Quando alguém se lembra de Javier Mascherano em seu ápice, as imagens que vem na cabeça normalmente estão acompanhadas de sangue.
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Seja com um corte profundo no seu supercílio ou rompendo seu ânus para impedir a progressão dos jogadores adversários, o ex-jogador de Liverpool, Barcelona e da seleção argentina foi conhecido como um atleta que sempre deixou de tudo em campo para levar o seu time a vitória.
'El Jefecito' (o Pequeno Chefão), além de um ídolo visceral por todos os lugares onde passou, foi muito mais do que isso: com Mascherano abandonando o futebol, pode-se dizer, claramente, que o meio-campista foi, junto de Lionel Messi, o argentino mais completo de sua geração e um jogador extremamente talentoso dentro de campo.
"Eu gostaria de anunciar que estou me aposentando do futebol profissional," contou o atleta de 36 anos em entrevista coletiva ao final da derrota por 1 a 0 do Estudiantes diante do Argentinos Juniors, neste último domingo (15). "Quero agradecer a este clube, que me deu a oportunidade de encerrar minha carreira na Argentina."
GettyUma derrota triste em um estádio vazio jogando por um time que pouco anima sua torcida certamente não é o melhor adeus para um jogador que representou seu país em quatro Copas do Mundo e foi uma peça fundamental em uma das melhores equipes da história do futebol, o Barcelona de Pep Guardiola.
Mas o número de homenagens que chegaram ao redor do planeta em reação a decisão do atleta dão conta de que Mascherano foi único: um exemplo tanto como jogador, tanto como uma pessoa.
Como um atleta, sua ética e intensidade obviamente chamam a atenção. Mascherano era um "peso pena" que lutava como um Tyson ou Holyfield, compensando sua estatura diminuta com agressividade e força física, ao mesmo tempo que raramente perdia a cabeça e era violento com seus companheiros de trabalho.
No Barcelona, fez uma transição perfeita de volante de marcação para zagueiro construtor, servindo como a dupla perfeita para um 'beque tradicional' como Gerard Piqué.
É fácil subestimar a dificuldade de realizar uma mudança deste tamanho, com 26 anos, ao mesmo tempo que compete diante dos melhores do mundo, mas Mascherano aceitou o desafio e foi peça chave da defesa blaugrana por quase uma década.
"O clube assinou com um jogador, que para mim, como treinador, eu não trocaria por ninguém," Guardiola ressaltou em 2012. "Eu nunca o venderia. Ele é único. É fundamental para nós."
Uma mudança diferente também esperava por Mascherano na seleção argentina. Após o fiasco que foi a Copa América de 2011, o novo treinador da equipe, Alejandro Sabella, tomou a decisão de tirar a faixa de capitão do meio-campista e a dar para Messi, esperando uma postura de mais liderança do craque do Barcelona com a camisa albiceleste.
A decisão, que não gerou nenhuma polêmica, só terminou assim devido a humildade e generosidade de Mascherano em abrir mão da honra que havia recebido do ídolo máximo Diego Maradona, antes da Copa do Mundo de 2010.
"Ele foi o primeiro a concordar com a decisão," Messi relembrou para a TyC Sports, após aceitar a braçadeira.
Getty ImagesO nativo de San Lorenzo continuou sendo o líder da Argentina dentro de campo, mesmo sem ser o capitão. Sua influência e liderança o fizeram continuar sendo convocado para a seleção mesmo após suas habilidades começarem a diminuir, culminando em sua aposentadoria na equipe albiceleste após a Copa do Mundo de 2018.
Foi difícil, porém, para qualquer um esquecer a atitude heróica que teve quatro anos antes, no mundial do Brasil, puxando e arrastando seus companheiros pelo pescoço e exigindo que eles continuassem lutando até o final.
Certamente, assim que a forma física impecável de Mascherano começou a declinar, sua decisão em deixar o Barça em 2018 pela Superliga Chinesa e, eventualmente, terminar a carreira no Estudiantes, representam a personalidade de um atleta comprometido em sempre dar o melhor para seu clube - mesmo que o melhor fosse a sua saída.
Ainda no seu ápice pela Argentina, ainda fica uma dúvida no ar: será que sua personalidade e talento não seriam melhor utilizadas na primeira linha defensiva?
Assim, 'El Jefecito' poderia ter sido ainda mais útil assumindo um papel de zagueiro, como foi no Barcelona, dado os problemas da seleção argentina na posição.
Getty ImagesA decisão de utilizá-lo como volante fez com que a Albiceleste continuasse tendo um ponto fraco, ao contrário de seus rivais: outras seleções que brigavam pelo título mundial já estavam acostumadas a ter um camisa 5 que mais construísse do que destruisse.
Isso, discutivelmente, é parte da explicação do porquê de Messi, tendo que construir a partir da defesa, tem dificuldade em recriar sua carreira fantástica no Barcelona pela seleção da Argentina.
É fácil tirar tais conclusões com o benefício da retrospectiva, porém. O que é inegável é que Mascherano sempre estava lá pela seleção, batalhando e lutando quando seus companheiros de equipe mais talentosos sumiam da partida.
Os números falam por si. Quase 20 títulos pelo Barcelona, 147 jogos pela Argentina - um recorde - e mais de uma década como um dos melhores jogadores do planeta, tanto na Premier League quanto na La Liga.
Ainda que os aplausos tenham sido destinados para seus companheiros, muitas vezes, nem os catalães nem os argentinos teriam sido tão formidáveis sem que 'El Jefecito' estivesse lá, com sangue, coração e tudo.