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Neymar Santos return GFXGetty/GOAL

De Menino Ney a Tio Ney – retorno de Neymar ao Santos pode dar ao craque uma despedida dos sonhos após uma carreira subestimada

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A carreira de Neymar não deveria perder força e desaparecer nesta altura, com o jogador tendo apenas 32 anos. Em um cenário talvez mais justo, ele ainda estaria brilhando na Champions League, acumulando títulos importantes por clubes e pela seleção, e apenas começando a entrar na reta final da carreira, ainda como um jogador decisivo no mais alto nível.

Por uma série de razões – lesões, escolhas ou simplesmente o acaso – esse não foi o caminho que se concretizou. Em vez disso, Neymar está retornando ao Santos, o lugar onde iniciou sua história, sem custos de transferência entre clubes. Seu contrato com o Al Hilal, da Arábia Saudita, foi rescindido esta semana, encerrando uma passagem de 17 meses marcada por apenas sete partidas e considerada uma das piores transferências de todos os tempos.

Para viabilizar o retorno ao Brasil, Neymar aceitou uma drástica redução salarial, movido pelo desejo de reencontrar suas raízes e recuperar a paz. Os últimos 18 meses foram turbulentos, com uma grave lesão no joelho e duas despedidas pouco gloriosas – primeiro do Paris Saint-Germain e agora do Al Hilal.

Ao longo da carreira, Neymar se tornou um dos jogadores mais famosos de sua geração. Talvez agora, diante de um novo capítulo, seja hora de deixar as polêmicas de lado e reconhecer, de fato, à sua grandeza.

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  • FBL-RECOPA-SANTOS-U. DE CHILEAFP

    O último "jogador de YouTube"

    O Santos percebeu rapidamente o talento de Neymar, que já chamava atenção aos 14 anos, quando o então garoto foi oferecido para um teste no Real Madrid. Três anos depois, ele estreava na equipe principal e, em sua primeira temporada, já marcava dezenas em gols, despertando o interesse de Chelsea e West Ham.

    Fora da convocação para a Copa do Mundo de 2010, Neymar usou a frustração como motivação. Na temporada seguinte, balançou as redes 42 vezes em 60 jogos e levou o Santos à conquista do Campeonato Paulista. O brilho continuou com a tão aguardada Copa Libertadores, o primeiro título do clube no torneio desde os tempos de Pelé, em 1963.

    Foi nesse momento que o mundo passou a acompanhar Neymar de perto. A glória continental já bastava para colocá-lo sob os holofotes, mas ele foi além ao vencer o Prêmio Puskás da FIFA com um gol espetacular. Ao receber a bola na esquerda, cercado por dois marcadores, passou entre ambos, tabelou, avançou com dribles rápidos e finalizou com um toque sutil por cima do goleiro, consolidando um dos lances mais icônicos de sua carreira.

    Mesmo atuando longe do centro do futebol europeu, Neymar se tornou um fenômeno global. Seus lances eletrizantes dominavam o YouTube, e os vídeos de suas jogadas virais faziam dele um ícone antes mesmo de pisar nos grandes palcos europeus.

    Após mais dois anos no Santos, chegou o momento da grande mudança: Neymar fechou com o Barcelona para formar uma dupla dos sonhos ao lado de Lionel Messi.

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  • FBL-EUR-C1-JUVENTUS-BARCELONA-FINAL-TROPHYAFP

    Grande separação do Barcelona e 'MSN'

    Embora a temporada 2013/14 do Barcelona tenha sido discreta – o único troféu veio na Supercopa da Espanha, conquistada contra o Atlético de Madrid com um gol fora de casa de Neymar –, o brasileiro teve um primeiro ano sólido na Europa, preparando o terreno para futuros sucessos. Não se tratava de um prodígio passageiro, frágil demais para triunfar na LaLiga, mas sim de um ponta deslumbrante que justificava o preço do ingresso.

    A base estava pronta, e com a chegada de Luis Suárez em 2014/15 – após cumprir sua longa suspensão por morder Giorgio Chiellini –, o trio de ataque estava completo.

    Messi, Suárez e Neymar. 'MSN'. Um ataque que podia fazer tudo. Se o Barça dobrasse o preço dos ingressos, ninguém poderia reclamar. O entrosamento era perfeito, e o futebol, vitorioso. O trio levou o Barcelona a um histórico triplete em 2015 e a um doblete nacional na temporada seguinte.

    Se parecia haver um limite para quantos gols três atacantes poderiam marcar juntos, o MSN provou o contrário. Em 2014/15, Messi fez 58 gols, Neymar 39 e Suárez 25. Na temporada seguinte, os números aumentaram: 41 para Messi, 31 para Neymar e impressionantes 59 para Suárez. O Barcelona era simplesmente imperdível.

  • UD Las Palmas v FC Barcelona -Getty Images Sport

    Subestimado pelas massas

    Nos bastidores, porém, nem tudo ia bem para Neymar. Desde os tempos de Santos, ele sonhava em ser o melhor jogador do mundo — algo impossível enquanto não fosse nem o principal nome do próprio time.

    A sombra de Messi pairava sobre Neymar e Suárez, mas apenas o uruguaio parecia confortável com isso. Embora o brasileiro tenha negado que essa fosse a razão de sua saída do Barcelona, o tema foi amplamente discutido no verão de 2017. A falta de reconhecimento por seu papel decisivo na histórica virada contra o PSG — a icônica 'La Remontada', com vitória por 6 a 1 na Champions — também teria sido um fator na decisão.

    Com Messi consolidado como lenda do Barcelona e Suárez já uma estrela desde os tempos de Premier League, Neymar se via como a peça menos celebrada do trio. No fim, era apenas o 'N' no final do 'MSN'.

  • FBL-ESP-LIGA-BARCELONA-FRA-LIGUE1-PSG-NEYMARAFP

    Mudança recorde mundial

    O Barcelona não precisava vender Neymar — a menos que um clube pagasse sua cláusula de rescisão de €222 milhões de euros, mais que o dobro do recorde de transferência da época. Poucos acreditavam que isso realmente aconteceria.

    Mas o PSG apareceu e fez exatamente isso. O clube depositou a quantia nos escritórios da LaLiga, ativando a cláusula de rescisão e selando a maior contratação desde Zlatan Ibrahimovic, cinco anos antes.

    Explicar a mudança de Neymar sem parecer absurdo era difícil, até para um fã casual de futebol. Por que trocar um dos melhores times da Europa por um nível abaixo? Por que deixar a dominante liga espanhola pela menos prestigiada Ligue 1 francesa? As respostas mais óbvias eram a busca por protagonismo e o dinheiro, embora Neymar tenha dito depois que queria jogar ao lado do forte contingente brasileiro no PSG.

    Na primeira metade da temporada 2017/18, Neymar teve um desempenho avassalador. Em 30 jogos, marcou 28 gols e deu 16 assistências, participando de um gol a cada 62 minutos — números dignos de Messi. No entanto, sua campanha foi interrompida em março por uma fratura no metatarso. Sem ele, o PSG caiu diante do Real Madrid nas oitavas da Champions, e suas atuações foram rapidamente esquecidas.

    O cenário se repetiu no ano seguinte: outra lesão o afastou de uma eliminação precoce, desta vez contra o Manchester United. Quando o PSG finalmente quebrou a barreira e chegou à final europeia em 2020, o time sucumbiu sob pressão. O Bayern de Munique venceu por 1 a 0, com Kingsley Coman — um jogador formado no próprio PSG — marcando o gol decisivo. Para Neymar, parecia que a glória na competição nunca chegaria.

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    Triste declínio

    O PSG nunca se recuperou totalmente daquela derrota para o Bayern. E a ambição de Neymar de conquistar a Bola de Ouro desmoronou à medida que Kylian Mbappé assumia o protagonismo no clube. A temporada 2020/21 foi caótica: Thomas Tuchel foi substituído por Mauricio Pochettino no meio do caminho, e o PSG perdeu o título francês para o Lille.

    Para aumentar a ironia, Messi se juntou a Neymar novamente após ser forçado a sair do Barcelona. Mas a tentativa de reviver a velha dupla foi frustrada. Nem ele, nem Neymar estavam no auge, e Mbappé não tinha o perfil intenso e altruísta de Suárez para completar o trio.

    Ano após ano, Neymar lidava com lesões e queda de rendimento. Quando Messi decidiu trocar o PSG pelo Inter Miami em 2023, ficou claro que o brasileiro também estava de saída. O clube queria reformular o elenco com foco em jovens franceses, e Neymar não fazia mais parte dos planos.

    A única proposta concreta veio da Liga Saudita, que o designou ao Al Hilal como sua nova estrela. Perto do fim da janela de transferências, ele aceitou a oferta de €90 milhões de euros. Mas então veio o desastre.

    Convocado pela seleção brasileira, Neymar rompeu o ligamento cruzado anterior e o menisco. Para um jogador técnico e já na casa dos 30 anos, a lesão era um golpe quase fatal para a carreira em alto nível — ainda mais com seu histórico médico. Quando finalmente voltou, sofreu outra queixa no tendão. O Al Hilal optou por não registrá-lo para o restante da temporada.

    Fim de jogo.

  • Croatia v Brazil: Quarter Final - FIFA World Cup Qatar 2022Getty Images Sport

    Sucesso internacional minado

    As aventuras de Neymar com a seleção brasileira seguiram um roteiro parecido com sua trajetória nos clubes: momentos de brilho individual, mas sem a consagração máxima. Seus únicos títulos com o Brasil vieram na Copa das Confederações de 2013 e no ouro olímpico de 2016. A Copa do Mundo e a Copa América, porém, sempre escaparam de seu alcance.

    Ele era a grande estrela em 2014, mas uma lesão nas costas encerrou seu torneio prematuramente — e sem ele, o Brasil sofreu o inesquecível 7 a 1 contra a Alemanha. Em 2018, voltou de uma fratura no metatarso sem estar 100% fisicamente e caiu nas quartas de final diante da Bélgica de Eden Hazard.

    O Mundial de 2022 trouxe a eliminação mais amarga. Um Brasil inconstante, muito dependente de Neymar e Richarlison, chegou às quartas de final como favorito contra a Croácia, sonhando com uma possível semifinal contra Messi e a Argentina. Quando Neymar marcou um golaço na prorrogação, lembrando o lance que lhe rendeu o Prêmio Puskás anos antes, parecia que a vitória estava garantida.

    Mas o time desligou. Em vez de administrar o jogo, avançou de forma desnecessária e permitiu o empate de Bruno Petkovic, levando a decisão para os pênaltis. Rodrygo e Marquinhos desperdiçaram suas cobranças, e a seleção caiu por 4 a 2.

    Neymar ainda poderia tentar a sorte em 2026, mas o Brasil vive um de seus momentos mais instáveis como equipe, e ele já não é mais o mesmo jogador.

  • FB-WC-2026-SAMERICA-QUALIFIERS-BRA-TRAININGAFP

    Hora de se divertir novamente

    Voltar ao Santos nunca pareceu impossível – e agora é realidade. A preparação para a Copa do Mundo de 2026 pode ser um fator, mas nem precisa ser encarada dessa forma.

    Percebe o que aconteceu? A carreira de Neymar foi tão turbulenta, envolta em narrativas e polêmicas, que o futebol em si muitas vezes ficou em segundo plano. E mesmo sua volta ao Santos é cercada por essa aura. Mas, desta vez, há algo diferente.

    Agora, o mundo pode simplesmente aproveitar Neymar pelo jogador que ele é, sem o peso das expectativas irreais. Os fãs europeus podem acordar e vê-lo driblando defensores em vídeos 4K nas redes sociais. Não há mais a cobrança de entregar no mais alto nível. Se ele for metade do jogador que era há 18 meses, ainda será suficiente.

    Por 90% da carreira, Neymar foi tanto um enredo quanto um atleta. Agora, ele e o futebol podem simplesmente coexistir. Não há mais necessidade de analisar cada erro com cinismo ou lamentar o que poderia ter sido. No fim das contas, o futebol também precisa de histórias que simplesmente tragam alegria.

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