Ao longo de sua carreira recheada de recordes, títulos e grandes feitos, Cristiano Ronaldo ganhou o apelido de Robozão, tamanha era a constância com a qual marcava gols. A frieza no comportamento, salvo alguns sorrisos quando via sua imagem refletida em algum telão, e a dedicação quase que extra-humana para manter o preparo físico em dia reforçava a impressão de que o dono da camisa 7 era, na verdade, um ciborgue. Mas aos 37 anos e vendo o status de titular mudando tanto em seu antigo clube, quanto – mais impressionante ainda! – na seleção portuguesa, CR7 voltou a mostrar o óbvio: não é uma máquina. Desaba e chora, como fez naquela que foi sua última partida de Copa do Mundo.
Portugal foi eliminado nas quartas de final do Mundial do Qatar após derrota por 1 a 0 para a seleção marroquina, a grande surpresa desta Copa. O atacante Youssef En-Nesyri aproveitou a saída atabalhoada do goleiro português Diogo Costa, após cruzamento, para fazer o gol e, com a vantagem no placar, a melhor defesa da competição conseguiu segurar o ímpeto português até o final para entrar para a história como primeira equipe africana a alcançar as semifinais do maior de todos os torneios.
A reação de CR7 ao ver o gol marroquino foi a de encher as bochechas de ar, antes de soprar a tensão para fora na conversa tida no banco de reservas de Portugal. Pela segunda vez em sua história de Mundiais, Cristiano não era titular. Na primeira, no compromisso anterior contra a Suíça, o veterano, sem clube, viu o jovem Gonçalo Ramos emplacar três gols na vitória por 6 a 1. Com a equipe portuguesa desesperada por um gol de empate contra o Marrocos, Cristiano Ronaldo entrou em campo no início do segundo tempo, substituindo o meio-campista Ruben Neves. Mas além de não ter conseguido decidir com gol, CR7 pouco conseguiu contribuir para a melhora do ataque português.

Nos cerca de 40 minutos em que esteve em campo, Cristiano Ronaldo foi o jogador de Portugal que menos tocou na bola: 10 vezes, sendo que em uma destas oportunidades, quando se aventurou como pivô, entregou a bola para João Félix obrigar o marroquino Bono a fazer grande defesa. Também conseguiu finalizar uma vez a gol, pressionado pelos adversários antes de um chute não muito impressionante. Quando, no desespero, os lusos passaram a cruzar bola atrás de bola na grande área, na esperança de que CR7 alçasse algum voo daqueles inalcançáveis para testar ao fundo das redes, o grande protagonista não conseguiu aparecer.

Quando o árbitro soou o apito final, sacramentando a decepcionante eliminação de uma seleção portuguesa que se permitiu sonhar até com título, algo impensável décadas atrás, Cristiano Ronaldo desabou, mas desabou rapidamente. Não tardou muito em se levantar e levantar a cabeça, mostrando um semblante sério, robótico, sem expressar tantas emoções. O choro começou a aparecer quando já deixava o gramado, talvez com a noção de que foi seu último ato de Copa do Mundo. As lembranças de outros mundiais, os vários companheiros de time e o sonho de título interrompido, agora pela última vez.


Já fora dos gramados, no túnel de acesso aos vestiários, o semblante de Cristiano mudou completamente para a de um choro de despedida. Uma imagem de dor, tocante pelo significado que carrega em si: o adeus, de um dos maiores, ao maior dos torneios.

Cristiano Ronaldo sempre será lembrado pelo apelido de Robozão, mas este 2022 e especialmente a Copa do Mundo do Qatar mostraram o lado mais humano do jogador: o atacante deixou o seu clube e não conseguiu encontrar outras equipes europeias, perdeu a titularidade até mesmo na seleção, onde a mínima possibilidade disso acontecer parecia impossível, permaneceu no banco de reservas e comemorou os gols portugueses, sem deixar o estádio em meio a algum surto de seu ego, entrou em campo, tentou e não conseguiu ser o que um dia já foi. Mas foi o dolorido choro de despedida de Copas do Mundo que ficou como imagem deste CR7 mais humano, em todas as suas lutas, do que a figura do invencível Robozão.
"Por agora, não há muito mais a dizer. Obrigado, Portugal. Obrigado, Catar. O sonho foi bonito enquanto durou… Agora, é esperar que o tempo seja bom conselheiro e permita que cada um tire as suas conclusões", escreveu Cristiano Ronaldo, em mensagem publicada nas suas redes sociais.