão, adaptação, pelo tanto que custei. Éramos obrigados a chegar a 1h30 antes do treino. No Santos o treino era às 16h, chegava 15h55h e teve vez de chegar com a galera do treino já no campo. Era assim, hoje tenho certeza que é diferente e evoluiu no Brasil, mas na minha época era assim.

Cheguei no Porto e não estava desempenhando meu futebol da melhor maneira, pensei que tinha alguma coisa que não estava fazendo bem. Não me compraram pra passear, à toa. A obrigação era chegar 1h30 antes do treino, tomava café e ficava até a hora do treino. Em um determinado momento deu um estalo e passei a observar os jogadores que faziam diferença para a equipe naquele momento. Foi quando olhei jogadores como Hulk, João Moutinho, Lucho Gonzalez, os mais experientes do Porto. Jogadores com identidade no clube, muita influência, e passei a observar. Falei: 'Pô, tenho que fazer o que eles fazem. Foi meu primeiro choque de realidade".

Willian, David Luiz, Andreas Pereira e Douglas Costa voltaram para o futebol brasileiro. Como viu esse movimento?

Bacana. Engraçado, apesar de o futebol europeu ser muito valorizado, dar muitos ensinamentos aos atletas, todos sentem saudade do seu pais. Eu sinto saudade do futebol do meu país, sempre que posso assisto. Natural. Bacana, são jogadores de uma bagagem incrível de seleção, títulos, Champions, torneios incríveis e aportam muita qualidade experiência para o futebol brasileiro, que eu acho que vive um momento de nível muito alto no Campeonato Brasileiro, apesar que a organização poderia ser melhor pra valorizar jogadores e equipes. Aí entramos em número de jogos, calendários, treinador pra lá e pra cá, gramado, logística, tudo o que sempre foi debatido. Não vou entrar no mérito, mas é um movimento que pode aumentar potencial do Campeonato Brasileiro, porque futebol brasileiro é muito amplo, mas o campeonato tem um poder muito grande. Penso que não é totalmente aproveitado, mas a vinda desses jogadores traz muito holofote, visibilidade e qualidade.

Acha que o futebol brasileiro não tem o nível de excelência e não é bem aproveitado pela organização?

Acho que sim, mas é muito difícil. Se me perguntar qual é a solução não sei, nunca parei pra pensar em uma alternativa. Mas uma coisa que gosto de falar do Brasil e futebol brasileiro em debates lá fora é que se eu fosse diretor de um clube europeu, um clube que não fosse dos tops, iria vir pro Brasil vasculhar Série C e D. O que tem de jogador de qualidade é incrível. Eu falo isso lá fora com muito orgulho: 'Lá tem muito cara bom de bola'. Um exemplo é o Cristiano, o lateral-esquerdo do Sheriff, acho que era do Volta Redonda. Imagina, vi fazendo uns jogos, uma qualidade de cruzamento incrível, uma técnica. Quer dizer, um cara que era do Volta Redonda, sem desmerecer o Volta Redonda, clube tradicional, nem sei a divisão hoje, mas é um clube que se for lá tem cara de qualidade. Série C, D, clube sem divisão, tem cara de qualidade. Acho que tinha de buscar maneiras de potencializar isso, que esses talentos emerjam, não fiquem escondidos e apareçam. Isso só fortalece o nosso futebol.

Hulk, seu companheiro no Porto, está fazendo estrago positivo a favor do Atlético-MG, líder disparado do Brasileirão (Danilo interrompe):

Desculpa cortar, mas o bacana disso e engraçado no caso do Hulk, o que ele está fazendo no Atlético-MG agora é o que fez em todas equipes que passou e talvez até melhor, porque era mais jovem, rápido, potente. Natural. O Hulk, por exemplo, era um jogador que não era reconhecido da maneira que deveria no Brasil. Jogou no Porto, Zenit, na China. Tudo o que está fazendo agora, esse estrago positivamente, fez em todas equipes. Então é um movimento legal pro brasileiro conhecer verdadeiramente os jogadores, porque nós saímos muito cedo. Eu falo por mim: a torcida do Santos daquela época se lembra muito, a do América-MG também, mas a partir de então estou há dez anos na Europa. É natural que não conheça história do atleta, o potencial jogando a cada semana, o que o jogador pode fazer. Então é muito engraçado e interessante porque dá oportunidade dos torcedores e imprensa esportiva acompanharem e conhecerem verdadeiramente o atleta.

Daniel Alves decidiu não jogar até o fim do ano e o objetivo dele é a Copa do Mundo de 2022. Como viu essa decisão? É um parceiro e concorrente de posição, talvez inspiração pra você... (Nota da Redação: a entrevista foi gravada antes de o Barcelona anunciar a volta de Daniel Alves).

Se tomou essa decisão certamente tinha os motivos dele, o porque de fazer isso. É um cara muito inteligente, sabe muito não só de futebol. Também procuro não me alienar no mundo do futebol, buscar outras coisas, viver outras experiências, porque uma hora vai acabar a carreira e vai ficar perdido no mundo? Não é por aí. O Dani é um espelho nesse sentido, e também futebolisticamente. É muito maneiro tê-lo por perto, extremamente competitivo. Na idade dele o treino dele é 120%, a forma como fala, como lidera, bacana de se espelhar.

As decisões técnicas da comissão e o Tite buscam valorizar e oportunizar quem está melhor na avaliação deles. O Emerson não é futuro, é presente. Titular do Tottenham, antes Barcelona, temporadas no Bétis de nível muito bacana, Atlético-MG. Estamos bem servidos. Claro que ter o Dani é incrível, cada momento com ele. E momentos com Emerson agrega muito pra gente. Meu papel é um pouco fazer o que o Dani fazia comigo, ser inspiração para ele como como trabalho, liderança e assim vamos galgando degrau a degrau.

Como é essa relação com o Alex Sandro? Vocês jogaram juntos no Santos, Porto, Juventus e seleção brasileira.

Meu irmão, minha família, criamos uma amizade diferente de tudo. Realmente nossas famílias são muito amigas. Ele é padrinho do meu segundo filho. Quando estou com os pais dele sinto essa energia e me tratam como filho deles, assim como meus pais a ele. Criamos uma amizade muito incomum. Valorizo muito e espero levar pro resto da vida. Temos perfis diferentes. Ele é muito introvertido, mais na dele, fala pouco. Eu sou mais comunicativo, gosto de conversar e sou mais brincalhão. Nos demos muito bem, respeitamos e temos muita história de vida juntos. No Santos sempre, no Porto na concentração com dois em cada quarto ele no começo levava Trakinas e não me dava (risos). Depois na Juventus ele seguiu caminho dele e eu o meu, mas mesmo assim sempre falamos e encontrando. Depois, quando tive a oportunidade de ir pra Juventus, ele me recebeu de braços abertos. Tenho curiosidade de saber quantos jogos jogamos juntos.

Seleção brasileira agora tem uma nova geração com Antony, Raphinha e Vinicius Junior. O que tem achado dessas novidades? Dá gosto de vê-los jogar...

'Tô' satisfeitíssimo, dou a bola pros moleques e fico no suporte. Vai pra cima (risos). É muito bacana até pra nós que temos um tempo na seleção e no futebol. É importante ter esse tipo de companheiro perto porque trazem muito entusiasmo, estão sorrindo o tempo inteiro, o ambiente fica leve. Isso é mostrado em campo com o futebol deles. Além do que estão demonstrando em campo, eles têm um efeito muito positivo nos outros atletas em termos de entusiasmo, de sangue novo. Espero que continuem com essa mentalidade de jogar futebol pra se divertir, porque assim produzem o máximo pra eles, seleção e é positivo pra todos.

O Kaio Jorge saiu do Santos e foi para a Juventus. Você deve ter dado dicas a ele, porque é normal se apegar aos brasileiros como referência quando chega num lugar novo...

É um garoto que não tinha visto jogar muito. Mas muito bem recomendado por quem falava de futebol. Ele é muito tranquilo, sereno, trabalhador, tem vontade de aprender. Esse ano não está dando muito tempo de treinar com concentração e jogos. O Kaio vem tendo oportunidades curtas, nos finais de jogos assim, mas tem correspondido até bastante. É um jogador que segura bem a bola, tem técnica e é muito acima da média, tem um timing de passe muito interessante. Atacante não é só dominar e devolver a bola. É dominar e esperar a movimentação defensiva e aí sim devolver a bola. Tem todo um timing. Entrou em final de jogo com o time precisando de uma via de escape, segurou a bola com personalidade, não perdeu, sofreu falta, aportou entusiasmo. Estou muito curioso pra ver ele jogar mais. Espero que possa se adaptar o mais rápido possível na Juventus, tenho certeza que todos estão satisfeitos.

Como foi ter o Cristiano Ronaldo saindo da Juventus? Imagino que tenha ficado um vazio...

Qualquer time que ele deixar no mundo vai sentir falta. Não tem jeito, os anos passaram e ele continua letal. Os números não mentem. Na mínima oportunidade é gol. Não tem história, conversa. É assim e pronto, acabou. Ele é extremamente competitivo. Pude aprender muito ao lado dele. Criei uma proximidade muito bacana dele no Real e na Juventus ainda mais. Vai e está fazendo falta, mas a Juventus tem a capacidade e DNA de se reerguer, com muito trabalho e sacrifício para poder alcançar vitórias. O Cristiano sabe disso.

Publicidade